terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cachorro precisa de um lar urgente!






No último sábado encontrei um cachorro abandonado na minha rua. Ele é um Fila e deve ter dois anos no máximo. Resolvi chamá-lo de "Macca", uma singela homenagem à passagem do nosso querido Sir pelo nosso país.

Como estava muito frio, levei "Macca" para um hotel de cachorro (www.doghotelcarinho.com) e já deixei pago 30 dias. Este é o prazo que tenho para encontrar um novo lar para este cachorro, que apesar do tamanho é muito, mas muito doce mesmo.

Eu adoraria dar um lar para "Macca", onde viveríamos cantando músicas dos Beatles, mas eu não tenho casa nem para mim, quiça para o cachorro. Por isso, peço a ajuda de todos os meus amigos e amigos dos amigos para achar um lugar onde ele possa receber todo o amor que merece.

Muito obrigada!

UPDATE:
Macca encontrou um lar e está muito feliz.

sábado, 3 de abril de 2010

Soon enough



And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible.

E eu amo o fato que você é a última pessoa que eu quero falar antes de dormir à noite. E não é porque me sinto sozinha ou porque é Ano Novo. Eu vim aqui esta noite porque quando você se dá conta de que quer passar o resto da sua vida com alguém, você quer que o resto da sua vida comece o mais rápido possível.


Billy Crystal as Harry in When Harry Met Sally

segunda-feira, 29 de março de 2010

Paz para os homens de bem



Era uma manhã de sábado e eu estava de férias na casa do meu pai. Estávamos falando da vida, que entrou em política, passou para esporte e foi assim, que no meio da sala, eu, estudante de jornalismo do 3 ano, descobri a existência do Armando Nogueira.

- Minha filha, como você não sabe quem é Armando Nogueira? Ainda bem que eu não pago a sua faculdade, porque, se pagasse eu simplesmente iria parar de pagar. Quem você pensa que é para estudar jornalismo e não saber quem é Armando Nogueira?

Se não era, meu pai era um dos maiores fãs do Armando Nogueira. Ficou indgnado por eu não saber quem era seu ídolo, mas ficou feliz com a possibilidade da filha dele (sim, eu) ser repórter de esporte, ou melhor, repórter de futebol (o que não virei e acho que o frustrei).

Desde 2001 eu virei fã do Armando Nogueira. Lia sua coluna no Estadão e adorava o seu programa no Sportv, que apesar de ser sobre esporte, ao mesmo tempo não era: lembro de um dia que ele levou a Barbara Heliodora e o Sábato Magaldi para falar sobre Nelson Rodrigues.

Meu pai contava que viu uma vez uma entrevista do Brizola falando que o Armando não manipulou as matérias da Globo durante as eleições de 89. "Não tu Armando, que é honesto, eles manipularam", disse Brizola, com aquele sotaque de gaúcho carregado.

Me impressionava a desenvoltura que ele tinha em todos os assuntos: dominava não só esporte como política, economia, teatro, cultura (e eu pensava: será que um dia vou ser capaz de trabalhar assim, falando de tudo?). Não sei do meu futuro, nem do jornalismo. Sei que hoje estou triste porque uma das melhores partes da profissão se foi. Em paz, muita paz, acredito eu.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Porto Seguro

Cena 1. Rua da casa da IVY. Dia. Ext. A chuva que cai faz com que a rua da casa da IVY fique cheia d' água, mas tão cheia que não dá para passar. IVY começa a dar ré quando um MOTOQUEIRO para ao seu lado.

MOTOQUEIRO: Moça, não vai para lá não, tá perigoso.

IVY: Mas moço, eu moro nesta rua, ali na frente. Se eu deixar o carro na rua de cima e ir a pé não dá para eu chegar em casa?

MOTOQUEIRO: Não dá moça porque eu tentei passar de a pé ali e quase fui arrastado. E todas as ruas já estão alagadas. Vai para um lugar seguro para esperar a rua passar.

IVY: Moço... onde tem lugar seguro em São Paulo quando chove?

MOTOQUEIRO não sabe o que responder e dá um tchau de boa sorte. IVY fica sem saber o que fazer, dá ré e pensa em um lugar para ir no bairro. Fade out.

segunda-feira, 22 de março de 2010

She doesn´t live here anymore


O que mais me impressiona no caso Isabella não é mais a brutalidade da morte, mas sim a vida da menina.

Desde o dia 29 que minha mãe, meu pai, meu tio, meu irmão, o Brasil e quiçá o mundo conhece esta menina: já vimos todas suas fotos, descobrimos como chamava seu tio, sua escola, sua família, as circunstâncias em que veio ao mundo. Descobrimos que ela era uma menina doce, carinhosa e obediente e que tinha um quarto lilás, com um baú da Hello Kitty e que o tema do seu próximo aniversário seria as princesas da Disney. Descobrimos que ela era muito sorridente e encantava a todos, gostava de macarrão e salada de alface. De repente, esta menina se tornou uma velha conhecida. Sua vida e seus gostos ficaram famosos tal e qual se ela tivesse saído do Big Brother. Os detalhes de sua vida são tão fascinantes como se ela fosse uma celebridade que nos conquistou instantaneamente. Passamos, todos nós, a amar- de um jeito ou de outro- esta menina, que, morta, acabara de entrar em nossas vidas.

Isabella passa a ser a filha da nossa vizinha, a amiguinha do sobrinho, aquela menina que pega o mesmo transporte com o nosso filho. Ela agora toma corpo e ganha vida na nossa rotina. Parece, a cada instante, ser real, tamanha a freqüência que entra em nossas casas. E o mais estranho em conhecer cada vez mais Isabella é saber que nunca a conheceremos. E que ela, que parece tanto estar viva entre nós, aquela menina logo ali, infelizmente, não está mais lá.

Este texto foi escrito e publicado em 21 de abril de 2008. Minhas impressões sobre o caso continuam as mesmas.

quinta-feira, 11 de março de 2010

30 is the new black



Eu acho que foi em 1978 que o IBGE (sorry, não vou explicar aqui a sigla, to de folga) mostrou, com base em uma série de dados completamente estatísticos, que o brasileiro vivia, em média, 65 anos. Naquele tempo, era normal um homem morrer com 45 anos. Velhinhos eram aqueles que tinham mais de 55 anos. A vida era um tédio mesmo. Não sei se fizeram alguma coisa com a água, mas o fato é que nós, brasileiros, passamos a viver mais. Bem mais. A nossa expectativa de vida praticamente dobrou, a média hoje é 80. Com 55 anos, as pessoas estão trabalhando a todo vapor. E, com 65 anos, as pessoas não tem nada de velhinhas (eu entrevistei um grupo de senhoras esta semana, não vou revelar a idade, porque não sou mal educada, mas eram todas bonitas, bem arrumadas e não aparentavam a idade- e trabalhavam, claro). A sociedade mudou e com ela os costumes sociais.

Será? Hoje, ao fim dos 28 anos, a sociedade me cobre que com 30 anos eu tenha:

a) uma carreira hiper ultra mega bem sucedida- o que eu não tenho (basta ver o meu holerite)
b) um MBA- que eu também não tenho
c) um marido- não vou nem comentar
d) um bebê- que eu também prefiro não comentar

Há 20 anos, era natural que a sociedade impusesse estas condições para os brasileiros e brasileiras, já que todos viviamos até uns 60 anos. 30, logo, era metade, portanto era importante ter feito metade da vida. Mas hoje...hello, 30 é o novo 20! Isso porque as pessoas estão demorando mais para morrer, o que significa que ainda tem muita coisa para ser feita e aos jovens que estão entrando na vida apenas acompanhar meio que de escanteio o movimento das coisas.

Com 30 anos é impossível ser o diretor da empresa em que se trabalha simplesmente porque o diretor, que tem 60, ainda não largou o osso e continua trabalhando. Fica praticamente impossível ter um marido e um bebê aos 30 porque como você não é diretora da empresa, você não tem dinheiro suficiente para sair da casa dos seus pais e pagar um apartamento e todas as contas mais (a menos que se queira viver na pindaíba, o que ninguém quer). Em resumo, ter 30 anos em 2010 é praticamente a mesma coisa que ter 20 em 1980: você está começando a vida.

E se 30 é o novo 20, qual seriam então os novos 30? Pela matemática pura e simples, seria o 40, mas ai com 40 aparecem novas pressões, que eu não faço a menor idéia de quais são porque eu ainda tenho 18 (estas contas básicas e úteis eu sei fazer) e não sei o que o futuro me espera. O que eu sei, por hora, é que como 30 is the new black and black is always in, eu pelo menos estou na moda- até a próxima década, eu espero.

Para Juliana Araripe e cia, que encenam brilhantemente algumas questões das mulheres de 30, bem vindas ao clube das blogueiras.

quarta-feira, 10 de março de 2010

!!!!!!!




12 (Provão 2002)- Na foto acima, qual a TL (texto legenda) mais apropriada para acompanhar a foto em um jornal noticioso diário:

a) Repórteres esperam sob um calor de 38 graus Celsius o presidente Lula sem almoço em Cubatão (Anônimo, 10/03/2010)
b) Um pouco da vida no chiqueirinho: repórteres aguardam o presidente Lula sem almoço em Cubatão (Anônimo, 10/03/2010)
c) Nada, a foto diz tudo

Há vagas



Será que ele está decupando a sonora do entrevistado?


