terça-feira, 7 de abril de 2009

Impedimento



O bar não era muito grande, mas de longe dava para ver que estava lotado, o que faz um pouco de sentido numa balada no coração dos Jardins, na hypada rua Mario Ferraz. A maior ironia é que a festa era da carne num lugar de nome de santo, o Santoantônio, que estava a todo vapor para abrigar a noite de lançamento da Playboy de julho. Na entrada, meninas de pernas bem torneadas, shorts e chuteiras brincavam de fazer embaixadinhas, no melhor estilo da homenageada da capa, a bandeirinha Ana Paula Oliveira.

Gente bonita e bem vestida, todos estavam super à vontade no ambiente repletos de bolas, coelhinhas da Playboy(mas daquelas de verdade, com rabinho, orelhinha e gravatinha) e drinks free. A maioria de homens, claro. Jovens, bonitos, bem vestidos e interessantes, os moços do Santoantônio desfilavam sem aliança em nenhum dos dedos. A balada era de solteiros, naturalmente. E gays, porque a noite de São Paulo é para tudo e todos, até quando o ambiente é- ou deveria ser- tipicamente hetéro.

Os homens atentos, não desgrudavam o olhar da parede da entrada. A concentração era tanta que nem a mais gostosa que passasse os faria virar a cabeça. Vários e vários "uh" de esperança e "ah" de desapontamento: não, não era sobre a chegada da estrela Ana Paula e sim o jogo do Brasil e Uruguai que era a atração da noite naquele salão.

Ana Paula chegou num vestido cinza e sandálias de salto alto. Muito sexy. Mas ninguém parou para ver porque ainda era o segundo tempo e o Brasil ganhava de 2 a 1, num gol de última hora de Júlio Batista, aos 53 minutos do primeiro tempo. A vitória parecia certa quando Abreu empatou para o Uruguai nos 24 minutos do segundo tempo. Mais um grito de droga. E Ana Paula lá, sendo assediada pela imprensa- e só.
Os homens continuavam na sua epopéia dos gramados. Vencer o Uruguai não era só uma questão de garantir vaga na final da Copa América, era também de honra já que os vizinhos de azul nos tomaram o caneco na final de 1950.

Tudo bem, aos trancos e barrancos o jogo foi e acabou nos emocionantes pênaltis. A emoção estava alta, todos juntos num vibração que lembrava a Copa do Mundo. Todo mundo torcendo, gritando e se perguntando "Quem é esse Fernando, que entra agora e ainda perde um pênalti?". Outros xingavam o goleiro e como brasileiro não é torcedor, é técnico, se indignavam o que afinal Doni fazia ali.

E Ana Paula? Não, hoje ela não bandeira jogo nenhum(nem que bandeirasse, ela está de licença e na segunda divisão). Ah, a Ana Paula! Ela está lá, recebendo a imprensa e dando autógrafo para as fãs. Sim, porque os fãs estavam vendo o jogo, claro, O coro da galera era para o uruguaio Lugano, que errou o último pênalti.

Não seria estranho que numa festa para mostrar as fotos de uma mulher pelada que os homens prestassem atenção em… outros homens? E ainda11, mais especificamente? E Ana Paula? E as coelhinhas? E todas as modelos contratadas para embelezar o salão? Não rola azaração? Não!!! Ana Paula, do escanteio, não estranha o fato de ter ficado de fora deste jogo:
- Futebol é paixão. E para os brasileiros, a maior paixão que existe
no mundo. Eles vibram mais com o gol do que comigo. Aliás, vibram mais com gol do que com qualquer uma, por mais gostosa que seja.

Críticas à parte, a moça entende bem do assunto já que é bandeirinha- e gostosa. Convivendo com os homens há 13 anos, Ana Paula já aprendeu o que toda mulher deveria saber: com futebol não se compete. Se entrar no campo, além do cartão vermelho a derrota é certa. Só ganha se for de W.O. E impedir… se nem a bandeirinha peladona conseguiu, alguma mortal irá?

Esta crônica ganhou status de matéria em julho de 2007, quando eu era repórter do Jornal da Tarde. Enquanto não coloco textos novos, vou republicando uns antigos que eu gosto só para não deixar a Lygia triste.

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