segunda-feira, 1 de março de 2010

Trim Trim



A única coisa boa de esperar em consultórios é ler revista, penso eu. Só um minutinho, dona Ivy, a doutora já vai lhe atender. Por que as pessoas sempre pedem um minutinho sendo que sempre demora mais que um minutinho? Ah, a pilha de revistas!

Claudia Leitte. Ivete Sangalo. Fernanda Lima. Por que as revistas femininas não colocam homem na capa? Os homens não colocam mulheres nas capas deles? Bem, o que estou pensando, estou no consultório da dermatologista, óbvio que só vai ter revista feminina. Como não sou de carnaval, vou de Fernanda Lima mesmo.

Folheio uma página. Duas, três, procurando alguma dica útil de beleza ou uma reportagem- barata- de moda. Uma, em particular, me chama atenção: será que o toque do seu celular espanta os homens? Espanta os homens? O que espanta homem hetero, meu Deus do céu? Eles já são iguais aos duendes, existem apenas na ficção, e agora a gente espanta eles? Pelo celular ainda por cima? Como é que é isso, meu Deus?

"Discreta? Descolada? Cafona? Exibida? É, minha cara, o toque que você escolhe para o celular se transformou no mais novo cartão de visita que carrega por aí. Da música que está no topo da parada de sucessos a mensagens estranhas, as possibilidades são infinitas. E os gatos usam, sim, essa moderna pista para sacar um pouco da personalidade da dona do telefone. Quer saber o que os bonitões andam pensando a seu respeito? "

Quer dizer que agora o meu celular, ou melhor, o toque do meu celular é cartão de visita? Desde quando isso? Por que ninguém me avisou? Deixa eu ler as opções.

Alternativa arriscada: “Quando ouço um celular tocando samba ou tecno, imagino na hora a garota em uma balada desse tipo”, revela Cássio Mairinque, 29 anos, designer. “E imediatamente penso se ela tem ou não a ver comigo.” Em outras palavras, você pode atrair pretendentes ou afastar os que não curtem o mesmo estilo de som. “Dependendo da música, confirmo minha impressão e me aproximo. Mas se ouço um pancadão, por exemplo, dificilmente chego junto”, conta o advogado Daniel Oliveira, 30 anos. É, meu toque está longe de ser da balada, penso eu. Bem, o risco de ser descartada por isto eu não corro.

"Se você sempre baixa a música que está bombando nas rádios, pode se dar bem na paquera. “Acho legal ver que ela escolheu um som estiloso, tipo Coldplay ou Jamie Cullum”, fala Adolfo Machado, 23 anos, analista de trade marketing. “A gata ganha um ar descolado.” Se bem que o tiro pode sair pela culatra, caso paquere um homem que prefira outro tipo de som. “Trabalhava com uma garota que adorava música sertaneja”, lembra João Victor Guedes, 26 anos, advogado. “Sempre que o celular tocava, ouvia: ‘E hoooje eu te amoooo... Não vou negaaar’ [de Victor & Leo]. Achava insuportável.” Eu nem sabia o que era Vale Night, nem Lobo Mau, muito menos sei quem é Victor e Leo. Ai, to salva, eba!

"Tradicional trim trim: rssa opção, assim como a de deixar o aparelho no modo silencioso ou vibratório, a faz parecer discreta e objetiva. “No escritório, várias colegas optam por toques marotos”, diz o analista de marketing Fabio Vendramini, 33 anos. “Mas acho que os tradicionais incomodam menos.” Passo... "Escolher a canção de abertura de Sex and the City pode virar um código e fazer você conhecer quem também é fã do quarteto. Mas não significa que usar um toque à la 007 é um bom negócio para atrair os homens. “A feminilidade está em cada detalhe da mulher”, analisa Pablo Martini, 34 anos, empresário. “Outro dia vi uma garota linda passar e, quando o celular dela tocou, ouvi ‘Tropa de elite, osso duro de roer...’ Perdi o tesão na hora”, conta Pablo." Gente, homem perde tesão por cada coisa...

"“Atende o telemóvel!” ou “Maria, alguém te liga” podem ser escolhas ousadas — e perigosas. O mesmo vale para som de animais. “Estávamos em um grupo de amigos e na mesa ao lado havia uma mulher com um celular que tocava toda hora, com um mugido de vaca!”, diz Paulo Taddone, 31 anos, analista de seguros. “Não preciso dizer que ela virou motivo de piada.” Tem mais: se o toque chama seu nome, pode dar a impressão de que faz o tipo exibida que deseja ser reconhecida na multidão..." Passei direto...

Toque personalizado: esse ganha nota 10 no quesito criatividade. “Acho legal eleger um toque diferente”, diz Marcio Moreira, 29 anos, consultor jurídico. “Gosto dos que parecem modernos e ao mesmo tempo sutis, meio low profile. As que apostam nesses têm mais chances comigo”, fala ele. Pode ser uma música que tem tudo a ver com o seu estilo de vida, uma canção composta por você mesma... João Victor concorda: “Acho bom ouvir sons personalizados; descontrai o ambiente e dá a ideia de que a mulher é animada e descontraída”.


Senhora, pára tudo AGORA: o meu toque não consta na lista! Meu Deus, o que será que os homens pensam de mim? Como é que esta revista não levou em conta o meu toque de celular? E agora, como eu vou descobrir? Ai meu Deus, tá vibrando, não o vibrador, o celular mesmo. Um clássico do final dos anos 70. Ah, meu Deus, Deus ouviu minhas preces, um homem hetero me ligou e vai me falar o que meu toque significa.

- Oi Ivy, tudo bem, pode falar?
- Eu já iria te ligar mesmo. Se você fosse homem, quer dizer, desculpe, você é homem e hetero, é a falta de hábito de falar com hetero, perdão. Mas se você estivesse num bar e estivesse afim de mim e tocasse o meu celular, o que você acharia de mim?

Um segundo de silêncio.

- Você é você mesma ou o clone da Gisele Bundchen?
- Eu sou eu mesma.
- Você está com um decote superpoderoso que valoriza o seu poder 46?
- Não.
- Você está usando saia curta preta e salto alto?
- Também não.

Eu, no meu vestido jeans, me olhava enquanto ele fazia mais um minuto de silêncio. Não morreu ninguém meu filho, responde logo o que o toque do meu celular diz sobre mim. Sem entender, eis que ele finalmente fala:

- Se você não está usando blusa decotada e nem saia curta eu estou afim de você por que mesmo? Qual que era a sua dúvida mesmo?
- Nevermind...

Como eu costumo dizer...homem hetero, quando existe, só se importa mesmo com uma única coisa, que todo mundo sabe o que é. Depois desta, deixo a Fernanda Lima, a Ivete, a Claudia Leitte, todo mundo de lado e vou cobrar da atendente para doutora me atender depressa.

E o toque do meu celular é Bad Reputation, Joan Jett.

"Depois que vi como são feitos, nunca mais comi salsicha nem li jornal." Mark Twain. (Da Ivy: o mesmo vale para as revistas)

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