Cena 1. Pauta no hospício. Dia. Int. REPÓRTER e FOTÓGRAFA vão ao hospício fazer matéria sobre as condições reais da instituição. Como agora todas as redações são multimídia, o REPÓRTER escreve, grava podcast e ainda passagem para a matéria do site enquanto a FOTÓGRAFA filma tudo. Muito nervoso, o REPÓRTER erra a passagem 29 vezes (isso mesmo, 29). Loucos que estão internados no hospício decoram a passagem e começam a repetir para o REPÓRTER, que fica mais nervoso ainda.

REPÓRTER(para os loucos): Vocês estão me desconcertando e me afrontando, vocês são loucos mesmo, por isso estão no hospício. Olha para mim, eu to aqui solto na rua.

Loucos riem desvaidaradamente. FOTÓGRAFA fica constrangida. DIRETOR DA INSTITUIÇÃO tenta um diálogo com ela.

DIRETOR DA INSTITUIÇÃO: Ele é sempre assim?

FOTÓGRAFA: É. Às vezes é pior. Teve uma vez que ele entrevistou o Gilmar Mendes achando que era o Henrique Meirelles e fez perguntas sobre o Banco Central no meio de uma coletiva.

DIRETOR DA INSTITUIÇÃO: Nossa, o caso é mais grave do que eu tinha pensado. Achei que era loucura no grau 1, mas pela sua descrição, ele deve ser louco de grau 2 (e observa o REPÓRTER, que agora pula e grita). Olhe, tome aqui o meu cartão. Dê para família dele e diga que temos vagas e condições plenas de trata-lo.

FOTÓGRAFA (completamente sem graça): Ah, obrigada doutor. Mas se eu levar para família dele, vou ter que levar para a família de metade da redação e ai depois eu vou ter que fazer matéria aqui de superlotação.

DIRETOR DA INSTITUIÇÃO não entende o que a FOTÓGRAFA disse: será que metade dos jornalistas da redação dela precisa de tratamento? Qual o tipo de patologia? Ele não consegue esconder que, como bom cientista, ficou extremamente curioso para estudar esta amostra social.

DIRETOR DA INSTITUIÇÃO: Como quiser...

FOTÓGRAFA sai para fumar um cigarro, REPÓRTER continua gritando, loucos rindo e DIRETOR DA INSTITUIÇÃO observa curioso a cena. Fade out.

Este roteiro da vida real NÃO é ficção. Para preservar a identidade dos profissionais, eu apenas troquei a mídia e o gênero dos envolvidos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Já que não dá para fugir da data V




Paulo Tadeu dos Santos Junior, estudante, 10 anos, é o genro que eu pedi a Deus (e olha que nem filha eu tenho!)

No dia internacional da mulher, homens vão às ruas de São Paulo pedindo direitos iguais

Ivy Farias
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Foi em Copenhague, na Dinamarca, que a Internacional Comunista decidiu, durante uma reunião com 100 mulheres de 17 países, a importância de criar um dia para chamar a atenção para o cumprimento dos direitos das mulheres.

Cem anos depois, o movimento feminista ganhou adeptos do sexo masculino nas ruas de São Paulo hoje (8): ao lado de mulheres, eles participaram de uma manifestação em homenagem a elas.

Há mais de 30 anos participando das passeatas e manifestações no dia 8 de março, o médico e vereador de São Paulo Jamil Murad foi ao Largo do Patriarca, no centro de São Paulo, para defender os direitos das mulheres.

"A luta pelos direitos e emancipação da mulher faz justiça não apenas para elas como para toda a sociedade, que fica melhor quando há igualdade entre os gêneros", afirmou. Para Murad, não é possível que haja um Brasil melhor sem "que a mulher tenha um papel de destaque".

Na passeata, estava também o balconista Laercio Severino da Silva. "A mulher é especial e o homem não vive sem ela. Por isso, acho que todas têm direito à saúde e ao respeito", disse.

Silva contou que está cuidando do seu filho de 3 anos sozinho porque a mulher teve que viajar para cuidar da mãe. "Homem não consegue dar conta de lavar roupa, criar filhos e ainda trabalhar. Hoje que estou nesta situação, vejo como as mulheres são importantes", relatou.

O secretário de Formação Política do Sindicato dos Trabalhadores das Autarquias de Fiscalização do Exercício Profissional e Entidades Coligadas no Estado de São Paulo (Sinsexpro), Paulo Rogério Prado, foi à passeata representar as trabalhadoras do seu sindicato e aproveitou para homenagear todas as mulheres. "Se não fosse por uma mulher, eu não estaria aqui."

Prado disse que sua presença na manifestação foi uma forma de lutar por um futuro melhor para suas duas filhas. "Estou plantando uma sociedade melhor, mais justa e igualitária para elas."

O estudante de direito Danilo Queiroz contou que, na faculdade, ao ter contato com representantes do movimento feminista, passou a entender "questões que não são óbvias para nós, homens". "De fato, a mulher é tratada como um objeto e é oprimida por esta sociedade machista", afirmou.

Para o estudante, uma forma de resolver os problemas que as mulheres enfrentam é a conscientização dos homens. "Acredito que haveria redução da violência doméstica se os homens fossem conscientizados que as mulheres precisam ser respeitadas", avaliou.

E é com o mesmo pensamento de Queiroz que a dona de casa Jozelma Araujo dos Santos educa Paulo Tadeu dos Santos Junior, 10 anos. Hoje, mãe e filho foram com camisetas da União Brasileira das Mulheres (UBM) às ruas do centro pedir pela igualdade dos sexos. "Eu acho que é meu dever como mulher e mãe ensinar os meus filhos de que homens e mulheres são iguais".

Ela disse que faz questão de ensinar ao filho que as mulheres devem ser respeitadas desde cedo. "Eu quero quebrar esta cultura machista através da educação que dou para o meu filho, quero que ele cresça aprendendo que cada um tem o seu espaço", afirmou.

No princípio, o marido de Jozelma era contra o menino participar da vida doméstica, ajudando em afazeres como lavar a louça ou arrumar a cama. "Ele [o marido] foi criado com outros valores, mas, depois, entendeu que o mundo mudou e, hoje, ele mesmo fala pro Junior ajudar em casa e não crescer com a mesma mentalidade", disse.

Para ela, a consciência dos homens mudaria o cenário da passeata no Largo do Patriarca. "A gente não precisa de tanta mulher, precisa do apoio dos homens e que eles passem a nos respeitar." No que depender de Jozelma, os próximos 8 de março seriam comemorados no “Largo da Matriarca”, e não do Patriarca.

Já que não dá para fugir da data IV

Eu não sou muito apegada a tradições. Mas se tem uma que eu tenho seguido é escrever neste blog sobre algum tema relacionado à mulher no Dia Internacional da Mulher. Em 2008, falei de como era difícil aprender a ser mulher e sobre como as mulheres eram muito competitivas e, na maioria das vezes, invejosas (já reparou como a publicidade usa a expressão "matar as amigas de inveja?" Eu não entendo para que matar as amigas e para que matar de inveja). No ano passado, eu falei que todas as conquistas que tivemos serviu apenas para nos dar opções de roteiros e não de obrigações: hoje nós podemos nos dar o luxo de sermos mocinhas e vilãs, com direito a ser autora de novela. E hoje eu pensei no que escreveria aqui: são tantas questões, violência contra a mulher, a participação da mulher no mercado de trabalho, a participação política, a falta de liquidações nesta época do ano (não é um absurdo que a gente não ganhe nem um descontinho?). E aí pensei em um tema que acho que ninguém fala no dia internacional da mulher: o homem.

Nós não somos sozinhas neste mundo. Eles, também conhecidos como vilões por ganharem mais que a gente e não ligarem no dia seguinte (salvo exceções), são os grandes responsáveis por todas as questões levantadas nesta data? Violência contra a mulher, por exemplo. Sim, é o homem que bate (e as pesquisas indicam que as maiores violências no ambiente doméstico não é mais por conta de relacionamentos amorosos e sim consequência do uso de drogas- o filho, surtado, bate na mãe, na avó, na irmã...). E o machismo? Quem é que fica desrespeitando o nosso espaço, dando cantadas horrorosas em pleno ambiente de trabalho, achando que somos todas "fáceis"? Os homens! E quem é que não traz bombom e flores? Eles, claro.

A minha pergunta neste meio todo é uma só: a minha mãe diz que as pessoas só fazem com a gente o que a gente deixa. Será mesmo? Eu vejo amigas sofrendo assédios fortissimos no ambiente de trabalho que nunca deram a menor ousadia. Vejo milhares de mulheres apanhando sem terem a menor culpa. E vejo que hoje, que era um dia importante para conscientizar o homem, a gente vê as mesmas propagandas e as mesmas matérias de sempre- todas para nós, nenhuma para eles.

Eu li uma vez que a única maneira em que uma mulher sucede bem ao tentar mudar um homem é quando ela está criando. Lembro da minha amiga Neila, que descobriu que esperava um menino e me deu a notícia garantindo que iria criar um homem digno, "que trate bem as mulheres que nem o pai dele". E fiquei me perguntando por que todas nós não passamos, a partir de agora, a conscientizar os nossos pais, amigos, filhos e namorados? Vai desde ensinar a não deixar a toalha molhada em cima da cama até a escrever e-mail dizendo que sim, você gosta de flores e bombons e ligações carinhosas. E, hoje, a minha reflexão do dia internacional da mulher é que nós passemos a olhar com mais atenção para os nossos homens, para, assim, mudar um pouco este estranho mundo em que vivemos. Quem sabe assim ganharemos um pouco mais, apanharemos menos (ou melhor, não apanhemos) e sejamos todos, homens e mulheres, mais felizes?

