quarta-feira, 22 de abril de 2009

Alô?

Se o Graham Bell soubesse o caos que ele criaria nas relações amorosas, ele nunca teria inventado o telefone. Não faço a menor idéia de como era a vida pré-telefone, mas sei bem o que é ficar e esperar um telefonema depois do dia seguinte.

Eu sou do tempo em que só havia uma Coca-Cola no mundo (já percebeu quantos sabores existem hoje? Zero, limão, light, etc) e que o telefone era aquele aparelho que ficava em local de destaque na sala. Não havia segunda linha e nem identificador de chamada. Hoje vejo que aqueles tempos eram literalmente mais fáceis porque a gente poderia usar como desculpa que o telefone ficou ocupado ou que aquela ligação de engano era ele tentando ver se estávamos em casa. Que doce ilusão…

Hoje não. Com o celular que atende todas as linhas imagináveis, caixa postal, identificador de chamadas e tudo mais que existe o fato do bichinho não tocar é porque… não era pra tocar. Não temos mais como nos iludir. E nem deixar de esperar.

Quem teve a idéia de criar um telefone portátil só pode ter sido uma mulher. Para mim, o celular teve o mesmo intuito que a máquina de lavar: libertar a mulherada. Hoje podemos nos dar o luxo de sair, mas não conseguimos nos desvencilhar do verbo esperar conjugado ao ligar.

Mesmo podendo ir ao shopping, à praia ou qualquer outro canto do planeta, não conseguimos nos livrar deste aparelhinho esperando ele ligar. Hoje a minha amiga me perguntou: mas por que você quer tanto que ele ligue se você não quer sair com ele?

A minha primeira resposta foi que não sabia. Sei lá, mesmo quando a gente sabe que a relação está fadada ao fracasso, não consegue deixar de esperar. Parece que o trim-trim (credo, que coisa velha, o ringtone, seja qual ele for) é um atestado de qualidade, algo que lhe informa que a ficada foi boa, que seu beijo é bom e que ele quer mais (mesmo quando ele não quer). E que não há nada de errado com VOCÊ (pelo menos comigo). E, claro, tira toda a responsabilidade das suas costas. Se não der certo é porque ele não ligou

Uma amiga minha pecou e só não se arrependeu porque foi bom: ficou com um cara casado, pobre e que tinha um gosto musical para lá de duvidoso. Mesmo a bola ter rolado muito bem nos dois lados do campo, ela não queria ver o sujeito nem que ele trouxesse um par de sapatos Jimmy Choos e uma caixa de Godiva porque seu detector para confusões soou em alto e bom som. Mas, sabe se lá por quê razão, a senhorita não esperou o telefonema do macho que nem para ser reprodutor servia? E ficou pensando: "Será que nem para amante eu presto? O que tem de errado comigo?". Infelizmente, o cara ligou, duas semanas depois é bom dizer. E ela saiu mais uma vez porque naquele dia não queria ficar no zero a zero (dito e feito: ganhou de goleada). Esperou de novo. E resolveu ela mesma ligar. Ligou e achou que o cara era um babaca e caiu fora de vez.

Depois de ouvir o relato dela, me perguntei por que nós, que vivemos num mundo em que Simone de Beauvoir já habitou a Terra e mostrou que somos o segundo sexo mais forte do planeta, não temos domínio sobre este maldito aparelho? Por que a gente se recusa a ligar? Por que quando a gente liga parecemos idiotas? Ou por que ainda temos medo da reação deles? E por que, mas por que, eles não LIGAM Deus do céu?

E quando eu comecei a usar o MSN, achei que iria ficar livre de uma vez por todas da espera do tal telefone. Como dizem os gaúchos, capaz… agora, graças ao meu querido Bill Gates, fico presa na frente do computador, esperando ele entrar, esperando ele falar comigo… Ai, não é a toa que espera é um substantivo feminino.

Um comentário:

Bibi disse...

Eu subverto o ditado: quem espera sempre cansa!