quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Novo dia

São seis horas da manhã quando o despertador toca. Você acorda meio sonolenta e lembra que o adiantado da hora se justifica porque você tem uma missão: entrar ao vivo no rádio nos próximos trinta minutos com notícias atuais da sua cidade. Ai mais sonolenta ainda você abre o e-mail para checar se tem alguma novidade, alguma coisa muito urgente, de última hora mesmo par os seus ouvintes e se depara com as seguintes manchetes na sua caixa de entrada:

SEIOS FARTOS VIRARAM A PREFERÊNCIA NACIONAL.

Até dois anos atrás a maioria das cirurgias plásticas realizadas no Brasil eram lipoaspirações. Segundo a última pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica pela primeira vez no país o número de implantes de silicone (96 mil) ultrapassou o número de lipoaspirações (91 mil).

Aí você pensa que está realmente nos braços de Morfeu e que aquilo nada mais é que um sonho seu. Até começar a virar pesadelo.

Já se foi o tempo em que a morena do bumbum grande e o peito pequeno era o modelo de feminilidade brasileira. Esse estereótipo deu lugar ao padrão de beleza feminino das americanas: seios fartos e cintura fina. Inspiradas no corpo da boneca Barbie que invadiu o Brasil nos anos 80 o gosto da mulher brasileira mudou. O bumbum foi perdendo seu reinado e agora a bola da vez são os seios.

Nesta hora você vê que não está dormindo, muito pelo contrário, e que aquela notícia não faz sentido algum estar na sua caixa de entrada de e-mails, já que você cobre política e economia. Mais alguns segundos depois você lembra que desde que o mundo é mundo você usa soutien 46 e que o fato de você ter peito grande não te ajuda em nada a conquistar homem nenhum (mesmo morando em São Paulo, eu ainda to na seca) e você se dá conta que aquela notícia não faz sentido algum em nenhuma editoria. Aí você começa a avaliar o conteúdo do texto: "a bola da vez são os seios". Não deveriam ser as bolas?

Aí você lembra que tem que dar as notícias do dia para os seus leitores e você começa a olhar os outros e-mails. Até que você para no seguinte:

Raul Cortez comemora três anos e 601 espetáculos

Raul Cortez, o ator? Ele não tinha morrido?

E aí você se dá conta que não, você não estava dormindo mesmo. Só é mais um dia que começa no louco mundo das redações em São Paulo Lake City.

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