domingo, 30 de novembro de 2008

Nova rota

Quando eu morava em Paris, fui visitar uma amiga minha em um dos pontos mais extremos da cidade. Era um lugar longe, muito longe, que não me lembro qual era. E nem era bonito, tinha muitos prédios, todos comerciais. Fiquei surpresa por ter encontrado um bairro à la Berrini em plena Paris, famosa por construções antigas, ruas de paralelepípedo. E fiquei feliz por ter descoberto mais aquele canto na cidade Luz.

Hoje me lembrei daquele passeio graças ao convite do Regis, amigo querido da faculdade, que me chamou para ver A Reserva, peça excelente da Marta Goes, com elenco encabeçado por irene Ravache. O teatro fica na Avenida do Café. Não sei o bairro, só que fica perto do metrô Conceição. Em resumo: era longe.

Convidei o Olavo, que recusou o convite exatamente por conta da distância. Chegando lá, Regis zombou da minha cara e quando disse que meu + 1 tinha me dispensado por causa da longura, ele falou que esta a desculpa mais comum que ouvia. Longe em São Paulo é totalmente relativo. Eu levei 30 minutos para chegar no teatro. Estacionei na rua sem nenhum menino, flanelinha ou qualquer guaridão das ruas me abordando pedindo dinheiro. E lá descobri um pedaço da cidade que não conhecia, mas que tinha um quê daquele canto inesperado de Paris.

Na volta, fiquei pensando no que Irene Ravache falou: "Por favor, divulguem o teatro". Como o Cosipa não fica no miolo dos Jardins, era meio que rejeitado, apesar de ter uma acústica incrível. Da última vez que fui ao Borboun, que é do lado de casa, eu levei 45 minutos para chegar (com os faróis e as ruas sem saída) e para encontrar uma vaga no estacionamento numa odisséia estressante. Quando que na rua Augusta eu acharia uma vaga assim de boa? E para atravessar a cidade num dia de domingo foi tão relaxante que nem me dei conta que me tomou meia hora da minha existência para assistir uma peça que valeu muito a pena.

Em tempos de Google, não tem desculpa não se achar. Com um clique eu peguei o mapa e descobri onde era a avenida do Café. No carro fiquei me perguntando porque a avenida era do Café, sendo que os barões do café moraram mesmo na Paulista. Pensei nas pesoas que moram naquele bairro, que parece ser tão interior, se a vida na zona sul é muito diferente da zona oeste. Como diz Regininha, "seria muito chato se eu soubesse tudo porque não teria espaço para a sua grande imaginação".

Achei bacana a iniciativa da Cosipa, de fazer um teatro naquela região, que levou entretenimento para aquele público.

Fiquei me perguntando porque as pessoas são como o Olavo, que tem medo da distância. Ou melhor, por que as pessoas tem tanto medo do desconhecido? Por que o terror em descobrir sua própria cidade? Em descobrir um novo caminho, saber os cantos da própria casa. O que eu mais gosto na vida é poder conhecer os lugares, saber onde fica a avenida do Café, que é só ir pela Pedro Bueno que eu caio nela. Acaba sendo mais um jeito de sentir São Paulo, de viver na metrópole. Viver de verdade.

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