quarta-feira, 29 de outubro de 2008

With a Little Help From My Friends



Há muitos anos sou amiga de um menino. Como ambos somos jovens, bonitos, a mesma profissão e um carinho mútuo um pelo outro, as pessoas não se conformam com o que temos seja "apenas" amizade. Há oito anos eu escuto a mesma pergunta: "por que você não cata ele?" ou "você não percebeu ainda que vocês foram feitos um para o outro?".

Sim, eu percebi que fomos feitos um para o outro tanto que somos amigos há tanto tempo. As pessoas vêem a amizade como uma coisa menor. Por que ser "só" amigo quando se pode ser namorados? Eu acho isso tão rídiculo porque, para mim, amizade tem tão ou mais valor que um namoro. O povo pensa que namoro é promoção de amizade.

Uma conhecida uma vez disse: "Você está só esperando o Gustavo dizer sim né?". A minha resposta foi: "Não, não tô não, porque nós dizemos sim um para o outro todo dia quando mais precisamos". Eu sei, amor é a amizade em chamas, mas não significa que uma amizade necessariamente tenha que virar amor, mas que o amor precisa ter amizade, há, isso precisa.

No fundo, eu não ligo para isso que o povo fala por um único motivo: a sociedade se desacostumou com o amor. Aliás, se desacostumou não só com o amor, mas com valores como educação, gentileza, respeito e, principalmente, amizade. Se um cara é muito educado, é gay. Se é muito carinhoso com você, tá te dando mole. E vice-versa. Por isso eu não estranho quando o povo diz que eu deveria era ficar com o meu amigo porque ninguém mais sabe o que é ser amigo hoje em dia como nós dois sabemos- e somos. Vêem e ficam espantados tanto quanto estivessem um porco da índia japonês num zoológico no Egito.

Enfim, eu só escrevi tudo isso porque estou indignada com o que tenho ouvido sobre a Nayara. Nayara, ou N., como o Agora prefere chamar, não preciso nem explicar, é a menina que voltou ao cativeiro para ajudar sua melhor amiga, Eloá. Todo mundo está chamando a menina de louca, aproveitadora, que queria aparecer. Se ela já tivesse 18 anos, certamente não faltariam convites para posar nua. Mas, como ela tem só 15, andam dizendo que ela vai entrar na próxima temporada da Malhação.

Digo de Nayara o mesmo que dizem de mim e do meu amigo: ela não é louca, apenas provou o que uma amizade verdadeira é capaz de fazer, como é capaz de ser. Todo mundo fala de Nayara, mas ninguém pensa o que esta menina deve ter representado para a outra nos seus últimos momentos de vida. Como Nayara deve ter sido importante para Eloá quando a única certeza que a menina tinha na vida era a de que veria a morte. Nayara não foi ombro, foi colo, foi coração, foi de corpo inteiro amiga. Foi guerreira, corajosa e, acima de tudo, aos 15 anos, foi uma grande mulher ao dizer que não se arrependeu e que faria tudo de novo, mesmo com tantas críticas.

O que eu acho engraçado é que todo mundo acha a Nayara louca e aproveitadora por ter ajudado uma amiga, mas quando se fala em Sex and The City, Friends. The Sisterhood of The Travelling Pants, todo mundo acha lindo. E, no fundo, Nayara é para Eloá o mesmo que Carrie é para Miranda, Samantha e Charlotte e o mesmo que Rachel, Ross, Phoebe, Monica, Joey e Chandler são uns para os outros: amigos.

Mas não, ninguém pensa isso. Será preconceito de colonizado porque as duas moravam numa cohab em Santo André enquanto os nossos queridos amigos desfilam por Manhattan? O povo fantasia com amizades verdadeiras como a dos filmes e condena uma amizade desta na vida real? Sim, porque amigos que se vêem todo dia e são capazes de largar tudo o que estão fazendo para consolar uma amiga abandonada na porta do altar no México, só mesmo no filme.

P.S.: Tirei esta foto do blog da Ana Estela. o crédito é de Fernando Donasci, que ficou 30 horas de plantão em Santo André para fazer esta foto que, além de me deixar com lágrimas nos olhos, me inspirou a escrever tudo isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Da Nayara eu nem vou falar nada, acredito que você já tenha dito tudo. Quanto à sua amizade de anos com o Gustavo, tenho CERTEZA que tem um bando de gente que, por mais que não fale, pensa: "Ah, ela é apaixonada por ele, mas ele não quer nada com ela! Aí ela se submete a isso". Como se ter o cara como amigo fosse "se rebaixar"! Valores, valores...