sexta-feira, 7 de março de 2008

Procura-se meliante que rouba queijo brie





Recompensa: matar minha curiosidade






Uma das coisas mais interessantes da PUC não é aprender aquele monte de leis e estudar processo civil. Naquelas aulas, sempre entendo que o mundo pensa diferente. Ou que certas classes (advogados, por exemplo), pensam da mesma maneira. De vez em quando, os professores (principalmente os preguiçosos, que não gostam de dar aula e ficam enrolando) colocam a gente para fazer um debate. Até hoje não esqueço de um (aliás, acho que nunca vou esquecer), quando, há dois anos, nós discutimos sobre o caso da mulher que foi presa por roubar um pote de manteiga (depois falamos da que roubou uma melância, no Pará, eu acho).

As opiniões a favor de soltar a mulher foram mínimas; na minha sala, o coro foi de que a ladra teria que ser presa mesmo, já que estava codificado que quem rouba ou furta ou assalta, vai preso. A conversa foi para que aquele era um crime de bagatela e ela não merecia - nem valia a pena gastar tanto em prendê-la- por tão pouco. Esta foi uma discussão no mesmo nível das eleições, quando a minha professora de direito público, Weida Zancaner, falou que apoiava o Lula porque a vida dos pobres havia melhorado. Uma menina disse que ela iria votar no Alckimim porque ele era cria do Fernando Henrique, que tinha privatizado tudo e por isso nós tínhamos celulares. A única coisa que consegui dizer que se fosse por isso, eu preferia ter a TELESP de volta, porque além de me cobrar menos, eu não era incomodada com tanto desrespeito que estas companhias telefônicas têm. Saí da sala, fui beber água e ler na biblioteca.

Comentei isso com uma pessoa, que deu risada do caso. Ela disse: "Eu conheço um cara que rouba o queijo brie, do Carrefour, ainda por cima, para não dar lucro para uma empresa estrangeira. Ele tem dinheiro para comprar todos os queijos brie do mundo, mas não o faz porque acha um absurdo pagar 10 reais por um pedaço. Por que você não leva este tema para sua sala discutir?". Eu fiquei tão chocada, mas tão chocada, que ao invés de beber água, eu bebi mesmo, cerveja (estávamos num bar). Não consegui nem formar uma opinião sobre um cara que rouba queijo brie no Carrefour!

Até então, a imagem que eu tinha do queijo brie era engraçada por causa de uma cena do filme "10 Coisas que eu odeio em você". O riso deu lugar à indignação. A indignação deu lugar à curiosidade: por que, afinal, o tal cidadão roubava o queijo brie? Passei a falar deste asusnto com todo mundo, em busca de respostas. A melhor foi quando estava de gaiata em um evento (vida de repórter) e fiquei batendo papo com uma gerente da livraria Saraiva e seu subordinado. Ela me contou que tinha gente que perguntava para ela qual livro deveria ler para impressionar os amigos. E tinha gente que ganhava um vale livro e pedia para trocar por um ursinho de pelúcia (e ainda reclamava com a falta de bichinhos no setor infantil) e que, ainda, tinha gente que perguntava qual era a lista dos mais 10 vendidos da VEJA para comprar. Tudo isso para me dizer, que na opinião dela, a sociedade era fútil, por isso o cara roubava o queijo brie. E que da mesma forma que tinha gente querendo ler o que os outros queriam que lessem, tinha gente que roubava queijo brie por isso. Ela tinha trabalhado no Pão de Açúcar de Alphaville e viu várias pessoas muito ricas roubando queijos, fois-gras, estas coisas de rico.

Ainda não entendi porque este menino ou estes ricos roubam queijo brie. A teoria da gerente é que eles eram gaiatos como nós, íam em eventos, experimentavam o queijo brie e ficavam com vontade de comer em casa. Como não tinham dinheiro, roubavam. MAS O MENINO QUE ROUBA QUEIJO BRIE NO CARREFOU TEM DINHEIRO PARA COMPRAR TODOS OS QUEIJOS BRIE DO MUNDO! E ROUBA!

E mesmo dois anos depois, não sei porque alguém rouba queijo brie. Se você souber, por favor, me diga.

Um comentário:

Karina disse...

Roubar o queijo brie é uma forma de protesto de um cara que não tem coragem de protestar de outra forma... Não é a questão do dinheiro, ele rouba pq não se conforma com o preço... Mas me parece um tipo meio inútil de boicote à empresa estrangeira, já que ele compra diversos outros produtos (aposto!) de outras diversas. Mas, pelo menos, ele é um cara rico que ainda tem senso de valor do dinheiro. Não me conformo com celebridades que compram brincos de mil reais só pelo fato de terem mil para comprar, entende? Elas poderiam adquirir o mesmo por, no máximo, 50! O valor da marca é muito superior ao do produto... Enfim, isso é discussão para hoooooooras...