segunda-feira, 15 de junho de 2009

História para ser contada

A Bibi deixou um recado no último post dizendo que estava com saudades das minhas loucas histórias. Faz sentido que minhas histórias sejam loucas, afinal, o nome do blog é Delírios Insanos de Ivy Farias. Quando comecei a blogar, escrevi que iria escrever o que eu quisesse, apenas o que eu quisesse. Se eu quisesse publicar receita de bolo, poema do Camões, dica de restaurante ou de loja, crônicas, contos e os meus mais doidos delírios, tava valendo. Eu achava que tinha uns pensamentos muito loucos, do tipo deixar um bilhete no vidro de um carro mal estacionado dizendo: "Estúpido, volte para a auto-escola!" (sim, eu pensei nisso uma vez que um idiota ocupou duas vagas ao invés de uma). Nunca quis fazer desabafos do tipo Carolina Dieckmann porque achava ridículo, achava que a vida da gente tinha que ficar restrita (e olha que nem sou artista pra não falar da minha vida pessoal, é só um jeito de pensar).

O fato é que tenho vivido uma história muito doida nos últimos tempos e como a Bibi disse que estava com saudades das minhas loucas histórias, eis aqui uma verdadeira, em tempo real para ser contada.

Como escrevi anteriormente, em janeiro eu me mudei para uma casa nova onde estava vivendo em paz e muito feliz. Disse estava porque já nem sei mais se estou. O fato é que os meus vizinhos, que eu considerava uma nova família, entraram em desarmonia. Tudo porque um vizinho, louco de cíumes, teve um chilique desgraçado. Não foi o primeiro e a então namorada dele deu um basta. Disse: "Tchau, não tô mais afim de viver deste jeito, vai ser feliz com outra pessoa porque eu não consigo ser feliz com você." Eu que já tinha visto tantos breakups na vida achei que este era mais um. Não era.

O ex-namorado da cidadã de bem, trabalhadora e boa pagadora de seus impostos, não se conformou com o fim que ele mesmo criou após tantas violências, agressões, crises e mais crises de cíumes e passou a persegui-la. Isso já tem um mês. No começo, eu, como boa irmã número 9, era a fiel ouvidora e conselheira, era acordada às 8h da manhã de um sábado- único dia que tinha para dormir até mais tarde- para ouvi-lô lamentar a vida. Ou então, gripada e sem voz, tinha que dar um jeito de me comunicar com ele para tentar acalmá-lo, fazer com que ele move on.

Eis que um dia, eu, desavisada, fui encontrar com a ex-namorada dele em seu local de trabalho. Ele, que parecia não ter nada melhor para fazer, tinha (ou tem, isso cabe a polícia dizer) por hábito vigiá-la, ficar de campana, sempre às escondidas, claro, na frente de seu trabalho ou de sua casa. Naquele dia que eu fui simplesmente fazer as unhas ele estava lá e fez a primeira ameça contra mim. Chamei a minha madrinha, que mora aqui do lado, e deu um chega para lá nele.

Passaram-se duas semanas e ele voltou a me procurar. Parecia o mesmo amigo de sempre. Mas como eu estava, ou melhor, sou ocupada e minha paciência tinha esgotado, parei de ficar alugando- ou melhor ainda- doando de graça os meus ouvidos. Ficou por isso mesmo até o dia em que estava saindo de casa na semana retrasada e fui atacada por este ser que me recuso a chamar de ser humano ou cidadão, tamanha sua covardia.

Com medo, fugi daqui. Durante a madrugada seguinte, ele me enviou uma mensagem de texto dizendo "Presta atenção antes de me ameaçar, você não sabe com quem está lidando. Presta atenção antes de me ameaçar porque está para nascer quem vai me por medo". Passei quatro dias fora.

Desde que voltamos para casa, estamos em estado de alerta. Meu tempo livre nas últimas semanas foi usado para ir à polícia, primeiro para registrar um Boletim de Ocorrência, depois para prestar depoimento. A polícia não pode fazer nada enquanto não ouvir duas testemunhas e instaurar o inquérito, são as formalidades da lei e não acho errado nada que venha da lei. Acho errado a bárbarie, a covardia, a estupidez justificada em nome do amor.

Nos últimos tempos, não entendi ainda o que é o pior: se o sentimento da fragilidade, que é ver que de uma hora para outra você sim, corre risco e que "ganhou" um inimigo para sempre (quem me garante que ele não vai querer se vingar de mim mais para frente?). Ou se é você ouvir da sociedade- como eu ouvi de um amigo quando pedi ajuda- o que eu tinha feito para me meter nisso, que eu buscava confusão, como se a errada e a culpada fosse eu, que literalmente não tenho nada a ver com a história. Ou se é ouvir todas os impropérios que eu ouvi de alguém que eu só ajudei e aconselhei a tentar ser feliz. Ou se o pior é viver em estado de atenção e alerta, ter sua liberdade vigiada por alguém sem ter cometido algum crime. Ou se o pior é viver numa sociedade machista que acha tudo o que este X (por falta de expressão melhor) tem feito a mim e a ex-namorada dele é justificável, ver a falta de compaixão das pessoas e a maneira como todos gostam de julgar sem estar a par de todos os fatos. Ou se o pior é ouvir dos meus amigos para sumir, sair da minha própria casa que foi montada com tanto carinho, e deixar minha amiga ao Deus dará porque isso é- na visão deles- o mais fácil. Para mim é o mais difícil, porque eu não conseguiria conviver com o fato de que quando alguém mais precisou eu só pensei em mim e que além de não ter agido como uma amiga, também não agi como cidadã me esforçando para ver este infeliz pagar pelo que fez.

