Já aviso logo: sou amante do futebol, principalmente dos homens que amam futebol, mas não sou, nunca fui e nunca serei xiita. Sou amante do bom futebol, não apenas aquele futebol arte encenado nos campos- sou amante do futebol como expressão brasileira. Traduzindo: embora eu goste de visitar estádios pelo mundo a fora, futebol para mim só tem sentido quando é do Brasil, não a seleção canarinho. Futebol é expressão de brasilidade e defendo seu tombo como patrimônio cultural imaterial do país há tempos.
O futebol faz parte do brasileiro, o brasileiro faz parte do futebol. As duas instituições não podem ser separadas, é tipo pão com manteiga, Romeu e Julieta, o mar e Iemanjá. Por isso, como amo o Brasil, eu amo futebol, é consequência do coração.
E, falando em coração, sim, eu tenho um time de coração. Chama-se São Paulo Futebol Clube e eu sou da leva de torcedoras que foi convertida graças ao são Raí (vou aqui fazer uma preciosa citação ao Macaco Simão que disse que com o Raí em campo o São Paulo nunca perdia feio…) numa não longinqua década de 90. Nunca fui fanática ou apaixonada, mas sempre admirei e amei o clube, do meu jeito torto e desligado de ser.
Inclusive, eu sou a maior pé quente da história do São Paulo! Explico: um ex-namorado, são paulino roxo, me levou para ver um jogo no Morumbi como nosso first date. Naquela época, o tricolor estava na frente do campeonato brasileiro e iria enfrentar o Fluminense em sua casa vazia (foi por isso que ele me levou, segundo ele não colocava a minha vida em risco). E o São Paulo ganhou de 6x0, e ainda teve dois gols anulados! Incrédulo, achando que aquilo era sorte de principiante, o dito cujo passou a me levar ou a assistir comigo todos os jogos… e as façanhas se repetiam. Até que ele terminou comigo e eu, puta, parei de assistir. Não deu outra: naquele ano de 2002 o São Paulo foi desclassificado pelo Santos, o time do meu pai a umas três rodadas do final.
Anos depois, reencontrei com este ex, que depois passou a ser chamado simplesmente de Traste (advinhe por quê?), depois de um jogo do São Paulo e Santos pelo campeonato paulista de 2006, meu pai me levou ao estádio. Ele me procurou depois que o nosso time simplesmente detonou o Peixe em pleno Morumbi. Não era que ele me queria de volta, ele queria o campeonato, mas enfim, deixa para lá.
Acontece que tirando estas duas vezes em que eu estava com raiva, eu sempre torci pro São Paulo, claro. Mas hoje, às vésperas de mais uma final de campeonato, eu não penso em colaborar com o meu pé quente para o hepta por um motivo que parece absurdo: eu estou torcendo pro Flamengo.
Antes de me jogarem pedras e xingarem a minha mãe, leiam pelo menos os meus motivos. Antes de gostar do São Paulo eu amo o futebol e não acho sadio para o futebol brasileiro ter um hepta campeão. Pelo menos não assim, tão fácil.
O São Paulo é o melhor time do Brasil atualmente, isso é um fato incontestável. Sua estrutura, suas campanhas, seu orçamento bem administrado. Os caras são realmente profissionais, posso dizer porque já fiz matéria com o clube. Só que deste jeito que a coisa anda, acaba perdendo a graça. O São Paulo está virando a Meryl Streep do futebol, ganha todas. E acaba ficando sem graça competir com quem ganha todas. Em suma, o São Paulo está tirando um pouco da diversão do campeonato, que é apostar, fazer o bolão, esperar pelas novas manobras. Se futebol é uma caixinha de surpresas, o São Paulo acaba sendo o KinderOvo: sempre tem chocolate e brinquedo, nunca muda.
Além da hegemonia, acho que o hepta do São Paulo não teria muitas conotações democráticas. Ora, que país somos nós que temos um hepta campeão e ninguém consegue chegar perto dele? Se o futebol é reflexo da cultura brasileira, o que é o retrato verdadeiro da nação com este time que ganha todas senão uma falsa democracia, onde ganham apenas aqueles que têm mais dinheiro? Que as oportunidades são para aqueles que estudam mais, se organizam mais? E onde está o todos são iguais perante a lei?
Enquanto isso, do outro lado do campo, temos o Flamengo, a maior torcida do mundo, time cuja origem remete à elite, clube centenário que já faz parte do imaginário popular, objeto de culto como personagens e canções, se pá até romance já deve ter inspirado.
O Flamengo vinha de uma fase decadente, salvo engano. E superou. Quer exemplo melhor para o brasileiro? Entre os exemplos, destaco também o Adriano, que trocou o dinheiro e o gelo do futebol europeu para vestir a camisa de um time do seu país. Isso é um bem danado para a nossa auto-estima, é uma forma de exorcizar o nosso complexo de vira-lata, como bem teorizou Nelson Rodrigues. Vai ser aquela velha coisa, se o Flamengo conseguiu, eu também consigo…
Se as condições do campeonato fossem outras, com outro time de elite brigando pelo título, era capaz que eu ficasse um tanto quanto dividida, só me restariam os argumentos do hors concours. Mas como o concorrente direto é o povão…
Sinceramente, pense o que o mundo está achando de nós (se você sabe o que se passa no futebol espanhol e no inglês, eles também sabem do nosso, acredite): que somos um país de um clube só? Já pensou se um gringo resolve fazer a tese de doutorado sobre o futebol brasileiro e constata que o único time com bons resultados recentemente é o São Paulo? O que vão pensar da gente, que o futebol brasileiro funciona a base de mala preta?
Como são paulina, acho ótimo que o clube leve mais esta. Mas como brasileira… eu só posso torcer pelo bem do futebol. E acho que, neste caso, o melhor mesmo é democratizar o título de Campeão Brasileiro!
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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2 comentários:
Se eu comentasse, seria um comentário altamente sexista, então nem vou falar nada.
foi por isso que o são paulo perdeu esse hepta a culpa e sua hahhaha sou são paulina tb. ae por favor so torce pro tricolor.quanto mais o spfc ganhar mais vamos ser reconhecidos pensa bem.
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