segunda-feira, 9 de novembro de 2009

The Wall

"Good Girls go to heaven, Bad Girls go to Berlin"

Quando eu vi o Coliseu pela primeira vez, a única coisa que eu conseguia pensar era: "Dai me um Corneto, é mui cremoso, é da Gelatto, siempre um Cornetto". Acho que porque quando eu era criança, pirava nas imagens da Itália que o comercial do sorvete mostrava. Quando eu cheguei ao Muro de Berlin pela primeira vez eu pensei: nossa, o mundo, um dia, foi dois. Que bom que hoje ele é um só!

Hoje, aos 20 anos da queda do Muro, eu lembro da história que meu pai costuma contar quando falamos da Alemanha. Pedro Bial, então correspondente da TV Globo, fez uma matéria em que mostrava uma velhinha que durante mais de 28 anos deveu um livro para biblioteca. Em 89, ela voltou ao local onde anos antes emprestara o periódico dizendo: "Desculpe o atraso, é que construíram um muro aqui no meio e eu não consegui entregar este livro".

Se esta ê a história que guardo do Muro, guardo muitas outras de Berlin. Tirando Genève, não há outra cidade na Europa em que o verão seja tão lindo quanto em Berlin. Depois de ter sofrido um dos invernos mais rigorosos dos Estados Unidos, com temperaturas como - 24 graus Celsius, cai em Paris sedenta por sol nas vésperas do 4 de julho, ponto alto do verão no hemisfério norte. Naquele dia e nos seguintes, não fez sol. Chovia e o céu era nublado, uma decepção para esta soteropaulistana criada sob o sol.

Ao contrário dos vampiros, eu era sedenta por sol. E matei a minha sede em uma semana de Berlin, onde me estirava no Tiergarten para sentir as maravilhas daquela luz natural na minha vida. Fiz, claro, todos os programas que se deve fazer em Berlin: enchi a cara de cerveja com os alemães (não tente fazer isso em casa, eles têm uma resistência maior à cerveja e vão bebendo. a gente nem percebe que está bêbada de tanto rir), fiquei no melhor albergue da minha vida de mochileira, o Circus, fui para o campo de concentração, fui no BierGarten e desde então eu sonho em abrir o meu próprio em São Paulo, caminhei pela East Gallery, conheci o que um dia foi a Bahaus...

De todas as minhas memórias de viagem- e não foram poucas, 16 países, um montão de cidades- acho que Berlin é a lembrança mais alegre de todas. Voltei tão mais feliz de lá que até hoje minha melhor amiga e sócia Renate Krieger lembra de mim quando vai para lá. Mesmo sendo teuto-brasileira, a minha repórter favorita da Deutche Welle conheceu Berlin depois de mim. E, como eu, ela sempre se alegra quando anda pelas largas ruas daquela cidade, que, pelo menos para nós, tem um pouco do calor do nosso país.

Hoje guardo no coração o amanhecer em Berlin (sim, eu vi o dia começar na cidade, looonga história) e o entardecer da janela do albergue, enquanto esperava as minhas roomies se arrumarem para sairmos. Eu sou mais eu em São Paulo, mas, se por alguma razão muito forte tivesse que sair daqui, eu escolheria Berlin: talvez por não ter tido a oportunidade de ver Berlin sob a neve, acho que gostaria de ver suas transformações a cada estação do ano.

Gosto do fato que nas bancas de jornal de Berlin se venda a Cosmopolitan em russo. Gosto do fato de que em Berlin as pessoas são educadas, solicitas. E gosto sobretudo do fato de que Berlin é geminiana como eu (deve ser por isso que eu me senti tão à vontade lá)- a união e as diferenças delas me encantam como poucas cidades no mundo conseguem ser.



Ich bin ein Berliner!
Berlin Wall, summer of 2005.

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