Desde Roma antiga que os governantes já sabem: o povo precisa de pão e circo. Os romanos, claro, sábidões até não poder mais, estavam tão certos que suas lições- incluindo esta que comecei o texto- não só resistiram como se adaptaram aos novos tempos.
O pão, claro, continua sendo feito com água, farinha, ovos. Quer dizer, hoje tem pão com centeio, pão com aveia, pão com azeitona, enfim, tem pão de tudo.
O circo, como era de se esperar, também mudou. Em tempos de politicamente correto, se divertir vendo bichos executando as mais diversas tarefas não tem graça nenhuma- além de ser proibido por lei. O que resta então a nós, humanos demasiados humanos, para nos entreter? Nós mesmos!
Hoje, os bichos foram substituidos por homo sapiens. Não, não estou falando do Cirque de Soleil. Preparamos a pipoca e o guaraná para ver a entrevista dos Nardonis e da Ana Carolina Oliveira no Fantástico. Damos risadas das lágrimas da menina Maísa e acompanhamos mais a vida do Max e da Francine (quem?) do que o casal da novela das oito, ops, nove.
Os hits do YouTube são o Obama matando uma mosca, ninguém quer saber o que ele disse sobre o Irã, a crise financeira internacional: todo mundo quer ver o presidente dos EUA como um… mero mortal, destes que matam moscas.
A ficção simplesmente perdeu a graça. Ninguém mais lê Jane Austin, Mark Twain, Monteiro Lobato. O interessante é ler os diários virtuais de uma mulher que perdeu o marido pouco antes de dar à luz ou do homem que cria sozinho a filha porque a mulher morreu um dia depois do parto. Ninguém mais segue novela, o povo segue o Twitter, acompanha blog, xereta no Orkut. Hoje as maiore audiências da TV são o caso Eloá, o acidente da Air France, a ascensão da Susan Boyle, enfim, estas coisas reais (incluindo Big Brother, claro) do que os filmes e novelas.
Acho que o último personagem de ficção que eu me lembre de ter inspirado as massas foi o Harry Potter. Isso porque as crianças (ainda) não descobriram quão saboroso pode ser esta realidade apimentada. Sim, porque a pimenta nos olhos dos outros não é só refresco, é também diversão.
Fico me perguntando por que nós nos tornamos bichos de nós mesmos, como a realidade pôde ficar tão saborosa. O que os bichos fizeram para perder a graça? Nada, nós que passamos a perseguir a perfeição que viramos robôs. Esquecemos, ou pior, passamos a ver com maus olhos qualquer sinal de imperfeição- ou seja, humanidade.
Eu me pergunto como os romanos puderam ser tão inteligentes em uma única era? Na época do Coliseu, eles sentenciaram que a humanidade seria mesmo baseada no pão e no circo, mesmo que este último não tivesse lona e fosse substituido por eletrônicos como a tv, o celular e o computador.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do patio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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3 comentários:
Não há longe, teu mundo a ilha
Tens andar gingão mesmo à maneira
O verde é manto que te afaga os pés
O mar é o teu azul por cabeceira
Passos ao encontro
Alma cheia de cor e ilusão
Braços abertos à aventura
O mundo na palma da mão
Bom fim de semana
Mágico beijo
omos todos um bando de homo sapiens em desenvolvimento ainda .
;~
nossa,a-dorei o blog x)
ta uito fofo ;*
Adorei... vc é muito boa!!!!!!
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