quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aos cuidados de Ernesto

Pois é Ernesto, a festa acabou. Pensei em tantas maneiras de começar esta carta porque eu tenho muito para lhe falar. Infelizmente, como não há nada de bom para dizer, enrolei para começar. E vi que não tinha nada melhor do que "a festa acabou" assim você não começa a ler pensando que é uma coisa e na verdade, é outra.

A verdade Ernesto, é que os bons ares de lá não estão mais tão bons assim. Ou pelo menos, não tão bem quanto eu pensava. Cheguei naquele local que um dia foi um antigo porto procurando pela Europa. Borges era apaixonado por Genève, tanto que ele escolheu lá para morrer. Demorei para entender sua paixão por Genève até o dia que fui à Recoleta e vi aquelas ruas arborizadas, aquela graça, cervejas em elegantes taças, tal e qual em Genève. O Puerto Madeiro não deve a nada a um dos nossos Quais. Mas é só isso mesmo que vi de Europa.

Vi, ali mesmo na Recoleta, no famoso cemitério que atrai turistas do mundo inteiro, nossos hermanos bolivianos e colombianos reformando as lápides e outras mansões fúnebres. Sim, Ernesto, nossos irmãos, aqueles que têm em suas veias abertas o mesmo sangue da América Latina hoje são os funcionários de seus hermanos. É algo como nos Estados Unidos, onde a América do Sul nada mais é do que exportador de mão de obra, com a diferença que sim, nós estamos na América do Sul. E nossos vizinhos nada mais são do que faxineiros, copeiros, pedreiros, enfim, aqueles que fazem o serviço mais básico.

Foi ali naquela cidade que eu achava tão rica, no país que tem um dos maiores PIBs per capita do continente que encontrei, pasme Ernesto, crianças nas ruas. Os chicos, ou niños, como vocês chamam, ali, pedindo esmolas. Nisso, tenho que admitir, vocês são mais democráticos: há loirinhos, com a pele bem branquinha, são típicos Olivers Twists junto com a versão infantil dos mesmos que estavam no cemitério, os bolivianos, paraguaios, colombianos, todos pedindo dinheiro para comer.

Pois é, Ernesto, a igualdade por qual você tanto lutou, a união do continente que você tanto defendeu não funciona nas ruas de sua capital. Talvez existam em acordos malgrados entre os diplomatas, que assinaram qualquer coisa depois de muitas taças de vinho. Mas, ali, de bom mesmo, Buenos Aires não tem nada, pelo menos no que diz respeito à pobreza e a dignidade.

Mas o que mais me espantou, Ernesto, foi ver aquele seu velho retrato não apenas nas paredes de bares de La Boca e sim em todas as lojas de souvenirs. Pois é, Ernesto, hoje você alimenta, em seu próprio país, o sistema que um dia você tanto criticou. Vi sua imagem em ímãs de geladeira, bottons, cartões postais, canecas e até cuecas. Como lhe disse, Ernesto, a festa acabou. Sinto muito em lhe escrever esta carta, endereçada à eternidade, apenas para contar isso. Mas acho sinceramente que você deveria saber do que estamos fazendo com nossa América enquanto você faz não sei o quê ai no céu.

Minhas ternas e sempre eternas saudações,

Ivy

Ortografia

Cena 1. Int. Dia. Pauta na Sabesp. Recepcionista pede os documentos para que IVY possa adentrar no recinto com sua equipe para fazer a matéria.

RECEPCIONISTA: E de onde vocês são mesmo?

IVY: Da TV Brasil.

RECEPCIONISTA: Brasil é com Z ou com S?

IVY: Sua pergunta é séria?

RECEPCIONISTA: É. É com Z ou com S?

IVY: Com S. De zebra.

RECEPCIONISTA fica completamente sem graça enquanto IVY pensa se a ortografia do nome do país foi alterada e ninguém lhe contou ou por quê tem que ouvir este tipo de pergunta às 10h da manhã. Fade out.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Embaixo dos cachecóis e do seu cabelo

Cena 1. Int. Dia. IVY está chegando na redação para mais um dia de trabalho falando ao telefone com o ANALISTA DE REPÓRTER.

IVY: Eu preciso desligar agora porque eu acabei de chegar na redação e tenho que trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Ah, pára com isso, fala mais comigo! Você tá na redação mesmo, você não trabalha em um lugar sério.

IVY: Como? Eu preciso trabalhar, agora é a minha vez de trabalhar, você já trabalhou.

ANALISTA DE REPÓRTER: Coloca um cachecol rosa no pescoço e continua falando comigo que ninguém vai reparar que você tá falando comigo. Todo mundo só vai olhar pro seu cachecol e ficar comentando.