Feliz Dia Internacional das Mulheres para todas.

terça-feira, 2 de março de 2010

Trair e coçar...


Lindo e... burro! Sim, porque antes da Angelina ele traiu a Jennifer Aniston...

A minha amiga costuma dizer que homem que trai o pipi cai. Mas hoje eu achei um argumento a mais depois que li esta notícia no Terra:

Homens que traem as esposas e namoradas tendem a ter QI mais baixo e ser menos inteligentes, segundo um estudo publicado na revista especializada Social Psychology Quarterly. De acordo com o autor do estudo, o especialista em psicologia evolutiva da London School of Economics, Satoshi Kanazawa, "homens inteligentes estão mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes".

Kanazawa analisou duas grandes pesquisas americanas a National Longitudinal Study of Adolescent Health e a General Social Surveys, que mediam atitudes sociais e QI de milhares de adolescentes e adultos. Ao cruzar os dados das duas pesquisas, o autor concluiu que as pessoas que acreditam na importância da fidelidade sexual para uma relação demonstraram QI mais alto. De acordo com o estudo, o ateísmo e o liberalismo político também são características de homens mais inteligentes.

Evolução

Kanazawa foi mais longe e disse que outra conclusão do estudo é que o comportamento "fiel" do homem mais inteligente seria um sinal da evolução da espécie. Sua teoria é baseada no conceito de que, ao longo da história evolucionária, os homens sempre foram "relativamente polígamos", e que isso está mudando.

Para Kanazawa, assumir uma relação de exclusividade sexual teria se tornado então uma "novidade evolucionária" e pessoas mais inteligentes estariam mais inclinadas a adotar novas práticas em termos evolucionários - ou seja, a se tornar "mais evoluídas".

Para o autor, isso se deve ao fato de pessoas mais inteligentes serem mais "abertas" a novas ideias e questionarem mais os dogmas. Mas segundo Kanazawa, a exclusividade sexual não significa maior QI entre as mulheres, já que elas sempre foram relativamente monogâmicas e isso não representaria uma evolução.


Um argumento a mais para nós mulheres, é bom dizer, para gente parar de se sentir estúpida e ficar se perguntando o tempo todo o que fizemos de errado (que atire o primeiro chifre quem nunca se perguntou isso) quando formos traídas. A resposa é esta: quem trai é burro- e ponto final.

P.S.: Nós, mulheres, seres inteligentes e superiores, é que não vamos ficar com homem burro né? Se o cara tem fama, nem deite na cama e bote para correr. Ivy na sempre campanha pela monogamia.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Trim Trim



A única coisa boa de esperar em consultórios é ler revista, penso eu. Só um minutinho, dona Ivy, a doutora já vai lhe atender. Por que as pessoas sempre pedem um minutinho sendo que sempre demora mais que um minutinho? Ah, a pilha de revistas!

Claudia Leitte. Ivete Sangalo. Fernanda Lima. Por que as revistas femininas não colocam homem na capa? Os homens não colocam mulheres nas capas deles? Bem, o que estou pensando, estou no consultório da dermatologista, óbvio que só vai ter revista feminina. Como não sou de carnaval, vou de Fernanda Lima mesmo.

Folheio uma página. Duas, três, procurando alguma dica útil de beleza ou uma reportagem- barata- de moda. Uma, em particular, me chama atenção: será que o toque do seu celular espanta os homens? Espanta os homens? O que espanta homem hetero, meu Deus do céu? Eles já são iguais aos duendes, existem apenas na ficção, e agora a gente espanta eles? Pelo celular ainda por cima? Como é que é isso, meu Deus?

"Discreta? Descolada? Cafona? Exibida? É, minha cara, o toque que você escolhe para o celular se transformou no mais novo cartão de visita que carrega por aí. Da música que está no topo da parada de sucessos a mensagens estranhas, as possibilidades são infinitas. E os gatos usam, sim, essa moderna pista para sacar um pouco da personalidade da dona do telefone. Quer saber o que os bonitões andam pensando a seu respeito? "

Quer dizer que agora o meu celular, ou melhor, o toque do meu celular é cartão de visita? Desde quando isso? Por que ninguém me avisou? Deixa eu ler as opções.

Alternativa arriscada: “Quando ouço um celular tocando samba ou tecno, imagino na hora a garota em uma balada desse tipo”, revela Cássio Mairinque, 29 anos, designer. “E imediatamente penso se ela tem ou não a ver comigo.” Em outras palavras, você pode atrair pretendentes ou afastar os que não curtem o mesmo estilo de som. “Dependendo da música, confirmo minha impressão e me aproximo. Mas se ouço um pancadão, por exemplo, dificilmente chego junto”, conta o advogado Daniel Oliveira, 30 anos. É, meu toque está longe de ser da balada, penso eu. Bem, o risco de ser descartada por isto eu não corro.

"Se você sempre baixa a música que está bombando nas rádios, pode se dar bem na paquera. “Acho legal ver que ela escolheu um som estiloso, tipo Coldplay ou Jamie Cullum”, fala Adolfo Machado, 23 anos, analista de trade marketing. “A gata ganha um ar descolado.” Se bem que o tiro pode sair pela culatra, caso paquere um homem que prefira outro tipo de som. “Trabalhava com uma garota que adorava música sertaneja”, lembra João Victor Guedes, 26 anos, advogado. “Sempre que o celular tocava, ouvia: ‘E hoooje eu te amoooo... Não vou negaaar’ [de Victor & Leo]. Achava insuportável.” Eu nem sabia o que era Vale Night, nem Lobo Mau, muito menos sei quem é Victor e Leo. Ai, to salva, eba!

"Tradicional trim trim: rssa opção, assim como a de deixar o aparelho no modo silencioso ou vibratório, a faz parecer discreta e objetiva. “No escritório, várias colegas optam por toques marotos”, diz o analista de marketing Fabio Vendramini, 33 anos. “Mas acho que os tradicionais incomodam menos.” Passo... "Escolher a canção de abertura de Sex and the City pode virar um código e fazer você conhecer quem também é fã do quarteto. Mas não significa que usar um toque à la 007 é um bom negócio para atrair os homens. “A feminilidade está em cada detalhe da mulher”, analisa Pablo Martini, 34 anos, empresário. “Outro dia vi uma garota linda passar e, quando o celular dela tocou, ouvi ‘Tropa de elite, osso duro de roer...’ Perdi o tesão na hora”, conta Pablo." Gente, homem perde tesão por cada coisa...

"“Atende o telemóvel!” ou “Maria, alguém te liga” podem ser escolhas ousadas — e perigosas. O mesmo vale para som de animais. “Estávamos em um grupo de amigos e na mesa ao lado havia uma mulher com um celular que tocava toda hora, com um mugido de vaca!”, diz Paulo Taddone, 31 anos, analista de seguros. “Não preciso dizer que ela virou motivo de piada.” Tem mais: se o toque chama seu nome, pode dar a impressão de que faz o tipo exibida que deseja ser reconhecida na multidão..." Passei direto...

Toque personalizado: esse ganha nota 10 no quesito criatividade. “Acho legal eleger um toque diferente”, diz Marcio Moreira, 29 anos, consultor jurídico. “Gosto dos que parecem modernos e ao mesmo tempo sutis, meio low profile. As que apostam nesses têm mais chances comigo”, fala ele. Pode ser uma música que tem tudo a ver com o seu estilo de vida, uma canção composta por você mesma... João Victor concorda: “Acho bom ouvir sons personalizados; descontrai o ambiente e dá a ideia de que a mulher é animada e descontraída”.


Senhora, pára tudo AGORA: o meu toque não consta na lista! Meu Deus, o que será que os homens pensam de mim? Como é que esta revista não levou em conta o meu toque de celular? E agora, como eu vou descobrir? Ai meu Deus, tá vibrando, não o vibrador, o celular mesmo. Um clássico do final dos anos 70. Ah, meu Deus, Deus ouviu minhas preces, um homem hetero me ligou e vai me falar o que meu toque significa.

- Oi Ivy, tudo bem, pode falar?
- Eu já iria te ligar mesmo. Se você fosse homem, quer dizer, desculpe, você é homem e hetero, é a falta de hábito de falar com hetero, perdão. Mas se você estivesse num bar e estivesse afim de mim e tocasse o meu celular, o que você acharia de mim?

Um segundo de silêncio.

- Você é você mesma ou o clone da Gisele Bundchen?
- Eu sou eu mesma.
- Você está com um decote superpoderoso que valoriza o seu poder 46?
- Não.
- Você está usando saia curta preta e salto alto?
- Também não.

Eu, no meu vestido jeans, me olhava enquanto ele fazia mais um minuto de silêncio. Não morreu ninguém meu filho, responde logo o que o toque do meu celular diz sobre mim. Sem entender, eis que ele finalmente fala:

- Se você não está usando blusa decotada e nem saia curta eu estou afim de você por que mesmo? Qual que era a sua dúvida mesmo?
- Nevermind...

Como eu costumo dizer...homem hetero, quando existe, só se importa mesmo com uma única coisa, que todo mundo sabe o que é. Depois desta, deixo a Fernanda Lima, a Ivete, a Claudia Leitte, todo mundo de lado e vou cobrar da atendente para doutora me atender depressa.

E o toque do meu celular é Bad Reputation, Joan Jett.

"Depois que vi como são feitos, nunca mais comi salsicha nem li jornal." Mark Twain. (Da Ivy: o mesmo vale para as revistas)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Volta às aulas



Nossa, como é difícil estacionar aqui! Como não me dei conta de que é tão difícil estacionar, que as ruas aqui são tão estreitas? Eu passei nesta rua durante dois anos e nunca me dei conta disso... deve ser porque na época eu nem sonhava em ter carro, ou melhor, em dirigir.

