Por uma razão que nem Freud explica, eu sempre fui uma menina-menino. Este conceito, claro, não existe nos escritos do grande gênio vienense, mas na prática funciona assim: eu gostava de brincar de boneca, casinha e cozinha (a preferida), mas não dispensava carrinho de rolimã, bolinha de gude, bafo e todas as outras coisas de menino. Como eu não enxergava direito, todos os esportes com bola me pareciam meio ingratos por causa dos óculos e apenas por esta razão eu não fiquei uma fanática por futebol.
Olhando para trás, vejo que eu tinha tudo para isso: meu pai, que tem sete filhos, três deles homens, sempre me levou pra ver seus jogos (ele joga bola quatro vezes por semana). E como ele AMA futebol, se eu quisesse usufruir a companhia dele nas férias tinha que ficar vendo e ouvindo as partidas de futebol na TV e no rádio, eu ficava.
Mas se eu não virei fanática por bola, não me considero totalmente desafortunada: considero meu grau de conhecimento apenas como moderado- eu sei que o cara de preto é o juiz, mas não sei escalar, de cabeça, a seleção de 70, incluindo os reservas. No meio deste céu e desta terra, até que sei um pouco de coisa sobre esta vão filosofia das quatro linhas.
Se meus conhecimentos em futebol são moderados, em outra área, vamos assim dizer mais masculina, minha cultura é bem mais avançada. Esta incrível área do conhecimento se chama rock and roll, gênero musical que é a minha fonte de beber desde que eu me entendo por gente. Além da minha água e minha pinga, o rock and roll sempre foi o meu maior hobby. Na vida prática, significa que eu prefiro visitar o Whisky a Go Go ao invés do museu de arte de Los Angeles e por aí vai. Minhas viagens, por exemplo, sempre foram traçadas com o objetivo para aproveitar e sentir o rock, não à toa eu passei um mês na California pirando.
E se tem homem que escuta coisas de porque o goleiro usa uma roupa diferente, eu já ouvi asneiras do tipo "Nossa, o Keith Moon é o melhor guitarrista da face da Terra" e perguntas do tipo "AC/DC é Antes de Cristo e Depois de Cristo?" e coisas do gênero de homens. E eu nunca falei: "Nossa, como você é idiota, só poderia ser homem mesmo".
Engraçado é que não só eu, mas qualquer mulher que fala de futebol escuta isso com frequencia. Sei disso por experiência própria e próxima, pois minha melhor amiga cobre futebol e escuta as coisas mais impróprias que se pode imaginar. E olhando para tudo isso hoje eu me pergunto: quem falou que o futebol é de vocês e só de vocês? Por que vocês insistem em fazer comentários maldosos e machistas? O futebol, assim como o rock and roll, não tem sexo, é universal, é um fenômeno de entretenimento de massas.
O que eu acho mais engraçado disso tudo é que são os homens que mais perdem com o machismo. À medida que eles perpetuam coisas do tipo "mulher não entende de futebol" eles também obrigam que os homens entendam. E se um coitado do sexo masculino prefere golfe ele é completamente humilhado pelo fato de não saber quem é o técnico do Santos?
Além do machismo, acho que no que tange ao futebol os homens gostam de associar competência com conhecimento e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Conhecimento não ajuda uma pessoa a ser competente. Para o competente, conhecimento só ajuda. Com o conhecimento, o incompetente não consegue fazer nada.
Portanto, o fato de ter ou não ter conhecimento sobre um determinado assunto, futebol, por exemplo, não me torna uma retardada, incapaz de escrever um texto coerente e bem argumentado sobre a minha preferência pelo Flamengo no Campeonato Brasileiro. Em nenhum momento eu me coloquei como sábia da montanha e passei a explanar as capacidades técnicas e os estilos de jogo de cada equipe, eu simplesmente discuti a coerência de ter um time hepta campeão no país- e este time poderia ser o São Paulo como qualquer outro. O fato de ter um pouco de conhecimento sobre rock and roll não me autoriza a ser dona de gravadora ou jurada do Supernova.
Do outro lado, vejo a minha amiga querida sendo vítima do machismo de pessoas incopententes e babacas- que querem justificar o injustificável o tempo todo usando "argumentos" ridículos como "nossa, mas você é mulher". É sabido hoje que o futebol está repleto de homossexuais, seja em campo ou fora deles. Quer dizer que um repórter mocinho- gay ou não- que consiga o furo do ano vai ser ridicularizado no meio da redação por um sem-noção que irá dizer que ele só conseguiu por que deu o cu pra fulano? Preconceito e sexismo é falta do que fazer, na minha sincera opinião.
Eu acho que estamos no ano de 2009 e não faz mais sentido ter primeiro, segundo e terceiro sexo. Mesmo porque, estamos todos no mesmo time, o dos seres humanos. E já passou da hora de começarmos a todos torcemos por ele.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
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