IVY: Como? Cachecol rosa, de onde você tirou isso?

ANALISTA DE REPÓRTER: Não tem aquele filme lá, que a menina compra demais? Então, ela tem um cachecol verde. Usa um cachecol rosa e continua falando comigo que ninguém vai reparar.

IVY: É mais fácil eu desligar o telefone, não?

ANALISTA DE REPÓRTER: Não, fica falando comigo. Se você chegar com o cachecol rosa, todo mundo vai reparar no seu cachecol. Primeiro vão falar que é cafona, que não combina com a roupa, depois vão falar que você levou uma chupada no pescoço: lembre-se, jornalista faz voto de pobreza e de obediência, não de castidade. Com o cachecol rosa, vão ficar falando que você é uma vadia, outros vão dizer tem que dar mesmo e neste meio tempo você vai continuar falando comigo e ninguém vai reparar que você está falando comigo.

IVY (rindo): Me deixa trabalhar?

ANALISTA DE REPÓRTER: Você só ta rindo porque sabe que tudo isso que eu tô falando é verdade. Em redação não existe razão, se existisse seria uma sala de contabilidade.

IVY (rindo mais ainda): Pára com isso, eu preciso desligar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Viu, e você ainda continua falando comigo e ninguém reparou! Te digo, eu que to bem longe sei exatamente o que está acontecendo na sua redação não tô?

IVY: Tá.

ANALISTA DE REPÓRTER: Isso porque eu cresci em uma redação e trabalho com duas. E redações são todas iguais.

IVY: A sua brilhante teoria deu quase uma hora de conversa- na redação.

ANALISTA DE REPÓRTER: Não falei? Funciona!

IVY: Deixa eu desligar, por favor? Eu realmente preciso trabalhar. Mas posso publicar isso tudo?

ANALISTA DE REPÓRTER: Pode. Tá, vai, eu deixo. Volta lá para conversar com seu CHEFE 1 e com o CHEFE 2. Um beijo.

IVY: Um beijo, tchau.

IVY desliga aliviada e pega a pauta do dia. Cinco minutos depois o telefone toca novamente. É o ANALISTA DE REPÓRTER.

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Eu tenho outra idéia para você continuar falando comigo sem ninguém reparar: chega com um livro em uma língua que ninguém fala, tipo japonês ou russo, que todo mundo vai comentar do livro.

IVY (rindo): Você vai me deixar trabalhar?

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Ou entra com uma Bíblia. Todo mundo vai falar da Bíblia: por que você está com uma Bíblia? O que você quer dizer entrando com a Bíblia? Se você está lendo a Bíblia? Se você virou crente? E enquanto isso você fica falando comigo!

IVY (rindo): São 9h da manhã e eu preciso apurar, me deixa trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): No outro dia você chega com um livro de capa vermelha escrito O Capital. Vão te excomungar na mesma hora. E você vai continuar falando comigo- e ninguém vai reparar.

IVY (rindo): Pára, eu tenho três pautas para hoje!

ANALISTA DE REPÓRTER (sério): Tá bom, vai, eu deixo.

IVY (rindo): Posso publicar mesmo? Como você quer o seu crédito?

ANALISTA DE REPÓRTER: Dá o de sempre, que eu cresci numa redação, trabalho com duas e redações e...

IVY (interrompendo, rindo): E hoje atura uma repórter?

ANALISTA DE REPÓRTER: E ainda analiso. Deveria ser pago para isso. Não tem gente que se especializa em tratar bicho? Eu deveria me especializar em analisar repórter. Meus serviços até que seriam úteis, porque se os repórteres pararem para pensar e...(silêncio). Pensando bem, repórter não pensa. Se repórter pensasse enquanto escreve, meu Deus, seria o caos.

IVY (rindo ainda mais): São 1h38 minutos de conversa, pronto, falei demais com você, me deixa trabalhar.

ANALISTA DE REPÓRTER: Chega com o cachecol amanhã? Aí a gente bate este recorde.

CHEFE 1 já está olhando, IVY está completamente sem graça e ANALISTA DE REPÓRTER está feliz porque conseguiu o que queria: a conversa durou 1h47... Fade out.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sabedoria de MSN

Os melhores nicks de hoje são:

"Homem feio é que nem pantufa: em casa é gostosinho, mas na rua dá uma vergonha..."

"Beleza: o que Deus não dá a farmácia vende- e sem receita."

Teste do sofá?

"Faltou dizer que se tiver um sofá, a redação terá que por alguém para distribuir senha. Porque jornalista que é jornalista é comunista então todos terão direito. E se tiver dois sofás já vira um estúdio de criação de publicidade-com direito a mesa de sinuca e um monte de redes."