Uma vaga, ufa, consegui parar. Está meio longe, mas da para ir. Por que considero longe sendo que eu fiz este mesmo trajeto a pé durante dois anos? Não, olhando assim, com as pernas (um pouco) maiores não é tão longe. Olho a fachada, mudaram as estações e nada mudou, mas eu sei, alguma coisa aconteceu, está tudo assim, tão diferente. O portão continua o mesmo, sempre aberto. O pátio me parecia maior, bem maior mas com apenas três passos eu cheguei na secretaria. A quadra também parecia maior naqueles tempos em que a gente escrevia o cabeçalho todo santo dia no caderno. E o nosso jardimde hortênsias e azaléias não estava mais lá, nem o parquinho.

Ali, mais uma dúvida. Proibida a entrada de alunos. Eu era... ex-aluna, poderia então entrar? Tem mais de 20 anos que eu não estudo nesta escola, mas mesmo assim, ainda me sentia aluna. Procurei pela diretora- tão estranho estar na diretoria da sua escola mesmo que você não tenha feito nada de errado. Uma vez aluna, sempre aluna.

Uma senhora pequena e japonesa me olha com espanto: quem eu era, o que estaria fazendo ali? Oi, eu sou a Ivy, eu fui alfabetizada aqui. Oi Ivy, você foi aluna da Tia Terezinha então? Sabia que ela faz ginástica no Pelezão? Puxa, adoraria rever a Tia Terezinha, ela que me ensinou a ler e a escrever, hoje eu vivo disso... Vou falar para ela entrar em contato com você, ela vai adorar. E como está a escola? Vocês não ensinam mais o beabá para as crianças? Não, hoje nossos alunos entram para fazer a quinta série e saem para faculdade, este ano cinco saíram para a USP, no ano passado foram oito e todos os anos sempre volta um para saber como estamos. E como vocês estão? Eu deveria me aposentar há dois anos, mas não consigo, esta escola me motiva demais- nossos alunos estão sempre entre os melhores da rede pública e o fato de você voltar aqui, 20 anos depois de ter saído, é uma prova de que estamos no caminho certo. Na verdade não tem 20 anos que não venho aqui... a minha mãe vota aqui, ela não transfere o título porque ama a escola, a gente fazia parte da escola, ou melhor, a escola fazia parte da vida da gente. Você morava aqui perto? Sim, eu morava no BNH. E você continua morando lá? Não, hoje eu moro na Vila Leopoldina. Ah, então você ainda mora perto. Pois é, moro. Sabe Ivy, tem muita coisa para fazer aqui...nossos alunos antigos são sempre bem vindos aqui. Nossa, eu adoraria voltar. Tem tanta coisa aqui para você fazer... oficina de leitura, de redação, nós temos alunos que não enxergam, que não andam, temos alunos que estão fazendo curso técnico, temos tantos alunos.. sós os matriculados são 1.500, mas tem os que são como você, que sempre voltam... sabe, você deveria escrever no seu blog sobre a sua visita.

E foi assim que em uma tarde chuvosa de fevereiro eu voltei para a minha escola- desta vez, na condição de amiga.

Para os alunos novos, os alunos antigos, os professores novos, os professores antigos, para os diretores, os funcionários, o pessoal da cantina, para todos que, como eu, ainda amam a Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Di Cavalcanti, o nosso querido Dica.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Contra olho gordo...


- Alô? Quem tá falando ai Mano?
- Boa tarde. Aqui é do gabinete, quer dizer, cela do Arruda.
- É com este memo que nóis quer falar. Bota o mano na linha que nóis tem um recado para ele.

Um minuto de silêncio. A secretária de Arruda olha para o chefe com olhos duvidosos: a ligação é suspeita, mas ali, o que não é? Pelo jeito, o assunto é sério. Depois de perder o apoio dos amigos demoníacos, só restou a ele o consolo dos livros de auto-ajuda. Nos momentos difíceis como aquele, não havia muito a perder.

- Aqui é o Arruda falando, quem é?
- Douto, to ligando aqui em nome do nosso comandante, guenta aí.
- Pois não.

Mais um minuto de silêncio. Apreensão: o que pensar neste momento? Uma voz calma e pausada interrompe os pensamentos.

- Eu iria chamar o senhor de companheiro, mas acho este tratamento muito esquerdinha. Porém, o que somos nós além de dois companheiros no mesmo barco?

Espantado com a educação, com o bom português, o governador pergunta, incrédulo:

- Marcola?
- Marcos, por favor. Como eu estava dizendo, estou sabendo que você está para ser expulso do seu partido. É por estas e outras que eu criei o meu ao invés de me filiar a qualquer um: uma pequena escorregada e pronto, está fora. E todo o esforço que você faz para manter o partido unido, todas as verbas que desvia do poder público para a campanha?

Arruda não consegue acreditar no que está acontecendo: sim, ele mesmo, Marcos Camacho, o terrível e temível Marcola, aquele que parou São Paulo, executa criminosos sumariamente, falava um português impecável. E continuava a falar:

- Sabe, companheiro Arruda, não se preocupe com esta questão. É exatamente por isso que eu estou te ligando, para que você entre para o nosso partido.
- Partido?
- Sim. Provavelmente você nos conhece como Primeiro Comando da Capital, mas sabe como é a imprensa, né? Deturpa tudo, nem uma sigla os repórteres são capazes de escrever direito.
- Não é uma facção criminosa então?
- Nossa, companheiro, assim você me ofende! Claro que não! Você acabou de ser expulso de uma facção- não sabe reconhecer algo diferente?

Arruda pensa, pensa, pensa: sim, o Marcola, ops, Marcos, tem até uma certa razão, mas ele está tão acostumado com os políticos de Brasília livre, leves e soltos, todos de Emernegildo Zegna, não com bandidos. Seu pensamento, então, para um pouco: sim, bandidos? Nunca tinha se visto assim.

- Sabe Arruda, eu concebi o PCC como um partido político desde o começo. Estes ataques, estas coisas todas eu planejei apenas para ganhar público. Marketing, sabe como é né?

O governador pensa enquanto ouve a fala mansa de Marcos: valeria a pena mesmo se filiar aquele partido? Seria pior do que os outros? Teria que pagar para ver?

- Meu departamento jurídico está analisando tudo para nos tornarmos legais. Esta eleição já teremos legenda própria. Estamos apenas com problemas para escolher o número, eu queria 171, mas como só podem dois números... a minha esposa chegou a falar com uma numerologista, estas coisas de mulher, sabe como é né? Mas este ano teremos nossa legenda e queria saber se você pretende se candidatar à reeleição aí do Distrito Federal.

Arruda continuava incrédulo.

- Seria ótimo para o partido ter um governador eleito logo em seu primeiro ano de legalidade democrática. Se você aceitar, em dez, quinze anos, poderemos ter um presidente eleito.

Nem tudo estava perdido: nada como pensamento positivo, santos livros de auto-ajuda! Era só nisso que Arruda conseguia pensar: sua carreira política não estava perdida! Eba!

- Senhor Marcos, posso perguntar uma coisa?
- Naturalmente.
- O senhor está tentando cooptar outros políticos?
- Mas é claro. Já elegi dois deputados federais na última eleição, mas, como disse, as ambições do partido são maiores. Este ano estou apoiando também um candidato à uma vaga no Senado. Por que, o senhor tem indicações? Toda ajuda é bem vinda.
- Não, não tinha pensado em indicar alguém neste primeiro momento, é que estava com medo de ser o único político a me juntar a este partido de bandidos e...
- O senhor não queria dizer o contrário?
- Perdão, eu não quis ofender.
- Que isso não aconteça mais, mas exigo respeito. Somos um partido de gente séria e do bem. Só não vou desconsiderar agora mesmo este convite porque tenho ambições políticas e neste jogo de política nós temos é que dançar conforme a música- ou, sair da pista. Como eu quero dançar muito ainda...
- Posso perguntar que cargo o senhor pretende se candidatar?
- Pode.
- Qual.
- Prefeito.
- Prefeito?
- Sim, por que, mano, algum problema?

A conversa fica tensa. Marcos ainda precisa de um candidato na capital federal. E, por isso, como bom político, sai pela tangente:

- Só mais uma coisa, governador.
- Sim.
- O senhor é parente daquele gostosa da Geisy Arruda?
- Infelizmente, não. Nem a da que combate olho gordo e protege contra mau olhado eu to me relacionando bem...

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a vida real é uma mera coincidência.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Outras palavras



Acho que foi em uma aula de sociologia nos corredores da Paulista, 900 que descobri uma das principais funções do jornalismo: observar a sociedade. O professor disse que nós, repórteres, temos um quê a mais no nosso DNA que nos permite observar um fato e ver ali uma história a ser contada. O jornalista, disse ele, tem o dom de ver a notícia, não de criá-la. Por isso eu não entendo jornalista que não noticia, e sim polemiza.

Digamos que entre hoje e amanhã eu engravido. Nove meses depois, tenha um rebento nos braços. Mais seis meses depois eu volto a trabalhar. O que os eventuais quilos durante a minha gravidez afetariam o meu trabalho? Que eu saiba, os ministros não iam olhar para minha cara e falar "Nossa, como você está gorda". E pelo que eu sei, quilo a mais não me impediria de fazer perguntas em coletivas.

