Era uma noite de desenho animado clássico da Disney: lá estava a minha irmã caçula dançando, ao som da música tema de A Bela e A Fera, uma valsa com meu pai. A resposta mais óbvia para a pergunta de o que se pode fazer numa festa de 15 anos quando você tem 25 era beber, naturalmente. E beber muito. E se esbaldar na pista de dança com a sua irmã e primas da mesma idade e curtir o fato de que naquele lugar você era uma tia velha- porém gostosa.
Lá pelas tantas, a cerveja teimava em sair do meu corpo e me dirigi ao banheiro feminino. Certos grandes produtos da humaninade como sabão para lavar calcinhas no chuveiro sairam da cabeça de uma mulher. O tal banheiro da festa foi projeto de uma arquiteta, sem sombra de dúvida: sabendo ela que as mulheres se reunem no banheiro para conversar, sabiamente ela colocou divãs e sofás para as moças sentarem e conversarem. Conversarem no banheiro.
Após a saída da cerveja, só me restou sentar para descansar já que minha turma de mulheres de 25 anos não estava ali e eu não teria com quem falar mesmo. Eis que me entra uma adolescente perguntando quem havia ficado com o menino de preto, porque o menino de preto quis ficar com ela e com a amiga dela e estava ficando com todo mundo na festa. Já que eu era tia mesmo resolvi dar um conselho para a adolescente aflita:
- Menina desencana e sai do zero a zero. Fica com o menino de preto porque os cafajestes sempre valem a pena, nem que seja como experiência profissional. Quando você tiver a minha idade você vai ficar feliz por ter ficado com o menino de preto ou infeliz por não ter ficado.
A adolescente aflita ouviu a voz bêbada da experiência. Neste momento entra- sem ser sequer chamada- uma terceira adolescente na conversa. E começa a provocar a tia bêbada, se aproveitando de estar em clara vantagem por estar sóbria e no clã etário dela.
- Quem é essa ai Moni?, pergunta a vagabunda para minha prima Monique, tão adolescente e respeitável no banheiro quanto ela.
- Ela é irmã da aniversariante, respondeu Monique indicando que eu não era penetra, eu aliás, fazia- e muito- parte da festa.
A tal vagabunda começa a disparar coisas deselegantes, dizer que esta que vos escreve é gorda(realmente é, mas sem problemas), que está bêbada(realmente estava) e mal vestida(estava com um vestido bárbaro assinado por Carlos Miele. Não, não estava não). E eu falando para ela que estes conceitos que temos aos 15 anos são inúteis, que uma hora a gente ri disso tudo e que curte a vida como ela merece ser curtida. Não obstante, a vagabunda começa a falar mal da aniversariante, sim, a minha irmã, a menina de 15 anos mais linda do mundo. E que na festa DELA estava um arraso. Sem contar que a festa dela foi a festa do ano, a mais comentada na escola, no ballet, no inglês…
A cerveja e o cigarro foram fortes mas não o suficiente de tirar me o resto de lucidez. Falar mal da minha irmã a vagabunda até que podia. O que ela nõa podia de jeito nenhum era falar mal da minha irmã na festa de 15 anos dela, na qual a vagabunda poderia comer, beber, se divertir e conversar no banheiro sem pagar um tostão. Foi ali que me dei conta: aquela garota era uma vagabunda. Coitada, tão nova e já uma vagabunda. Uma galinha baby. E para sempre seria uma vagabunda. Porque mulher de verdade não faz este tipo de comentário, não zoa com bêbados, mulher de verdade tem mais o que fazer, mesmo que esta mulher tenha só 15 anos de idade. Mulher de verdade bebe mesmo quando não tem idade para beber(bebi muito guaraná),se diverte mesmo quando não dá para se divertir e só fala mal de outra mulher para as amigas, destilando o veneno da roupa feia que a concorrente escolheu. Mulher de verdade não arruma confusão e não perde tempo com quem não é para se perder.
Naquele banheiro repleto de garotas que ainda frequentavam a escola veio como num flashback as memórias de todas as vagabundas que passaram pela minha vida, dos meus 15 anos até os dias de hoje. Historicamente as vagabundas sempre existiram e sempre existirão, estava ali a vagabunda em treinamento para me provar isso. Num futuro próximo será ela a amiga que roubará o namorado da melhor amiga, a que fará fofocas no trabalho, enfim, atanazará a vida das mulheres de verdade.
Mas eu, mesmo bêbada, ainda era uma tia na festa e resolvi aproveitar para usar minha autoridade como tal: levantei me e disse para ela que rosa era uma cor para poucas e realmente ela não era uma delas. Ao retrucar, perdi a minha paciência e como estava bêbada demais para dar um tapa na bunda dela, puxei com força o cabelo da dita cuja e disse:
- Olhe bem para você: você é uma vagabunda, nasceu uma vagabunda e sempre será uma vagabunda. Quanto a mim, eu sou, fui e sempre serei a presidente do clube. E até as minhas descendentes serão presidentes, estarão sempre no topo da escada hierárquica das mulheres. E a minha irmã é sim a mais bonita e gostosa desta festa.
Depois desta, claro, ela não teve o que dizer. Tentou ficar por cima da carne seca, mas o próprio clã dela apoiou a tia mais velha. Na saída, duas meninas que não faço idéia de quem são vieram me abraçar. Uma delas sabia o meu nome e me mostrou o tal menino de preto. Ele estava ficando com outra na hora mas ela me garantiu que não perderia uma próxima oportunidade com o garoto. Esta sim me provou que se existião para sempre as vagabundas, existirão as presidentes, diretoras e associadas do clube. Sempre.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
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