Do mesmo intelecutor que realmente tem propriedade para falar do assunto.

Opções

- Mas é que na minha redação não tem sofá para sentar e tomar um café depois do almoço.
- Claro que não, redação não tem que ter sofá senão o povo dorme.
- Claro que tem que ter! Não é para dormir, é só para dar uma relaxada.
- Ivy, você já pegou aqueles caderninhos de inscrição de vestibular na mão não já?
- Já.
- Quantos cursos tinham lá?
- Sei lá, um monte.
- Então são bem mais de 100. Se você tinha tanta opção, ninguém mandou escolher o curso errado. Agora não reclama mais que a sua redação não tem sofá tá?
- Posso por isso no meu blog? Eu dou o crédito.
- Pode.

O interlecutor é o mesmo que cresceu em uma redação e hoje trabalha com duas... Tipo, o cara tem propriedade para falar do lindo mundo do jornalismo...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Encanto?



"Eu não quero um príncipe encantado que venha montado em um cavalo branco com uma lança para me resgatar das agruras desse mundo. Quero um homem de coragem que venha montado na disposição e que chegue desarmado para me resgatar de mim mesma"

O ano mal começou, mas já temos uma aspas sensacional que dificilmente será tirada do pódio das melhores. A autora não poderia ser ninguém menos do que a Bia Amorim, a Bibi de Bicicleta (viu como é fácil dar o devido crédito?). A frase da Bia ficou na minha cabeça o tempo todo, junto com uma matéria que eu li na Marie Claire que dizia basicamente o seguinte: desencane do príncipe encantado e viva feliz com os sapos que se tem.

Na teoria, isso é tudo muito fácil, mas quem disse que a gente consegue desencanar da história de achar o tal do príncipe? Entre uma pauta e outra, descobri algo revelador e extremamente bombástico: devemos desencanar do príncipe encantado porque ele simplesmente não existe. "Jura, Ivy, fala sério que só agora você descobriu isso?" vocês devem estar se perguntando. Pois é, só agora (antes tarde do que nunca) é que eu me dei conta porquê eles não existem: eles simplesmente não fazem idéia do que é ser um príncipe.

Sim, isso mesmo! Enquanto nós crescemos lendo e ouvindo as histórias que terminavam sempre com "felizes para sempre" e decoramos todas as peripécias que os príncipes faziam, os meninos estavam lá brincando de Comandos em ação, ou jogando bola ou assistindo o He-Man, que vamos e convenhamos, não tinha o menor jeito com as mulheres. O fato é que se nós sonhamos com mocinhos lindos que nos salvem da bruxa malvada, eles não têm a menor consciência do que seja uma bruxa e de como nos salvar dela.

Escalar torres? Usar espada? Matar dragões? Dar um belo beijo na princesa? Os moleques nunca tiveram a menor noção de que isso existia. Então, como hoje podemos cobrar isso deles? Ou pior, procurar isso na vida real?

Claro que há uma diferença bem básica entre um príncipe encantado e um gentleman: enquanto o príncipe é encantado, o gentleman é educado e é isso o que a gente tem que procurar, tipo o rapazinho da Folha, que dá lugar pras meninas sentarem, abre a porta do carro e faz todos as coisas do gênero (pelo menos eu acho que faz). Estas qualidades, aliás, são bem mais palpáveis do que quebrar um feitiço com um beijo né?

E vamos falar a verdade também? A gente procura um príncipe encantado, mas nós não somos nenhumas princesas- eu pelo menos não sou, até porque acho a vida de princesa um saco. Pelo que me consta, não existe uma história com uma princesa destrambelhada, que não sabe bordar, odeia serviços domésticos e ainda seja boazinha com as irmãs malas e que nunca conviveu com anoezinhos, como é o meu caso. Então, se não somos assim tão encantadas, para que mesmo que queremos um príncipe? Bia, to contigo e não abro: quero um homem desarmado de traumas e conversas furadas tipo "eu não sou bom o suficiente" ou "eu não consigo me envolver". Só me arrisco a acrescentar algumas coisas neste pedido (sim, são exigências): que o cara seja hetero e que saiba desbloquear o DVD, porque aff, ninguém merece deixar de ver os DVDs importados só porque o aparelho não roda.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Direitos e Deveres



Avenida Paulista, São Paulo, Brasil

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fuso horário



Gente!!!!!!!Olha que incrível: o Vale a pena ver de novo mudou de horário:

Máquina zero
Exclusivo: Gisela Reimann raspa o cabelo para gravar cena

"Para dar mais autenticidade ao drama de Marta, personagem que na novela sofre de câncer e faz um pesado tratamento de quimioterapia, Gisela Reimann recebeu a incumbência de raspar a cabeça. Enquanto assimilava a notícia, a atriz era preparada para gravar a próxima cena que já a mostraria totalmente sem cabelo. Com exclusividade, a gente acompanhou passo a passo o trabalho dos profissionais de maquiagem e caracterização, e captou a reação de Gisela vendo-se no espelho e despedindo-se de suas belas madeixas."

