quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
José e Zilda
Já virou ditado popular, uma máxima que norteia a minha vida: os amigos são a família que a gente escolhe. São os amigos que estão do nosso lado o tempo todo, muitas vezes mais do que a nossa família. Amigos são importantes, são nossos olhos quando não conseguimos ver, nossos ouvidos quando não estamos em condição de ouvir. Quando estamos profundamente abalados, quem é que sempre socorre as pontas? Nossos amigos.
Hoje era um dia bem comum, pelo menos era isso que eu pensava enquanto caminhava para a redação. Iria fazer pauta de emprego às 11h, seria tudo tranquilo. Seria. Terremoto. Haiti, eu aqui e daí? Muito e aí, os brasileiros estavam lá. E a Zilda Arns também. Agora, estava morta. Muitos telefonemas depois e o aviso de pauta: o governador assinaria qualquer coisa no palácio. "Vai lá falar com ele, pergunta da Zilda Arns". José Serra e Zilda Arns? E daí? "Eles são amigos, trabalharam juntos, blablabla".
Ai meu Deus, que dilema! Vou chegar pro José Serra e perguntar o quê? "Pergunte assim: 'Como o senhor avalia esta perda para o Brasil?' Ele é político, está acostumado com isso, vai falar direitinho, ela deve estar louco para falar, sabe como é, politicos. Difícil é entrevistar família, isso sim'.
Lá fui eu. E pensando: aff, e se ele não tiver sido amigo dela porra nenhuma e não estiver nem aí? Ai meu Deus! Em 45 minutos, Serra chega. Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Eu vou ter que perguntar mesmo, ai meu Deus! Felizmente, Serra começa a falar. "Tem um tema que nos comove hoje e nos comoverá..." Ai que bom, ele vai falar, não vou nem precisar perguntar! E Serra continua a falar.
Cubro esta vida louca de meu Deus em São Paulo há quase dois anos. Não bato ponto no palácio, mas estou acostumada com Serra, com o jeito que ele fala, a gente se acostuma. Em meio ao discurso, uma pausa mais longa do que o normal. A voz voltou um pouco embargada. Mais uma continuação falando da doutora Zilda. A voz dele parou de novo. As meninas se levantaram para ver: ele estaria chorando? Não levantei- pelo seu tom, senti que ele realmente estava emocionado. Mais uma frase e a voz para de novo, agora de vez. E retorna mudando completamente de assunto, numa clara tentativa de brecar a dor.
Ali não era mais o Serra falando da doutora Arns, era apenas o José falando da Zilda. Felizmente, nesta vida nunca perdi nenhum amigo para a morte. Mas ali, ao ouvir o José discursando, tive duas certezas: a primeira é que deve ser muito difícil perder quem se ama, não importa o título.
Ah, e a segunda? Que difícil é entrevistar gente.
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Um comentário:
Puxa, Ivy, há pouco tempo passei por uma situação parecida, com o mesmo José Serra (até coloquei no meu blog...). Fui fotografar o acidente no rodoanel. E, no meio daquele monte de destroços, veículos capotados e uma multidão de curiosos e repórteres, ele me pareceu tão vulnerável! Eu, que nunca me simpatizei com ele, percebi o José, por trás do governador, consternado com a destruição a volta. Às vezes a gente esquece disto...
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