quinta-feira, 18 de junho de 2009

Respeitável público, o homem!

Desde Roma antiga que os governantes já sabem: o povo precisa de pão e circo. Os romanos, claro, sábidões até não poder mais, estavam tão certos que suas lições- incluindo esta que comecei o texto- não só resistiram como se adaptaram aos novos tempos.

O pão, claro, continua sendo feito com água, farinha, ovos. Quer dizer, hoje tem pão com centeio, pão com aveia, pão com azeitona, enfim, tem pão de tudo.

O circo, como era de se esperar, também mudou. Em tempos de politicamente correto, se divertir vendo bichos executando as mais diversas tarefas não tem graça nenhuma- além de ser proibido por lei. O que resta então a nós, humanos demasiados humanos, para nos entreter? Nós mesmos!

Hoje, os bichos foram substituidos por homo sapiens. Não, não estou falando do Cirque de Soleil. Preparamos a pipoca e o guaraná para ver a entrevista dos Nardonis e da Ana Carolina Oliveira no Fantástico. Damos risadas das lágrimas da menina Maísa e acompanhamos mais a vida do Max e da Francine (quem?) do que o casal da novela das oito, ops, nove.

Os hits do YouTube são o Obama matando uma mosca, ninguém quer saber o que ele disse sobre o Irã, a crise financeira internacional: todo mundo quer ver o presidente dos EUA como um… mero mortal, destes que matam moscas.

A ficção simplesmente perdeu a graça. Ninguém mais lê Jane Austin, Mark Twain, Monteiro Lobato. O interessante é ler os diários virtuais de uma mulher que perdeu o marido pouco antes de dar à luz ou do homem que cria sozinho a filha porque a mulher morreu um dia depois do parto. Ninguém mais segue novela, o povo segue o Twitter, acompanha blog, xereta no Orkut. Hoje as maiore audiências da TV são o caso Eloá, o acidente da Air France, a ascensão da Susan Boyle, enfim, estas coisas reais (incluindo Big Brother, claro) do que os filmes e novelas.

Acho que o último personagem de ficção que eu me lembre de ter inspirado as massas foi o Harry Potter. Isso porque as crianças (ainda) não descobriram quão saboroso pode ser esta realidade apimentada. Sim, porque a pimenta nos olhos dos outros não é só refresco, é também diversão.

Fico me perguntando por que nós nos tornamos bichos de nós mesmos, como a realidade pôde ficar tão saborosa. O que os bichos fizeram para perder a graça? Nada, nós que passamos a perseguir a perfeição que viramos robôs. Esquecemos, ou pior, passamos a ver com maus olhos qualquer sinal de imperfeição- ou seja, humanidade.

Eu me pergunto como os romanos puderam ser tão inteligentes em uma única era? Na época do Coliseu, eles sentenciaram que a humanidade seria mesmo baseada no pão e no circo, mesmo que este último não tivesse lona e fosse substituido por eletrônicos como a tv, o celular e o computador.

O Bicho
Vi ontem um bicho

Na imundície do patio

Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.


Manuel Bandeira

3 comentários:

O Profeta disse...

Não há longe, teu mundo a ilha
Tens andar gingão mesmo à maneira
O verde é manto que te afaga os pés
O mar é o teu azul por cabeceira

Passos ao encontro
Alma cheia de cor e ilusão
Braços abertos à aventura
O mundo na palma da mão


Bom fim de semana


Mágico beijo

Fabrícia Meira disse...

omos todos um bando de homo sapiens em desenvolvimento ainda .
;~
nossa,a-dorei o blog x)
ta uito fofo ;*

Coisas Estranhas Que Só Um Idiota Diz disse...

Adorei... vc é muito boa!!!!!!