Tenho pensado em todas as mudanças que estamos tendo que fazer para ter um pouco mais de segurança e que ele, o agressor, está vivendo a vida dele normalmente, como se nada tivesse acontecido e ainda continua nos importunando com milhares de ligações e mensagens de texto. Tenho pensado que caso meus pais morassem na mesma cidade que eu, se meus irmãos morassem na mesma cidade, se meus primos fortes morassem, enfim, se eu tivesse uma família ou um namorado forte por perto este X estaria fazendo isso (eu acho que não). Tenho pensado que ele é louco, mas louco para mim é aquele que rasga dinheiro e acho que como sou sozinha nesta cidade, ele se acha no direito de despejar suas frustações em mim, pressupondo que eu não tenho como me defender ao invés de assumir seus erros, que adianto: não foram poucos.

Tenho pensado muito na Eloá, que pagou com a própria vida pelo simples fato de ter namorado um cara (quem disse que tem que morrer por que deu um fora?) e na Nayara, ou N. como prefere chamar o jornal Agora, que estava fazendo um trabalho de escola na casa da coleguinha e levou um tiro na boca pelo simples fato de ser amiga da ex-namorada de um covarde com uma arma na mão. E penso que tal e qual a Nayara não tinha nada ver com a história, eu também não tenho e estou sendo perseguida simplesmente porque um X não consegue aceitar que ele é o problema, que a ex-namorada não o quer de volta porque ele é um chato e pé no saco, além de ser ciumento e violento e não porque eu, sim, euzinha, esteja fazendo a cabeça dela.

Ninguém faz a cabeça de ninguém, assim como o amor que este X diz ter não é amor. O amor é algo maior e muito mais sublime. Quem não sente amor por pais, irmãos, amigos, enfim, ao mundo em que vive, não consegue amar alguém no sentido bíblico da palavra. O amor é formado por respeito a si e aos seus, depois a um(a) terceiro(a) que aparece eventualmente em nossas vidas. Eu fico pensando na mãe deste X e no que ele a está fazendo sofrer, que nem nela ele pensa, tanto que já confessou ter batido no pai, na mãe e no cunhado por causa da ex-namorada.

Infelizmente, a definição de amor do Aurélio é muito limitada e dá margens a interpretações das mais variadas, como amor é matar, perseguir, sufocar, denegrir. Não é. O amor não é nada disso. Seja na montanha russa ou na montanha encantada, o importante do amor é estar no parque de diversões, isto é, se divertir. O amor é ser legal e agradável para os dois, “é o estar preso por vontade". Amor não é ter ou pertencer, é querer e ser querido. Mas, infelizmente, tem gente que não pensa assim. E é por isso que eu acho que estas pessoas deveriam ouvir mais o Renato Russo, porque eu, assim como ele, acho que isso não é amor.

Mas como eu não sou a sábia da montanha e nem a Carrie Bradshaw, as minhas palavras não têm tanto peso. Por isso, publico agora as palavras daquele que entendeu bem do assunto e riscou em linhas nada tortas um soneto sobre o tema que coincide exatamente com o que eu penso. Confesso que estou cansada demais hoje para traduzir, mas se alguém que não entendeu quiser, deixa um recadinho com o e-mail que eu tento mandar a minha tradução caseira assim que for possível.

Sonnet CXVI

Let me not to the marriage of true minds

Admit impediments. Love is not love

Which alters when it alteration finds,

Or bends with the remover to remove:

O no! it is an ever-fixed mark

That looks on tempests and is never shaken;

It is the star to every wandering bark,

Whose worth's unknown, although his height be taken.

Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks

Within his bending sickle's compass come:

Love alters not with his brief hours and weeks,

But bears it out even to the edge of doom.

If this be error and upon me proved,

I never writ, nor no man ever loved.



William Shakespeare
(1564 - 1616)

2 comentários:

Ana Pinto disse...

Ivy, muito chato isso tudo. Lidar com gente descontrolada é muito ruim. Espero que vc encontre logo o melhor jeito de se livrar das ameaças sem ter que perder o conforto que tinha conquistado! Ana

Bibi disse...

What a mass! Não há conselhos para se dar, porque você já deve ter feito uma varredura de possibilidades e vontades. Esse cara é um covarde, porque quem tem que coagir para garantir "respeito" às suas idéias loucas é porque, no fundo, morre de medo. Minha prima foi perseguida até o namorado dela dar um coro no cidadão. Isso há mais de 20 anos. Hoje, o que fazer? As pessoas perderm a mínima nioção de razão e juízo. Ivy, procura um psiquiatra e pergunta qual a melhor maneira de enfrentar essa situação. Não para vc, claro, mas um profissional que seja especialista em encontrar o equilíbrio no que perdeu totalmente o senso. Esse seria meu melhor conselho. Não deixa de fazer alguma coisa e se imponha! Força e coragem!