quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Don't come knocking


Atenas, inverno de 2005

Querido Meu Pai*,

Eu sei que você me acha louca, desde a mais tenra idade. Aliás, todo mundo me acha louca, não desde a tenra idade, mas enfim, acha. O fato é que eu concordo com a Rita Lee, que "louco é quem me diz e não é feliz". Meu professor de teologia explicou que o louco é aquele que acha normal aquilo o que a sociedade não acha. Bem, eu concordo em alguns pontos com a sociedade, eu acho é que a sociedade que não concorda comigo no quesito viagens. Ou pelo menos parte dela.

Eu sei que você, assim como todo mundo, acha loucura viajar sozinha. Colocar uma mochila nas costas, dormir em albergues, correr mundo de tênis. E que você não concorda muito com o fato de eu viajar, sozinha, para outros países em pleno Natal. Mas o que eu posso fazer se foi só no Natal que eu consegui folga? E, além do mais, desde os dois anos eu odeio o Natal- a fonte não poderia ser mais séria, afinal, ela me pôs no mundo e estava na hora que eu gritei de medo do Papai Noel.

O fato é que nós não somos cristãos mesmos, lemos O Capital (vai, eu li uns capítulos) e O Manifesto Comunista e a gente sabe que Natal é mais uma data ridícula pro povo gastar dinheiro. Falando em gastar dinheiro, eu também to pensando em gastar o seu...sabe como é, free shops e eu sou jornalista, o jeito moderno de fazer voto de pobreza.

Sei também que você está preocupado com o fato de eu ficar sozinha, mas eu tava lembrando que de todas as minhas viagens pelo planeta- e não foram poucas- não teve um dia que eu não fiquei sozinha. Por isso queria te contar da Grécia, que eu fiz um amigo, o Luiz (que por sinal mora na Ministro) e a gente conversa até hoje. E que no dia seguinte conheci o Pedro, o seu Farid e a dona Farida, uma família do Irã que mora em Campinas e eu queria muito retomar o contato para pegar de novo a receita do kebab. E de como a gente se divertiu na Grécia e só de olhar as fotos hoje eu fico feliz de novo.

A verdade, meu pai, é que são cinco anos separando o meu último mochilão deste novo. Muita coisa mudou: finalmente eu arrumei um emprego de verdade, não mudo de número de celular há mais de cinco anos e, pela primeira vez na vida, estou saindo da minha casa para ir pro aeroporto com uma mochila sem a minha Polaroid, já que pararam de fabricar o filme. Mas a verdade mesmo é que neste momento em que a vida adulta chegou, mas eu ainda a posso deixar esperando na porta, eu queria tirar umas dúvidas. E, para isso, nada melhor do que voltar ser a velha Ivy que te ensinava geografia quando ligava de Viena a cobrar e que você apostou que não iria se aquietar no Brasil. Pois bem aquietei, mas as saudades do mundo bateram tão forte que não me sobrou alternativa a não ser para ele voltar. Mas meu pai, agora é sério: tem momentos na vida, como este aliás, que eu preciso de respostas. E nestas horas, só mesmo a estrada para me ajudar. Porque, pelo menos para mim, the road never lies.

See you in 2010,

Beijo grande,

Ivy

*Ao contrário do que o povo besta pensa, em Salvador a gente não fala Painho, chama de Meu Pai.

Este blog entra em recesso a partir de agora.

4 comentários:

Jules disse...

arrepiei.

Anônimo disse...

Nossa eu acho esse jeito de vida legal, ser livre, viajar, não se importa com datas e barreiras! Bom demais. Meu espirito livre e de cede de liberdade me deixa dizer q esse é uma otima maneira d eum natal diferente!

Anônimo disse...

Nossa eu acho esse jeito de vida legal, ser livre, viajar, não se importa com datas e barreiras! Bom demais. Meu espirito livre e de cede de liberdade me deixa dizer q esse é uma otima maneira d eum natal diferente!

Bibi disse...

MEU DEUS! Tô te falando! Essa proximidade do Natal te fez ainda melhor, porque essa tinta na tela está de arrepiar mesmo! Podia ter me chamado para ir com vc! A estrada me grita, mas me faço de surda por pura falta de companhia, porque a coragem de enfrentar a solidão me é por companhia!
Volta logo para me contar tudo. Mas em especial: seja feliz!