Mas digamos que eu, ao invés de ser abençoada com um DNA jornalístico, ganhasse na loteria genética uma voz de sereia e estivesse na mesma situação, de voltar a trabalhar depois de ter um bebê: o que os quilos a mais poderiam atrapalhar a minha voz? Que eu saiba, também nada. E por quê então a imprensa insiste em escrever que a Ivete Sangalo está acima do peso? Quem aqui sabe informar o peso ideal dela para que ela esteja acima? Por que a imprensa não informa simplesmente as músicas que ela cantou, como o povo reagiu, as palhaçadas que ela falou? Não, os repórteres estão apenas interessados no peso dela, como se isso tivesse alguma relevância no trabalho dela.

"Ivete Sangalo, que ainda luta para recuperar a boa forma depois do nascimento de seu primeiro filho, Marcelo, contou que emagreceu quatro quilos durante o carnaval ao chegar para o tradicional "arrastão" da quarta-feira de cinzas, em Salvador. "Passei o ano todo tentando e agora estou gostosa de novo", disse. Isso, para mim, é mais um exemplo de deserviço ao jornalismo, além de alimentar, ou melhor, estimular, já que a ditadura da magreza não se alimenta, já que ela é magra.

A própria Ivete declarou que não está nem aí com os quilos a mais e que os fãs a entendem, tem consciência de que ela, como toda mulher do país, está retornando ao trabalho após a licença-maternidade. Mas a imprensa parece não compreender e ao invés de observar, fica julgando a cantora.

No ano passado, outra cantora da Bahia foi avacalhada não na praça, mas nos veículos de comunicação de todo o país. Ao invés de falar que ela estava gorda, todos criticavam porque ela tinha voltado ao peso normal e estava com um corpão de dar inveja. Claudia Leitte rebateu as críticas com um argumento que achei imbatível: ela tinha puxado à mãe dela, que emagreceu em semanas depois que pariu.

Na hora que li, dei risada ao lembrar da minha mãe, que saiu da maternidade depois de ter o meu irmão com a mesma calça jeans que usava antes de engravidar. Foi assim com a minha mãe, foi assim com a dela, isso é relativamente normal (conheço uma moça que teve gêmeos recentemente e ninguém diz). Por que então, que com a Claudia Leitte seria diferente? E por que ela teve que ser tão julgada, como uma pessoa irresponsável que só se preocupou com a estética?

Pelo que vejo, estão tirando o foco das reportagens, que é informar, para simplesmente polemizar sobre um assunto tão rídiculo quanto o peso e a forma física da Ivete Sangalo- e da Claudia Leitte. E este não é o nosso papel, nosso papel é olhar para a sociedade e informar o que vemos, não o contrário. Estas outras palavras usadas chegam a ser cruéis se levarmos em conta que não estamos falando da Ivete profissional e sim de uma mulher que acabou de ter um bebê. Se fosse com uma anônima, fariam tanto auê?

Não julgo a Claudia Leitte nem bem nem mal porque realmente acredito que ela tenha o corpo que tem por questões genéticas e sobre isso não há o que opinar. Mas para Ivete... essa eu realmente bato palmas por ser uma guerrilheira da saúde e ter trabalhado linda, maravilhosa e gostosa no carnaval da Bahia com o corpo que Deus lhe deu. E que se foda a ditadura da magreza!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Alaôôôô!

Já dizia a minha mãe: mente vazia é o laboratório (ou seria a redação?) do coisa ruim. Piadas infames e sem criatividade criadas em mais um plantão de sol sem fim:

- Qual a fantasia o Arruda deveria usar neste carnaval?
- Não sei, a dos Irmãos Metralha?
- Aí não é fantasia, ele já tá preso mesmo. Arruma outra.
- Sei lá, de Tio Patinhas, pela fortuna acumulada?
- É, não. Vamos brincar de outra: qual o presente o Arruda vai ganhar neste Natal das avós dele?
- Não sei, meias?
- Não, cuecas, meia ele já tem demais.
- Não, não, esta de colocar dinheiro na cueca é velha, ele nem vai querer porque senão aquele outro vai processá-lo por plágio.
- Putz, na 25 vende aquele negócio de colocar dinheiro quando vai viajar, pode ser um bom presente para ele.
- Vamos para próxima: qual a fantasia sexual que fez o Arruda brochar depois que a mulher dele propôs?
- Hum... ah, esta é fácil: usar algemas!
- Hahahaha, isso para ele não é mais fantasia, é realidade.
- Não, isso foi antes dele ser preso.
- Falando nisso... preso da Polícia Federal tem direito à visita íntima?
- Tem, claro. Como a cela dele é individual, o clima é bem intimista.
- Esta conversa toda me fez lembrar de uma coisa...
- O quê?
- Preciso me benzer.
- Com arruda?

Mais tarde, em casa:

- Mãe, estou sendo vítima de inveja. Me benze com Arruda, por favor?
- Aquele político corrupto? Tá louca minha filha? Ele tá preso.
- Não, mãe. Arruda, aquela verdinha sabe?
- O que minha filha, ele roubou dólar também?
- Nevermind...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um drink no inferno



Cena 1. Int. Noite. Bar na Augusta. AMIGA DESBOCADA, AMIGA DOCE e IVY estão sentadas aguardando o garçom conversando sobre assuntos aleatórios. Câmera mostra reação das meninas quando o garçom- gato- chega.

GARÇOM: Já sabem o que vão pedir, meninas?

AMIGA DESBOCADA: Eu quero uma tequila.

AMIGA DOCE: Eu quero um Sex on the beach.

AMIGA DESBOCADA (medindo o garçom): Moço... tem como você trazer mais sex do que the beach para ela?

AMIGA DOCE, que além de doce é extramamente gentil e bem humorada, uma das meninas mais legais do planeta começa a rir. Garçom fica sem graça e olha para IVY.

GARÇOM: E para a senhorita?

IVY: Um bloody mary. AMIGA DESBOCADA, nem tente fazer piada com isso.

AMIGA DESBOCADA, AMIGA DOCE e IVY continuam rindo. Fade out.

U.S.



Buenos Aires, Argentina

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Odoyá!



Lunaê Parracho/A Tarde


Eu acho lindo que os pescadores homenageiem Iemanjá. Achei mais lindo ainda que eles tenham escolhido uma sereia negra para presenteá-la no Rio Vermelho, afinal, se Iemanjá é africana, é pouco provável que ela tenha sido concebida como aquela mulher de pele alva com pérolas nas mãos. Mas... de cabelo liso? Onde é que esta sereia fez progressiva, alguém pode me contar? Sim, porque se o presente deste ano dos pescadores era para homenagear a África e as religiões afrodescendentes, não era no mínimo mais sensato e autêntico fazer uma sereia com cabelo pixaim?! Sim, porque com o sal do mar de Iemanjá não há condicionador e formol que resista!

Mãe, presente a gente dá com o coração! Dois de fevereiro, dia de festa no mar, vamos jogar flores para Iemanjá. Colônia Z-1, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, Odoyá, Iemanjá.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pergunta idiota, tolerância zero?

Situações que só os repórteres passam...

- Bom dia, vocês têm assessoria de imprensa?
- Temos sim.
(Silêncio de segundos quase eternos...)
- Você quer o número?
(Silêncio rápido para separar a resposta educada da resposta que eu realmente queria dar)
(Resposta educada)- Sim, quero.
(Resposta que realmente queria dar: - Não, perguntei só porque queria saber, porque eu sou boba mesmo. Eu pego números aleatórios e ligo perguntando se ali tem assessoria de imprensa. Serei eu uma toupeira? Ah por favor!!! Nobody deserves-uma variação tosca na língua inglesa... variação que não existe decerto)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aos cuidados de Ernesto

Pois é Ernesto, a festa acabou. Pensei em tantas maneiras de começar esta carta porque eu tenho muito para lhe falar. Infelizmente, como não há nada de bom para dizer, enrolei para começar. E vi que não tinha nada melhor do que "a festa acabou" assim você não começa a ler pensando que é uma coisa e na verdade, é outra.

A verdade Ernesto, é que os bons ares de lá não estão mais tão bons assim. Ou pelo menos, não tão bem quanto eu pensava. Cheguei naquele local que um dia foi um antigo porto procurando pela Europa. Borges era apaixonado por Genève, tanto que ele escolheu lá para morrer. Demorei para entender sua paixão por Genève até o dia que fui à Recoleta e vi aquelas ruas arborizadas, aquela graça, cervejas em elegantes taças, tal e qual em Genève. O Puerto Madeiro não deve a nada a um dos nossos Quais. Mas é só isso mesmo que vi de Europa.

Vi, ali mesmo na Recoleta, no famoso cemitério que atrai turistas do mundo inteiro, nossos hermanos bolivianos e colombianos reformando as lápides e outras mansões fúnebres. Sim, Ernesto, nossos irmãos, aqueles que têm em suas veias abertas o mesmo sangue da América Latina hoje são os funcionários de seus hermanos. É algo como nos Estados Unidos, onde a América do Sul nada mais é do que exportador de mão de obra, com a diferença que sim, nós estamos na América do Sul. E nossos vizinhos nada mais são do que faxineiros, copeiros, pedreiros, enfim, aqueles que fazem o serviço mais básico.

Foi ali naquela cidade que eu achava tão rica, no país que tem um dos maiores PIBs per capita do continente que encontrei, pasme Ernesto, crianças nas ruas. Os chicos, ou niños, como vocês chamam, ali, pedindo esmolas. Nisso, tenho que admitir, vocês são mais democráticos: há loirinhos, com a pele bem branquinha, são típicos Olivers Twists junto com a versão infantil dos mesmos que estavam no cemitério, os bolivianos, paraguaios, colombianos, todos pedindo dinheiro para comer.

