
Quando eu trabalhava na Rolling Stone, fiz uma matéria cujo título provisório era Rock de Batom (não lembro que título teve no final) cuja história se resumia no seguinte: depois do sucesso da Pitty, as gravadoras estavam procurando meninas gostosas, que de preferência soubessem cantar para vender mais discos. Foi a partir daí que inventaram bandas como a Lipstick, cujas integrantes eram quatro loiras.
Na época eu perguntei pro Rafael Ramos, aquele moleque do Baba Cósmica que virou executivo de gravadora, por que as mulheres eram minoria no rock, seja no palco ou fora dele. Ele sugeriu que eu fizesse uma tese de mestrado a respeito, já que o tema era interessante e que ele não sabia responder. A única coisa aproveitável que ele disse foi que o sucesso da Pitty inspirava meninas em todo o Brasil: se antes elas só podiam ouvir rock, agora elas poderiam fazer rock, já que a Pitty fazia.
Como a minha vida sempre foi o rock and roll, eu nunca entendi porque a maioria das minhas amigas gostavam de pop e afins. Enquanto eu ouvia Iron Maiden, minhas colegas de escola ouviam Shakira, Spice Girls e Backstreet Boys (nossa, os anos 90 foram mesmo a pior década ever). E eu não conseguia entender que graça as meninas viam naqueles meninos brancos, que dançavam em coreografias horrorosas e sem nenhum sex appeal, enquanto esta última é totalmente inerente aos rock stars.
Aqueles meninos brancos rebolando eram (são?) a coisa mais brochante que uma mulher pode achar. Enquanto isso, no meu planeta, os mocinhos com guitarras, baterias e baixos literalmente rocked my world. Não existia (existe?) nada mais sexy que um rockstar, pelo menos para mim. Enquanto as meninas babavam no Rick Martin (cada uma, né?) eu pensava como deveria ser maravilhoso transar com o Jimmy Page (quando ele era novo, claro).
Lembro de uma banda cover do Led Zeppelin que era formada só por meninas. A vocalista argumentou que aquele era a realização do sonho de todo homem. Segundo ela, todos os fãs que amavam o Led queriam transar ou com o John, ou com Jimmy, ou com o Robert ou com o John Paul, ou com todos juntos, mas era impossível porque eles eram heteros. E com elas cantando Kashimir, os fãs poderiam realizar seu sonho antigo, certo?
O fato é que em toda a música que existe no mundo, os rockstar literalmente rock. Se alguém aí disser que Victor e Leo são modelos de masculinidade, por favor, vá embora e não volte a este blog nunca mais. Aqueles Rodriginhos, Serginhos, Carlinhos, enfim, todos inhos que entoam hinos de corno (vulgo músicas de pagode) como o próprio nome sugerem são meros inhos. Cantores de ópera tamanho Pavarotti também estão longe de ganhar qualquer concurso de sedução. Em suma, rock stars rock, tanto que suas fãs ganharam um novo nome, groupies.
Isto tudo só para dizer que se arrependimento matasse eu já estaria morta e enterrada há sete palmos da terra desde que, graças ao meu primo, me dei conta de que perdi a excelente oportunidade de dar para um legítimo rockstar. Pior: além de não ter dado para um legítimo rockstar, eu dei para outro idiota.
God, how stupid I am.
Nilton, even if you made me feel the stupid girl in this world, I still love you so much!