segunda-feira, 19 de outubro de 2009

No Games, Just Sports



Eu sei que a maioria das pessoas que frequenta este blog são mulheres. Na maioria dos casos, mulheres não gostam ou não entendem ou odeiam futebol. A menos que você se chame Joanna de Assis, leitora e BF mais que fiel, você provavelmente nunca ouviu falar da seleção de Costa do Marfim. A seleção da Costa do Marfim é uma das piores do mundo, é do tipo que entra nas listas das mais bizarras em todas as competições. Imagine por alguns minutos que por uma destas incríveis oportunidades da vida, você faz parte da seleção da Costa do Marfim, não como reserva e sim como a artilheira do time. Você está na Africa do Sul em 2010 porque passou nas eliminatórias, mas não tem nenhuma esperança de levar o título.

Uma vez na Africa do Sul, você descobre que a sua agenda não tem apenas atividades como fazer um safari ou visitar o Mandela: sim, você vai jogar. E vai jogar contra o Brasil, sim, ela mesma a melhor seleção do mundo, a canarinho. Você pensa em desistir, pois sabe que não tem a menor chance de ganhar do Brasil já que é a Costa do Marfim. Mas, por um momento, você pensa que jogar a toalha, literalmente, não é a única opção: você pode entrar no jogo e perder, que é o mais óbvio. Ou você pode entrar em campo e até empatar. Ou, numa destas oportunidades nunca imaginadas, você pode até ganhar do Brasil!

Em todos os casos, você terá um resultado compatível com a sua escolha. Caso entre e ganhe, você ficará feliz pelas próximas semanas e contará a história para todas as gerações. Caso você ganhe e empate, você ficará feliz por ter entrado e até orgulhosa por não ter protagonizado um fiasco. Mas se você perder, você vai ficar triste, muito triste, se descabelar toda e esquecer dos seus outros compromissos (visitar o Mandela, fazer um safari, compras). Mas, ao final da Copa, ou do ano ou em algum momento da sua vida, você simplesmente verá que foi apenas um jogo. E que passou.

E ai, o que você faz? Você entra no jogo ou perde por ter caído fora, a tradução literal para o W.O. (Walking Over)? E, neste caso, você nunca saberá como poderia ter sido a partida.

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Pensou? Eu usei o caso da Costa do Marfim porque sou filha de um santista fanático que me dá lições de vida usando fórmulas de futebol (que funcionam, acredite). Mas pense que no caso você não é mais a Costa do Marfim, você é você mesma. Você não está na Africa do Sul, você está confortavelmente em seu país quando você conhece um cara. Mas não um cara qualquer, um cara que tem algo que diz que não vai dar certo. Ou ele é muito mais novo. Ou ele acabou de se separar e tem problemas em se comprometer. Ou ele é casado. Não importa o "se" dele, no momento ele não oferece nenhuma pista que vocês, um dia, caminharão rumo ao altar.

E ai, o que você faz? Fica com ele mesmo assim, mesmo sabendo que não vai dar em nada? Ou fica com ele mesmo correndo o risco de se machucar? Ou simplesmente ignora o cara? Mas, neste último caso, você pode ficar pensando o que pro resto da sua vida o que poderia ter sido.

A gente pode até falar que a vida é injusta, life sucks, etc. Mas a gente não pode dizer que não temos escolha. Nós sempre temos como escolher, mesmo quando é mais difícil. Eu estou pensando neste exemplo há meses e só escrevi hoje porque finalmente cheguei à uma conclusão, a minha conclusão é bom dizer. Você pode ficar com o cara errado e se divertir por um tempo. Ou, em uma probalidade mínima, pode até ficar com ele e ser feliz para sempre. Ou você pode simplesmente... sofrer. Sofrer muito. Ficar traumatizada. Mas, uma hora ou outra, isso passa. Tal e qual na Copa, você vai ver que foi só um jogo.

A minha amiga Ana Poletto me ensinou que a nossa vida é um grande bolo e que cada coisa nada mais é que uma fatia, nunca um total. Um emprego é só um emprego. A faculdade é só a faculdade. E um namoro... é só um namoro. O bolo não deixa de existir porque uma fatia está em pedaços. Ele continua ali.

Claro, ninguém quer sofrer. Mas o medo do sofrimento, em muitos casos, se materializa em medo de viver. E nisso a gente deixa de entrar em campo com a nossa melhor camisa para fazer um belo jogo. A minha vó uma vez me disse que “não interessa se o cara é solteiro, viúvo, casado, o importante é namorar". Como disse a minha prima, primeiro você faz um test drive, até para ver se você vai querer mesmo assinar o contrato e ficar com o carro por um bom tempo da sua vida.

O problema é que o estrogênio faz com que a nossa mente funcione com expectativas. Great Expectations. E por conta delas e o nosso inacreditável sonho de viver um conto de fadas mesmo antes do cara dizer sua banda preferida faz com que a gente se feche, o que no fundo é o reflexo do nosso medo de viver, ops, sofrer.

Ah, já ia esquecendo de dizer a minha conclusão. Bem, depois de muito pensar e refletir, de modo geral eu sou a favor de entrar em campo. A minha opinião, claro, não é a correta. Não existe certo ou errado, muito menos neste caso; claro que acho que cada um tem a sua história e os seus motivos antes de decidir se joga ou não. Eu mesma avaliaria se vale a pena ou não porque cada caso é um caso. Mas, no fim, o que importa mesmo não é competir?

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