Tirado do site da novela Viver a Vida. Acho que realmente a gente deveria mudar a expressão "Eu já vi este filme" para "Eu já vi esta novela".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Chá de cadeira

Cena 1. int. Noite. Depois de uma discussão com o bofe, IVY senta na poltrona na casa da AMIGA e continua a falar, a falar, falar... do bofe, claro.

AMIGA: Você tá muito nervosa, peraí que vou lá na cozinha preparar um chá. Assim você descansa um pouco a língua.

IVY (ela nunca para de falar normalmente, quando o assunto é homem então...). Tá, tá bom e você nem imagina que ele não me ligou e depois ligou como se nada tivesse acontecido (falando em voz alta para a AMIGA ouvir da cozinha).

AMIGA volta com a xícara e entrega para IVY, que finalmente para de falar para beber o chá.

IVY: Que é isso?! Isso não é chá de camomila.

AMIGA: Claro que não, queridona. Chá de camomila já era quando a gente precisa se acalmar por causa de homem. Nestes casos, a gente tem que tomar chá verde, que desintoxica, deixa a pele linda e a gente fica ainda mais magra e bonita. Não é você mesma que diz para gente deixar as outras mais feias ficando mais bonita?

IVY: Eu te falei que o chá verde também é ótimo para branquear os dentes? Se você tomar uma xícara depois das refeições seu sorriso fica lindo! Mas você já ouviu falar também do chá vermelho? Menina, é excelente para liberar as toxinas e os cientistas estão vendo também seus benefícios para os cabelos e as unhas e...

O assunto continua no chá vermelho, depois passa para a nova coleção de esmaltes e ruma para a temporada de liquidações.

Cena 2. Int. Carro. Noite. No caminho de volta, IVY vem dirigindo e pensando.

IVY: Será que o chá verde agora é usado para acalmar mulheres com ex que não ligam por causa dos benefícios reais para beleza ou por que faz a gente mudar de assunto?

IVY entra na garagem, se preocupa com a baliza e esquece o assunto. Fade out.

Homônimos

Cena 1. Int. Redação. Final de expediente. IVY já apurou a matéria todinha, porém falta ouvir o outro lado, fundamental para a matéria.

CHEFE: Vai para casa e espera o cara ligar, depois você coloca isso na matéria e manda tudo no final, não precisa ficar aqui esperando.

IVY: Obrigada, to indo.

Cena 2. Int. Casa da IVY. Quase noite. AMIGA chega e o papo é sobre as histórias correntes sobre os homens da vida de cada uma. AMIGA descreve a história dela, IVY conta a dela também.

AMIGA: O que, este cara falou isso? Nossa, você nunca mais na sua vida vai falar com ele ou eu te bato. Se eu ver você falando com o Felipe* eu te mato, você me entendeu? Te mato! E mato ele também!

IVY: Eu não quero nem mais papo com ele, aff, passou.

Enquanto as duas conversam, toca o telefone de IVY. O número é desconhecido. IVY atende o telefone e espera uns segundos para falar.

IVY: Ah, oi Felipe...

A AMIGA fica paralisada e faz cara de ódio. Numa reação inesperada, tenta tomar o telefone de IVY enquanto começa a gritar. IVY fica mais desesperada ainda e tenta se desvencilhar da AMIGA maluca.

AMIGA: Eu vou falar um monte para este desgraçado e...

IVY (falando ao telefone, se afastando da AMIGA): Não, eu posso falar sim, é que eu acabei de sair de uma pauta em um hospício e tem uma louca gritando. Por favor, Felipe, você, como presidente da sua entidade, pode me explicar como estes novos fatos vão alterar a rotina dos cidadãos?

AMIGA congela: ela pensava que, do outro lado da linha, estava o Felipe bofe, não imagina que o Felipe em questão era... a fonte que faltava para o outro lado da matéria! Câmera mostra IVY ao telefone enquanto toma notas e a AMIGA completamente sem graça. IVY desliga o telefone e olha para AMIGA:

IVY: Pode desafazer esta cara, o entrevistado nem desconfiou do que se tratava.