Pois é, Ernesto, a igualdade por qual você tanto lutou, a união do continente que você tanto defendeu não funciona nas ruas de sua capital. Talvez existam em acordos malgrados entre os diplomatas, que assinaram qualquer coisa depois de muitas taças de vinho. Mas, ali, de bom mesmo, Buenos Aires não tem nada, pelo menos no que diz respeito à pobreza e a dignidade.

Mas o que mais me espantou, Ernesto, foi ver aquele seu velho retrato não apenas nas paredes de bares de La Boca e sim em todas as lojas de souvenirs. Pois é, Ernesto, hoje você alimenta, em seu próprio país, o sistema que um dia você tanto criticou. Vi sua imagem em ímãs de geladeira, bottons, cartões postais, canecas e até cuecas. Como lhe disse, Ernesto, a festa acabou. Sinto muito em lhe escrever esta carta, endereçada à eternidade, apenas para contar isso. Mas acho sinceramente que você deveria saber do que estamos fazendo com nossa América enquanto você faz não sei o quê ai no céu.

Minhas ternas e sempre eternas saudações,

Ivy

Ortografia

Cena 1. Int. Dia. Pauta na Sabesp. Recepcionista pede os documentos para que IVY possa adentrar no recinto com sua equipe para fazer a matéria.

RECEPCIONISTA: E de onde vocês são mesmo?

IVY: Da TV Brasil.

RECEPCIONISTA: Brasil é com Z ou com S?

IVY: Sua pergunta é séria?

RECEPCIONISTA: É. É com Z ou com S?

IVY: Com S. De zebra.

RECEPCIONISTA fica completamente sem graça enquanto IVY pensa se a ortografia do nome do país foi alterada e ninguém lhe contou ou por quê tem que ouvir este tipo de pergunta às 10h da manhã. Fade out.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Embaixo dos cachecóis e do seu cabelo

Cena 1. Int. Dia. IVY está chegando na redação para mais um dia de trabalho falando ao telefone com o ANALISTA DE REPÓRTER.

IVY: Eu preciso desligar agora porque eu acabei de chegar na redação e tenho que trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Ah, pára com isso, fala mais comigo! Você tá na redação mesmo, você não trabalha em um lugar sério.

IVY: Como? Eu preciso trabalhar, agora é a minha vez de trabalhar, você já trabalhou.

ANALISTA DE REPÓRTER: Coloca um cachecol rosa no pescoço e continua falando comigo que ninguém vai reparar que você tá falando comigo. Todo mundo só vai olhar pro seu cachecol e ficar comentando.

IVY: Como? Cachecol rosa, de onde você tirou isso?

ANALISTA DE REPÓRTER: Não tem aquele filme lá, que a menina compra demais? Então, ela tem um cachecol verde. Usa um cachecol rosa e continua falando comigo que ninguém vai reparar.

IVY: É mais fácil eu desligar o telefone, não?

ANALISTA DE REPÓRTER: Não, fica falando comigo. Se você chegar com o cachecol rosa, todo mundo vai reparar no seu cachecol. Primeiro vão falar que é cafona, que não combina com a roupa, depois vão falar que você levou uma chupada no pescoço: lembre-se, jornalista faz voto de pobreza e de obediência, não de castidade. Com o cachecol rosa, vão ficar falando que você é uma vadia, outros vão dizer tem que dar mesmo e neste meio tempo você vai continuar falando comigo e ninguém vai reparar que você está falando comigo.

IVY (rindo): Me deixa trabalhar?

ANALISTA DE REPÓRTER: Você só ta rindo porque sabe que tudo isso que eu tô falando é verdade. Em redação não existe razão, se existisse seria uma sala de contabilidade.

IVY (rindo mais ainda): Pára com isso, eu preciso desligar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Viu, e você ainda continua falando comigo e ninguém reparou! Te digo, eu que to bem longe sei exatamente o que está acontecendo na sua redação não tô?

IVY: Tá.

ANALISTA DE REPÓRTER: Isso porque eu cresci em uma redação e trabalho com duas. E redações são todas iguais.

IVY: A sua brilhante teoria deu quase uma hora de conversa- na redação.

ANALISTA DE REPÓRTER: Não falei? Funciona!

IVY: Deixa eu desligar, por favor? Eu realmente preciso trabalhar. Mas posso publicar isso tudo?

ANALISTA DE REPÓRTER: Pode. Tá, vai, eu deixo. Volta lá para conversar com seu CHEFE 1 e com o CHEFE 2. Um beijo.

IVY: Um beijo, tchau.

IVY desliga aliviada e pega a pauta do dia. Cinco minutos depois o telefone toca novamente. É o ANALISTA DE REPÓRTER.

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Eu tenho outra idéia para você continuar falando comigo sem ninguém reparar: chega com um livro em uma língua que ninguém fala, tipo japonês ou russo, que todo mundo vai comentar do livro.

IVY (rindo): Você vai me deixar trabalhar?

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Ou entra com uma Bíblia. Todo mundo vai falar da Bíblia: por que você está com uma Bíblia? O que você quer dizer entrando com a Bíblia? Se você está lendo a Bíblia? Se você virou crente? E enquanto isso você fica falando comigo!

IVY (rindo): São 9h da manhã e eu preciso apurar, me deixa trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): No outro dia você chega com um livro de capa vermelha escrito O Capital. Vão te excomungar na mesma hora. E você vai continuar falando comigo- e ninguém vai reparar.

IVY (rindo): Pára, eu tenho três pautas para hoje!

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Tá bom, vai, eu deixo.

IVY (rindo): Posso publicar mesmo? Como você quer o seu crédito?

ANALISTA DE REPÓRTER: Dá o de sempre, que eu cresci numa redação, trabalho com duas e redações e...

IVY (interrompendo, rindo): E hoje atura uma repórter?

ANALISTA DE REPÓRTER: E ainda analiso. Deveria ser pago para isso. Não tem gente que se especializa em tratar bicho? Eu deveria me especializar em analisar repórter. Meus serviços até que seriam úteis, porque se os repórteres pararem para pensar e...(silêncio). Pensando bem, repórter não pensa. Se repórter pensasse enquanto escreve, meu Deus, seria o caos.

IVY (rindo ainda mais): São 1h38 minutos de conversa, pronto, falei demais com você, me deixa trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Chega com o cachecol amanhã? Aí a gente bate este recorde.

CHEFE 1 já está olhando, IVY está completamente sem graça e ANALISTA DE REPÓRTER está feliz porque conseguiu o que queria: a conversa durou 1h47... Fade out.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sabedoria de MSN

Os melhores nicks de hoje são:

"Homem feio é que nem pantufa: em casa é gostosinho, mas na rua dá uma vergonha..."

"Beleza: o que Deus não dá a farmácia vende- e sem receita."

Teste do sofá?

"Faltou dizer que se tiver um sofá, a redação terá que por alguém para distribuir senha. Porque jornalista que é jornalista é comunista então todos terão direito. E se tiver dois sofás já vira um estúdio de criação de publicidade-com direito a mesa de sinuca e um monte de redes."

Do mesmo intelecutor que realmente tem propriedade para falar do assunto.

Opções

- Mas é que na minha redação não tem sofá para sentar e tomar um café depois do almoço.
- Claro que não, redação não tem que ter sofá senão o povo dorme.
- Claro que tem que ter! Não é para dormir, é só para dar uma relaxada.
- Ivy, você já pegou aqueles caderninhos de inscrição de vestibular na mão não já?
- Já.
- Quantos cursos tinham lá?
- Sei lá, um monte.
- Então são bem mais de 100. Se você tinha tanta opção, ninguém mandou escolher o curso errado. Agora não reclama mais que a sua redação não tem sofá tá?
- Posso por isso no meu blog? Eu dou o crédito.
- Pode.

O interlecutor é o mesmo que cresceu em uma redação e hoje trabalha com duas... Tipo, o cara tem propriedade para falar do lindo mundo do jornalismo...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Encanto?



"Eu não quero um príncipe encantado que venha montado em um cavalo branco com uma lança para me resgatar das agruras desse mundo. Quero um homem de coragem que venha montado na disposição e que chegue desarmado para me resgatar de mim mesma"

O ano mal começou, mas já temos uma aspas sensacional que dificilmente será tirada do pódio das melhores. A autora não poderia ser ninguém menos do que a Bia Amorim, a Bibi de Bicicleta (viu como é fácil dar o devido crédito?). A frase da Bia ficou na minha cabeça o tempo todo, junto com uma matéria que eu li na Marie Claire que dizia basicamente o seguinte: desencane do príncipe encantado e viva feliz com os sapos que se tem.

Na teoria, isso é tudo muito fácil, mas quem disse que a gente consegue desencanar da história de achar o tal do príncipe? Entre uma pauta e outra, descobri algo revelador e extremamente bombástico: devemos desencanar do príncipe encantado porque ele simplesmente não existe. "Jura, Ivy, fala sério que só agora você descobriu isso?" vocês devem estar se perguntando. Pois é, só agora (antes tarde do que nunca) é que eu me dei conta porquê eles não existem: eles simplesmente não fazem idéia do que é ser um príncipe.

Sim, isso mesmo! Enquanto nós crescemos lendo e ouvindo as histórias que terminavam sempre com "felizes para sempre" e decoramos todas as peripécias que os príncipes faziam, os meninos estavam lá brincando de Comandos em ação, ou jogando bola ou assistindo o He-Man, que vamos e convenhamos, não tinha o menor jeito com as mulheres. O fato é que se nós sonhamos com mocinhos lindos que nos salvem da bruxa malvada, eles não têm a menor consciência do que seja uma bruxa e de como nos salvar dela.

