sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carta para toda vida

A luz da lua cheia queimava a pele de Cristina: finalmente ela estava em chamas e nem a pouca chuva que caiu naquela noite de verão fez acalmar seus pensamentos e anseios. Olhando para o marido que deitava em sua cama, ela não conseguia fazer muita coisa a não ser se confundir ainda mais com tudo aquilo que vivia. Com o coração latente, pegou suas mãos e prendeu o cabelo em um coque, deixando sua nuca à mostra. Vestindo um pequeno pijama, ela simplesmente sentou-se à frente de sua máquina de escrever e com os dedos fortes começou:

"Sebastian,

Meu coração está cheio e as minhas mãos vazias. Olho para o céu e lembro de você. Só consigo entender minha vida, minha nova vida desde que você chegou nela, olhando pro céu e lembrando daquela noite quente e feliz de verão.
Não sei como dizer tudo isso o que tenho para dizer. Vou tentar dizendo apenas que o amor, este estranho amor que eu sinto por você, é diferente de tudo o que eu já senti. Você me fez entender no meu coração e sentir com o meu perdão o que significa algo que leio desde os 13 anos: 'Se tu diz que vem às quatro da tarde desde às três eu começo a ser feliz'. Porque era assim que eu me sentia quando começava às duas da tarde. Porque você chegava às três e o seu sorriso estaria lá para me iluminar.
Quando me lembro de tudo, de tudo o que vivemos em tão pouco tempo, entendo porque você é imprescindível: com você eu posso ser quem eu sou. Aliás, não é que eu posso ser, eu simplesmente sou. E você sabe disso. Você sabe que eu preciso desesperadamente de carinho e de atenção e de comida. Você sabe quando eu preciso de banho quente e torta frita. Você sabe me colocar no seu coração e me fazer especial. Você sabe que a distância me faz mal apenas com um olhar. Você sabe ser o lugar onde quero ir e a pessoa com que quero estar. Você sabe ser a pessoa que eu quero falar à meia noite porque simplesmente é. Não tem adjetivos, é simplesmente sentido. E eu só sei que você é a razão do meu afeto.
Sabe Sebastian, eu muito amei na vida. E muito amo. Amo meu marido de um jeito que só eu posso amá-lo, amo os meus filhos de um jeito que só eu sei amar. Amo os meus amigos. E amo também o meu cachorro. Assim como amo a minha família e como amo a vida e tudo que nela tem para ser vivida. Mas, de todos os meus amores, você é o que eu melhor sei amar. Dos amores que eu tive ou os que tenho, você é o melhor. Eu te trouxe para cá de outras vidas. Mas, in my life, I love you more.
Eu só quero te dizer que você é especial. Que neste mundo todo você pode ter uma certeza: que alguém lhe ama independente do que você ame. E isso é para sempre."


Cristina sentiu que o peso que estava no seu coração entrou todo em seus dedos: eles doiam de tanto datilografar. Mas ainda faltava uma coisa e, antes de deitar e beijar o marido, com a caneta Cristina adicionou:

"Para Sebastian, o melhor dos meus amores. Cristina, verano de 1972."

E só conseguiu ler esta carta aquele que muito amou.

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