domingo, 29 de novembro de 2009

Ticket to Ride

- You know, London calls me everyday.
- Hi, ivy, maybe it is time to call it back, don't you think?

Eu levei dois meses para entender este conselho, que hoje vejo: sim, foi o melhor do ano (valeu Bronze, thanks a lot!). Quando a lua cheia é iminente no céu e nenhum dos seus amigos está disponível para sair, é hora de você entrar dentro de você mesma. E isso inclui Londres, mesmo que não haja ninguém para jantar fora com você em um domingo à noite e você realmente precisa de uma refeição decente.

Nesta hora, simplesmente vá de escova ao mercado e escolha o melhor medalhão de filet mignon. Simplesmente despreze o bacon, ah, estes bacons, quem garante que foram feitos do jeito digno de fazer um bacon? E simplesmente passe reto pelo corredor das cervejas: é pecado beber uma Guiness sozinha ou sem ter a quem brindar (como é que você pode fazer isso com a gente?). Escolha os melhores legumes, pois agora além de ser decente, sua refeição tem que ser saudável. E com os 17 reais que lhe restam, compre uma Chandon rosè e vá para casa, pensando como deve ser feliz sentir o calor em Londres, já que você experimentou o doce e amargo frio da capital do mundo.

Lembre-se que you have a date with Paul e é melhor chamá-lo logo. Nesta hora, não fique triste por não estar em Trafalgar Square nem por não estar surtando na H&M com o Jimmy Choo... simplesmente ignore que Londres está a algumas horas, algumas libras e um período de férias de descanso e simplesmente sinta, ou melhor, reviva o momento em que desceu naquela gare ouvindo inglês novamente- ah, English! Lembre de toda a emoção nos seus olhos e aquele velho espírito que lhe dizia "sim, você já morou aqui, tantas e tantas vidas atrás, welcome back to your life".

Lave bem os legumes em água corrente enquanto se lembra de que lá a água escorre pelo lado inverso. E lembre-se de quando Londres era apenas um sonho- e que você amava tanto. E que quando finalmente virou realidade, você passou a amar mais. Escolha o tempero ideal para esta ocasião: curry. Desde sempre Londres foi empestiada por indianos e eles têm the best curry em the world. Jogue tudo na sua quinoa, sem sal, e comece a cantar alto "take a sad song and make it better". Abra os olhos e veja pela London Eye Londres brilhando única e exclusivamente para você, no maior presente que poderia existir na vida.

Grite todos os gritos dados na borda do Tâmisa, de todo o sentido que aquela neblina lhe fez sonhar e de como até hoje você quer processar a Fergie por ter usado a London Bridge como uma metáfora babaca para buceta. Sinta novamente aquela paixão descontrolada pelo Chelsea e de como aquele sotaque britânico no Tube faz a vida mais linda.

Nesta hora é o momento que você chega a Abbey Road e sente saudades dos seus irmãos, que um dia moraram ali. Você surta quando fala com eles por telefone, ei, estou em Londres, é a droga mais poderosa do planeta e ri da cara da rainha, que pela primeira vez não está longe de você, está ali, do outro lado do parque com folhas amaraledas. E assim você se lembra de Eight days a week e de como aquela música pode significar tanto para você- e para Londres.

Seus sentidos estão em Convent Garden e no melhor fish and chips de Londres, segundo a Lonely Planet, é bom ressaltar e de como você só quer estar ali, sentir ali, viver ali. Até dormir é melhor ali e as cervejas, ai, sempre as cervejas, te tiram da órbita mas não consegue te tirar de Londres. Pausa para o momento de xingar mil vezes os fabricantes de palmito porque fazem o pior vidro de abrir sozinha. Que droga, você pensa, e começa a blasfemar. Blasfemar, vale aqui dizer, não o fato de você morar sozinha e não ter um namorado para abrir o pote e sim pela sua treinadora ficar batendo papo contigo ao invés de fazer você pegar firme na musculação.

Você se sente feliz por ver aquelas bolhinhas subirem na sua taça ao mesmo momento em que sente elas subirem no seu sangue. E da graças a Deus por ter feito parte de Londres durante seis dias- e por hoje Londres fazer parte de você para sempre. Você nunca mais estará sozinha, agora finalmente você entende: você tem Londres e há de sentir pena daqueles que não a tem em seus ossos e em seu sangue. Você ri se lembrando da guitarra do Kurt Cobain e de como você realmente tentou roubar a bateria do John Bonham e de como virou a sensação na duana ao falar que ia para Londres ver um show do Foo Fighters em duas línguas e de como sonhava que o Brian May participasse cantando qualquer coisa, menos I was born to love you.

Nesta hora sua quinoa está pronta e você vai fritar o medalhão. Esta é a última rodada de bolhas e você precisa ver Londres, mas comer Paris, ou algo que pelo menos taste like Paris. Você joga a mostarda au cognac nos champignons e lembra que é hora de voltar para Gare du Nord e que não é mais hora para odiar Paris- afinal, Paris é sua casa e foi seu começo, não é culpa dela que seja seu fim, o fim de um sonho. Com o prato pronto, você senta para comer enquanto o Paul simplesmente canta para você- e ninguém mais além de você- que something in the way she moves...

E simplesmente foda-se que você está apaixonada e ele não liga! Porque sim, você pode até mesmo pegar o TGV mas nunca mais, repito, nunca mais, você vai deixar Londres. Sorry, honey, but London is part of you now, just like that lunch in San Diego, when you sold your hair to the air and promissed yourself that La Joya was part of you. Todas as imagens começam a se misturar e tudo começa a fazer o mais absoluto sentido até você se dar conta- ow, I am the fucking luckest girl in this world.

O calor da frigideira produziu uma fumaça atípica e na hora que você se senta, sozinha, em sua cozinha sente novamente a London Fog. Thank you Thiago, you were right: it was about time to call London back.




To Jules- foda-se o Julian Lennon, ele realmente escreveu Hey Jude para você.

2 comentários:

Jules disse...

QUE LINDA!!!!!!!!!!!!!
Pra já nos meus favoritos!

Nirtu disse...

Guinness é para qualquer momento... É a maior prova que Deus existe e nos ama. Beba sempre que quiser e eseja mais próxima do criador.