Escalar torres? Usar espada? Matar dragões? Dar um belo beijo na princesa? Os moleques nunca tiveram a menor noção de que isso existia. Então, como hoje podemos cobrar isso deles? Ou pior, procurar isso na vida real?

Claro que há uma diferença bem básica entre um príncipe encantado e um gentleman: enquanto o príncipe é encantado, o gentleman é educado e é isso o que a gente tem que procurar, tipo o rapazinho da Folha, que dá lugar pras meninas sentarem, abre a porta do carro e faz todos as coisas do gênero (pelo menos eu acho que faz). Estas qualidades, aliás, são bem mais palpáveis do que quebrar um feitiço com um beijo né?

E vamos falar a verdade também? A gente procura um príncipe encantado, mas nós não somos nenhumas princesas- eu pelo menos não sou, até porque acho a vida de princesa um saco. Pelo que me consta, não existe uma história com uma princesa destrambelhada, que não sabe bordar, odeia serviços domésticos e ainda seja boazinha com as irmãs malas e que nunca conviveu com anoezinhos, como é o meu caso. Então, se não somos assim tão encantadas, para que mesmo que queremos um príncipe? Bia, to contigo e não abro: quero um homem desarmado de traumas e conversas furadas tipo "eu não sou bom o suficiente" ou "eu não consigo me envolver". Só me arrisco a acrescentar algumas coisas neste pedido (sim, são exigências): que o cara seja hetero e que saiba desbloquear o DVD, porque aff, ninguém merece deixar de ver os DVDs importados só porque o aparelho não roda.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Direitos e Deveres



Avenida Paulista, São Paulo, Brasil

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fuso horário



Gente!!!!!!!Olha que incrível: o Vale a pena ver de novo mudou de horário:

Máquina zero
Exclusivo: Gisela Reimann raspa o cabelo para gravar cena

"Para dar mais autenticidade ao drama de Marta, personagem que na novela sofre de câncer e faz um pesado tratamento de quimioterapia, Gisela Reimann recebeu a incumbência de raspar a cabeça. Enquanto assimilava a notícia, a atriz era preparada para gravar a próxima cena que já a mostraria totalmente sem cabelo. Com exclusividade, a gente acompanhou passo a passo o trabalho dos profissionais de maquiagem e caracterização, e captou a reação de Gisela vendo-se no espelho e despedindo-se de suas belas madeixas."

Tirado do site da novela Viver a Vida. Acho que realmente a gente deveria mudar a expressão "Eu já vi este filme" para "Eu já vi esta novela".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Chá de cadeira

Cena 1. int. Noite. Depois de uma discussão com o bofe, IVY senta na poltrona na casa da AMIGA e continua a falar, a falar, falar... do bofe, claro.

AMIGA: Você tá muito nervosa, peraí que vou lá na cozinha preparar um chá. Assim você descansa um pouco a língua.

IVY (ela nunca para de falar normalmente, quando o assunto é homem então...). Tá, tá bom e você nem imagina que ele não me ligou e depois ligou como se nada tivesse acontecido (falando em voz alta para a AMIGA ouvir da cozinha).

AMIGA volta com a xícara e entrega para IVY, que finalmente para de falar para beber o chá.

IVY: Que é isso?! Isso não é chá de camomila.

AMIGA: Claro que não, queridona. Chá de camomila já era quando a gente precisa se acalmar por causa de homem. Nestes casos, a gente tem que tomar chá verde, que desintoxica, deixa a pele linda e a gente fica ainda mais magra e bonita. Não é você mesma que diz para gente deixar as outras mais feias ficando mais bonita?

IVY: Eu te falei que o chá verde também é ótimo para branquear os dentes? Se você tomar uma xícara depois das refeições seu sorriso fica lindo! Mas você já ouviu falar também do chá vermelho? Menina, é excelente para liberar as toxinas e os cientistas estão vendo também seus benefícios para os cabelos e as unhas e...

O assunto continua no chá vermelho, depois passa para a nova coleção de esmaltes e ruma para a temporada de liquidações.

Cena 2. Int. Carro. Noite. No caminho de volta, IVY vem dirigindo e pensando.

IVY: Será que o chá verde agora é usado para acalmar mulheres com ex que não ligam por causa dos benefícios reais para beleza ou por que faz a gente mudar de assunto?

IVY entra na garagem, se preocupa com a baliza e esquece o assunto. Fade out.

Homônimos

Cena 1. Int. Redação. Final de expediente. IVY já apurou a matéria todinha, porém falta ouvir o outro lado, fundamental para a matéria.

CHEFE: Vai para casa e espera o cara ligar, depois você coloca isso na matéria e manda tudo no final, não precisa ficar aqui esperando.

IVY: Obrigada, to indo.

Cena 2. Int. Casa da IVY. Quase noite. AMIGA chega e o papo é sobre as histórias correntes sobre os homens da vida de cada uma. AMIGA descreve a história dela, IVY conta a dela também.

AMIGA: O que, este cara falou isso? Nossa, você nunca mais na sua vida vai falar com ele ou eu te bato. Se eu ver você falando com o Felipe* eu te mato, você me entendeu? Te mato! E mato ele também!

IVY: Eu não quero nem mais papo com ele, aff, passou.

Enquanto as duas conversam, toca o telefone de IVY. O número é desconhecido. IVY atende o telefone e espera uns segundos para falar.

IVY: Ah, oi Felipe...

A AMIGA fica paralisada e faz cara de ódio. Numa reação inesperada, tenta tomar o telefone de IVY enquanto começa a gritar. IVY fica mais desesperada ainda e tenta se desvencilhar da AMIGA maluca.

AMIGA: Eu vou falar um monte para este desgraçado e...

IVY (falando ao telefone, se afastando da AMIGA): Não, eu posso falar sim, é que eu acabei de sair de uma pauta em um hospício e tem uma louca gritando. Por favor, Felipe, você, como presidente da sua entidade, pode me explicar como estes novos fatos vão alterar a rotina dos cidadãos?

AMIGA congela: ela pensava que, do outro lado da linha, estava o Felipe bofe, não imagina que o Felipe em questão era... a fonte que faltava para o outro lado da matéria! Câmera mostra IVY ao telefone enquanto toma notas e a AMIGA completamente sem graça. IVY desliga o telefone e olha para AMIGA:

IVY: Pode desafazer esta cara, o entrevistado nem desconfiou do que se tratava.

AMIGA: Meu, mil desculpas, que vergonha, ele é sua fonte usual?

IVY: Então, falo com ele às vezes, meio que é.

AMIGA: Meu, mas se coloca no meu lugar, como é que eu ia saber que o cara era fonte? Quem mandou ele chamar Felipe?

IVY: Ah, antes que eu me esqueça... o meu irmão também chama Felipe, se ele ligar, por gentileza não surte.

AMIGA: Putz, é mesmo! Não, nunca mais, nunca mais.

IVY e AMIGA começam a rir de suas vidas enquanto IVY senta na frente do computador para completar a matéria. AMIGA vai para cozinha pegar água, fade out.

*O nome foi trocado para manter a identidade do entrevistado. E do bofe, claro.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

José e Zilda



Já virou ditado popular, uma máxima que norteia a minha vida: os amigos são a família que a gente escolhe. São os amigos que estão do nosso lado o tempo todo, muitas vezes mais do que a nossa família. Amigos são importantes, são nossos olhos quando não conseguimos ver, nossos ouvidos quando não estamos em condição de ouvir. Quando estamos profundamente abalados, quem é que sempre socorre as pontas? Nossos amigos.

Hoje era um dia bem comum, pelo menos era isso que eu pensava enquanto caminhava para a redação. Iria fazer pauta de emprego às 11h, seria tudo tranquilo. Seria. Terremoto. Haiti, eu aqui e daí? Muito e aí, os brasileiros estavam lá. E a Zilda Arns também. Agora, estava morta. Muitos telefonemas depois e o aviso de pauta: o governador assinaria qualquer coisa no palácio. "Vai lá falar com ele, pergunta da Zilda Arns". José Serra e Zilda Arns? E daí? "Eles são amigos, trabalharam juntos, blablabla".

Ai meu Deus, que dilema! Vou chegar pro José Serra e perguntar o quê? "Pergunte assim: 'Como o senhor avalia esta perda para o Brasil?' Ele é político, está acostumado com isso, vai falar direitinho, ela deve estar louco para falar, sabe como é, politicos. Difícil é entrevistar família, isso sim'.

Lá fui eu. E pensando: aff, e se ele não tiver sido amigo dela porra nenhuma e não estiver nem aí? Ai meu Deus! Em 45 minutos, Serra chega. Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Eu vou ter que perguntar mesmo, ai meu Deus! Felizmente, Serra começa a falar. "Tem um tema que nos comove hoje e nos comoverá..." Ai que bom, ele vai falar, não vou nem precisar perguntar! E Serra continua a falar.

Cubro esta vida louca de meu Deus em São Paulo há quase dois anos. Não bato ponto no palácio, mas estou acostumada com Serra, com o jeito que ele fala, a gente se acostuma. Em meio ao discurso, uma pausa mais longa do que o normal. A voz voltou um pouco embargada. Mais uma continuação falando da doutora Zilda. A voz dele parou de novo. As meninas se levantaram para ver: ele estaria chorando? Não levantei- pelo seu tom, senti que ele realmente estava emocionado. Mais uma frase e a voz para de novo, agora de vez. E retorna mudando completamente de assunto, numa clara tentativa de brecar a dor.

