segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Volta às aulas



Nossa, como é difícil estacionar aqui! Como não me dei conta de que é tão difícil estacionar, que as ruas aqui são tão estreitas? Eu passei nesta rua durante dois anos e nunca me dei conta disso... deve ser porque na época eu nem sonhava em ter carro, ou melhor, em dirigir.

Uma vaga, ufa, consegui parar. Está meio longe, mas da para ir. Por que considero longe sendo que eu fiz este mesmo trajeto a pé durante dois anos? Não, olhando assim, com as pernas (um pouco) maiores não é tão longe. Olho a fachada, mudaram as estações e nada mudou, mas eu sei, alguma coisa aconteceu, está tudo assim, tão diferente. O portão continua o mesmo, sempre aberto. O pátio me parecia maior, bem maior mas com apenas três passos eu cheguei na secretaria. A quadra também parecia maior naqueles tempos em que a gente escrevia o cabeçalho todo santo dia no caderno. E o nosso jardimde hortênsias e azaléias não estava mais lá, nem o parquinho.

Ali, mais uma dúvida. Proibida a entrada de alunos. Eu era... ex-aluna, poderia então entrar? Tem mais de 20 anos que eu não estudo nesta escola, mas mesmo assim, ainda me sentia aluna. Procurei pela diretora- tão estranho estar na diretoria da sua escola mesmo que você não tenha feito nada de errado. Uma vez aluna, sempre aluna.

Uma senhora pequena e japonesa me olha com espanto: quem eu era, o que estaria fazendo ali? Oi, eu sou a Ivy, eu fui alfabetizada aqui. Oi Ivy, você foi aluna da Tia Terezinha então? Sabia que ela faz ginástica no Pelezão? Puxa, adoraria rever a Tia Terezinha, ela que me ensinou a ler e a escrever, hoje eu vivo disso... Vou falar para ela entrar em contato com você, ela vai adorar. E como está a escola? Vocês não ensinam mais o beabá para as crianças? Não, hoje nossos alunos entram para fazer a quinta série e saem para faculdade, este ano cinco saíram para a USP, no ano passado foram oito e todos os anos sempre volta um para saber como estamos. E como vocês estão? Eu deveria me aposentar há dois anos, mas não consigo, esta escola me motiva demais- nossos alunos estão sempre entre os melhores da rede pública e o fato de você voltar aqui, 20 anos depois de ter saído, é uma prova de que estamos no caminho certo. Na verdade não tem 20 anos que não venho aqui... a minha mãe vota aqui, ela não transfere o título porque ama a escola, a gente fazia parte da escola, ou melhor, a escola fazia parte da vida da gente. Você morava aqui perto? Sim, eu morava no BNH. E você continua morando lá? Não, hoje eu moro na Vila Leopoldina. Ah, então você ainda mora perto. Pois é, moro. Sabe Ivy, tem muita coisa para fazer aqui...nossos alunos antigos são sempre bem vindos aqui. Nossa, eu adoraria voltar. Tem tanta coisa aqui para você fazer... oficina de leitura, de redação, nós temos alunos que não enxergam, que não andam, temos alunos que estão fazendo curso técnico, temos tantos alunos.. sós os matriculados são 1.500, mas tem os que são como você, que sempre voltam... sabe, você deveria escrever no seu blog sobre a sua visita.

E foi assim que em uma tarde chuvosa de fevereiro eu voltei para a minha escola- desta vez, na condição de amiga.

Para os alunos novos, os alunos antigos, os professores novos, os professores antigos, para os diretores, os funcionários, o pessoal da cantina, para todos que, como eu, ainda amam a Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Di Cavalcanti, o nosso querido Dica.

Um comentário:

Martha Lange disse...

Nossa!!!! esse texto me causou uma super nostalgia!!! lindo lindo! amei!
beijocas