segunda-feira, 28 de abril de 2008

Oceano

Sou que nem Vasco, Lisboa é meu porto. A TAP me leva e me tira a alegria, mas agradeço a Santos Dummont pela graça atendida. 


Eu odeio aeroportos. Não como odeio shopping center, que é um ódio derivado da raiva, de não gostar daquela multidão que os lota todos sábados à tarde. Eu odeio aeroportos pelas lembranças que eles têm da minha vida. Dois, deles, melhor dizendo: o de Guarulhos, com aquele nada mais que nada em volta, e o de Salvador, este sim, com um lindo bambuzal e com uma das frases que me norteiam: "Adeus, não. Até breve". Aeroporto significa o adeus, o longe, o ver de novo sabe-se lá quando. Significa ficar longe do pai ou da mãe. 

A vida inteira aeroporto foi isso para mim e achava que as lágrimas que nesses lugares eu costumava derrubar já eram passado. Estava enganada, a gente nunca se acostuma com a dor e as saudades. E nos dias em que ela se torna tão visível quanto nos das despedidas em aeroportos, fica insuportável. 

Aeroporto significa separação, mas também reencontro. Mas a alegria deste é incomparável a dor do primeiro porque na separação o prazo é indeterminado, no reencontro é diluída aos poucos. 

Já tem uma vida que minha vida é assim, então nunca me questionei de nada. Mas hoje, pela primeira vez, me perguntei que sina era essa a minha, de ter pais separados. Pais separados todo mundo tem, mas assim tão longe... O que me conforta, é saber que não sou a única. Vim com uma carioca, que deixou filho, neta e nora na Suíça. Achei engraçado porque eu deixei minha mãe, ela o filho mas a dor era a mesma. Dor de saudades. 

Fiquei me perguntando quantas famílias eram assim, separadas por oceanos. E me dei conta que elas são necessárias, é tal globalização. A gente precisa de uma brasileira em Genève para mostrar para os gringos o que é uma feijoada, a gente precisa de um suíço para inventar fondue em Garanhuns. O que seria de Carlos sem a Fräulein Elza? Do Stand Center sem os coreanos? Bem que o mundo poderia ser ainda uma pangea, para gente não ter que ser separar. Mas não é, tinha que ter o mar, para nos separar! Me conforta pensar que mesmo se fosse ainda um continente só, o homem iria se mudar, é da natureza dele. O oceano só fez botar a pulga atrás da orelha do Américo, do Cristovão, de tantos e tantos, que pagaram para ver, tiveram a curiosidade em desvendar aqueles mistérios todos. E deve ser por isso que o oceano é salgado, pelas lágrimas de quem foi e quem ficou. Oh, Portugal!


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