Ali não era mais o Serra falando da doutora Arns, era apenas o José falando da Zilda. Felizmente, nesta vida nunca perdi nenhum amigo para a morte. Mas ali, ao ouvir o José discursando, tive duas certezas: a primeira é que deve ser muito difícil perder quem se ama, não importa o título.

Ah, e a segunda? Que difícil é entrevistar gente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tudo de novo



Esta é a Tathi Bione, a BBB que mais me chocou por lamentar em público que não recebia convites para posar nua. Tathi, eu também não recebo queridaaa, bem-vinda ao clube!

E hoje começa mais um BBB. Todos os sites só falam isso. Não abri os jornais, porque, bem, eu nunca mais comi salsicha ou li jornal depois que vi como são feitos. Por isso, já que a Globo faz sempre o mesmo programa eu decidi republicar aqui o mesmo post que escrevi em 10 de julho de 2008: além de nada ter mudado no programa, a minha opinião continua a mesma.

Vale a pena ler de novo- Movimento dos ex-BBBs

Já ouvi que a Grazi Massafera sofre(u) preconceito por ser ex-BBB. Que tem gente que faz cara feia para ela e qualquer outra pessoa que saiu do programa. Não tenho nada contra quem faz parte do programa, muito pelo contrário. Mas sei que tem gente que tem. Deve ser por estas e outras que os BBBs se apoiam tanto, mesmo os que não tenham morado juntos, como a Fani Pacheco e a Natalia Cassassola, que hoje são melhores amigas nesta vida pós casa.

Daqui a pouco, não vou me espantar se os ex-participantes fizerem um movimento de ex-BBBs. Seriam liderados pela Grazi, claro. Iris Stefanelli poderia ser a vice-presidente. O que eles fariam? Abaixo-assinados para serem reconhecidos como artistas pelo sindicato dos Atores do Rio, eventos públicos com o objetivo de sairem nas revistas, sopão para os fotógrafos que dão plantão à noite na porta da casa da Carolina Dieckmann, assim sairiam bem na fita, ou melhor, só de sair já está bom. Ah, e claro, lançariam uma campanha publicitária para comover os editores de revistas de mulher pelada a convidarem a Thati Bione para posar nua, já que ela se lamenta piamente por não ter sido chamada para tirar a roupa.

Cada ex-BBB pagaria uma taxa de manutenção da entidade, que também prestaria serviços sociais aos BBBs menos populares. Serviços? Que tipo de serviços eles precisam, se é que precisam de alguma coisa? Claro que precisam! A ONG (Organização Não Global) ofereceria terapia para aprender a lidar com a falta de fama (o psiquiatra Marcelo cuidaria deste departamento), academia para manter o corpo e assim aumentar as chances de tirar a roupa para a Playboy, serviços jurídicos (aquela Pocahontas do BBB7 ficaria com esta missão), faria assessoria de imprensa(teve a Cris, jornalista da primeira edição, que poderia tomar conta deste departamento. Este serviço só seria utlizado na época de edição nova, quando todos se perguntam por onde eles andam), além, claro de reuniões de turma(já são oito!), atualização dos álbuns de fotos(acho que teve um fotógrafo). Aquela webdesigner Stella (uma feioza da primeira edição) cuidaria do site, a Cida (que ganhou uma edição, não sei qual) faria a comida do povo, o Bambam, a segurança (acho que só para isso ele prestaria).

Ah e os BBBs mais abastados poderiam doar suas roupas para bazares em prol dos ex-BBBs sem fama, além de sempre falar da associação durante suas entrevistas e procurar recolocações profissionais no mercado de trabalho do Projac e afins. E, tal e qual tem aquela associação no terminal Tietê para ajudar os migrantes que acabam de chegar do Nordeste, esta linda entidade beneficente estaria de braços abertos e ofereceria todo o seu apoio para recepcionar aqueles que acabam de sair do Paredão (afinal, a experiência deve ser mesmo muito traumática).

Só falta uma coisa: o nome. Pensei no Movimento dos Sem Casa, já que foram eliminados da casa da Globo, mas poderiam ser confundidos com os participantes da Casa dos Artistas. Aceito sugestões.

P.S.: Este post nasceu depois de ler sobre o aniversário da Natalia Cassarola.

P.S.2: Acho que outro objetivo desta ONG deve ser reconhecer ex-BBB como profissão no Ministério do Trabalho. Já reparou que toda matéria diz assim "o ex-BBB fulano de tal" como se isso fosse profissão. Nunca li nada do gênero "o comerciante beltrano, que participou da X edição do BBB..."

Viva a natureza?




Buenos Aires, Argentina

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Surto

Cena 1. Int. Redação. Dia.

CHEFE 1 e CHEFE 2 estão fazendo reunião de pauta no começo da manhã para decidir os assuntos do dia. IVY não participa da reunião porque não é chefe, mas escuta.

CHEFE 1: Então, hoje temos um surto de diarréia no Guarujá, mais de mil pessoas foram para o hospital com diarréia.

CHEFE 2: Como é de praxe, também estamos cobrindo o presidente, que está de férias no Guarujá.

Num canto da redação, IVY começa a pensar.

IVY (pensando, nuvens estão cercado seu delírio acima da cabeça): Mas o Lula estes dias tava andando na praia de sunga com aquele isopor na cabeça...ele é mó farofeiro...será que estas pautas aí não podem ser como o Pantene, dois em um? Meu Deus, já pensou a manchete? O presidente Lula, que passa férias no Guarujá, deu mais uma prova de sua popularidade e empatia com os populares: na manhã desta sexta-feira, Lula queixou-se para dona Marisa estar sofrendo de diarréia? Além de Lula, outras mil pessoas deram entrada no hospital esta manhã? Aff, que bizarro, tomara que isto não vire notícia e...

CHEFE 1 interrompe os delírios de Ivy, que estava completamente distraída.

CHEFE 1: Ivy, você conseguiu checar se a água vazou lá na zona leste?

IVY ("acordando" do delírio assustada): Ah sim e eu também vi que...

Câmera mostra CHEFE 1 chamando outra repórter enquanto IVY pega o telefone pela nona vez somente na manhã para checar mais uma informação com a fonte. Fade out.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Motu proprio

“Justiça com as próprias mãos? É muita justiça pra pouca mão!”
M.Rivolti, 61, brasileiro, é o mesmo autor desta aqui.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O trabalho enobrece o homem?



Buenos Aires, Argentina

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carta para toda vida

A luz da lua cheia queimava a pele de Cristina: finalmente ela estava em chamas e nem a pouca chuva que caiu naquela noite de verão fez acalmar seus pensamentos e anseios. Olhando para o marido que deitava em sua cama, ela não conseguia fazer muita coisa a não ser se confundir ainda mais com tudo aquilo que vivia. Com o coração latente, pegou suas mãos e prendeu o cabelo em um coque, deixando sua nuca à mostra. Vestindo um pequeno pijama, ela simplesmente sentou-se à frente de sua máquina de escrever e com os dedos fortes começou:

"Sebastian,

Meu coração está cheio e as minhas mãos vazias. Olho para o céu e lembro de você. Só consigo entender minha vida, minha nova vida desde que você chegou nela, olhando pro céu e lembrando daquela noite quente e feliz de verão.
Não sei como dizer tudo isso o que tenho para dizer. Vou tentar dizendo apenas que o amor, este estranho amor que eu sinto por você, é diferente de tudo o que eu já senti. Você me fez entender no meu coração e sentir com o meu perdão o que significa algo que leio desde os 13 anos: 'Se tu diz que vem às quatro da tarde desde às três eu começo a ser feliz'. Porque era assim que eu me sentia quando começava às duas da tarde. Porque você chegava às três e o seu sorriso estaria lá para me iluminar.
Quando me lembro de tudo, de tudo o que vivemos em tão pouco tempo, entendo porque você é imprescindível: com você eu posso ser quem eu sou. Aliás, não é que eu posso ser, eu simplesmente sou. E você sabe disso. Você sabe que eu preciso desesperadamente de carinho e de atenção e de comida. Você sabe quando eu preciso de banho quente e torta frita. Você sabe me colocar no seu coração e me fazer especial. Você sabe que a distância me faz mal apenas com um olhar. Você sabe ser o lugar onde quero ir e a pessoa com que quero estar. Você sabe ser a pessoa que eu quero falar à meia noite porque simplesmente é. Não tem adjetivos, é simplesmente sentido. E eu só sei que você é a razão do meu afeto.
Sabe Sebastian, eu muito amei na vida. E muito amo. Amo meu marido de um jeito que só eu posso amá-lo, amo os meus filhos de um jeito que só eu sei amar. Amo os meus amigos. E amo também o meu cachorro. Assim como amo a minha família e como amo a vida e tudo que nela tem para ser vivida. Mas, de todos os meus amores, você é o que eu melhor sei amar. Dos amores que eu tive ou os que tenho, você é o melhor. Eu te trouxe para cá de outras vidas. Mas, in my life, I love you more.
Eu só quero te dizer que você é especial. Que neste mundo todo você pode ter uma certeza: que alguém lhe ama independente do que você ame. E isso é para sempre."


Cristina sentiu que o peso que estava no seu coração entrou todo em seus dedos: eles doiam de tanto datilografar. Mas ainda faltava uma coisa e, antes de deitar e beijar o marido, com a caneta Cristina adicionou:

"Para Sebastian, o melhor dos meus amores. Cristina, verano de 1972."

E só conseguiu ler esta carta aquele que muito amou.