AMIGA: Meu, mil desculpas, que vergonha, ele é sua fonte usual?

IVY: Então, falo com ele às vezes, meio que é.

AMIGA: Meu, mas se coloca no meu lugar, como é que eu ia saber que o cara era fonte? Quem mandou ele chamar Felipe?

IVY: Ah, antes que eu me esqueça... o meu irmão também chama Felipe, se ele ligar, por gentileza não surte.

AMIGA: Putz, é mesmo! Não, nunca mais, nunca mais.

IVY e AMIGA começam a rir de suas vidas enquanto IVY senta na frente do computador para completar a matéria. AMIGA vai para cozinha pegar água, fade out.

*O nome foi trocado para manter a identidade do entrevistado. E do bofe, claro.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

José e Zilda



Já virou ditado popular, uma máxima que norteia a minha vida: os amigos são a família que a gente escolhe. São os amigos que estão do nosso lado o tempo todo, muitas vezes mais do que a nossa família. Amigos são importantes, são nossos olhos quando não conseguimos ver, nossos ouvidos quando não estamos em condição de ouvir. Quando estamos profundamente abalados, quem é que sempre socorre as pontas? Nossos amigos.

Hoje era um dia bem comum, pelo menos era isso que eu pensava enquanto caminhava para a redação. Iria fazer pauta de emprego às 11h, seria tudo tranquilo. Seria. Terremoto. Haiti, eu aqui e daí? Muito e aí, os brasileiros estavam lá. E a Zilda Arns também. Agora, estava morta. Muitos telefonemas depois e o aviso de pauta: o governador assinaria qualquer coisa no palácio. "Vai lá falar com ele, pergunta da Zilda Arns". José Serra e Zilda Arns? E daí? "Eles são amigos, trabalharam juntos, blablabla".

Ai meu Deus, que dilema! Vou chegar pro José Serra e perguntar o quê? "Pergunte assim: 'Como o senhor avalia esta perda para o Brasil?' Ele é político, está acostumado com isso, vai falar direitinho, ela deve estar louco para falar, sabe como é, politicos. Difícil é entrevistar família, isso sim'.

Lá fui eu. E pensando: aff, e se ele não tiver sido amigo dela porra nenhuma e não estiver nem aí? Ai meu Deus! Em 45 minutos, Serra chega. Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Eu vou ter que perguntar mesmo, ai meu Deus! Felizmente, Serra começa a falar. "Tem um tema que nos comove hoje e nos comoverá..." Ai que bom, ele vai falar, não vou nem precisar perguntar! E Serra continua a falar.

Cubro esta vida louca de meu Deus em São Paulo há quase dois anos. Não bato ponto no palácio, mas estou acostumada com Serra, com o jeito que ele fala, a gente se acostuma. Em meio ao discurso, uma pausa mais longa do que o normal. A voz voltou um pouco embargada. Mais uma continuação falando da doutora Zilda. A voz dele parou de novo. As meninas se levantaram para ver: ele estaria chorando? Não levantei- pelo seu tom, senti que ele realmente estava emocionado. Mais uma frase e a voz para de novo, agora de vez. E retorna mudando completamente de assunto, numa clara tentativa de brecar a dor.

Ali não era mais o Serra falando da doutora Arns, era apenas o José falando da Zilda. Felizmente, nesta vida nunca perdi nenhum amigo para a morte. Mas ali, ao ouvir o José discursando, tive duas certezas: a primeira é que deve ser muito difícil perder quem se ama, não importa o título.

Ah, e a segunda? Que difícil é entrevistar gente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tudo de novo



Esta é a Tathi Bione, a BBB que mais me chocou por lamentar em público que não recebia convites para posar nua. Tathi, eu também não recebo queridaaa, bem-vinda ao clube!

E hoje começa mais um BBB. Todos os sites só falam isso. Não abri os jornais, porque, bem, eu nunca mais comi salsicha ou li jornal depois que vi como são feitos. Por isso, já que a Globo faz sempre o mesmo programa eu decidi republicar aqui o mesmo post que escrevi em 10 de julho de 2008: além de nada ter mudado no programa, a minha opinião continua a mesma.

Vale a pena ler de novo- Movimento dos ex-BBBs

Já ouvi que a Grazi Massafera sofre(u) preconceito por ser ex-BBB. Que tem gente que faz cara feia para ela e qualquer outra pessoa que saiu do programa. Não tenho nada contra quem faz parte do programa, muito pelo contrário. Mas sei que tem gente que tem. Deve ser por estas e outras que os BBBs se apoiam tanto, mesmo os que não tenham morado juntos, como a Fani Pacheco e a Natalia Cassassola, que hoje são melhores amigas nesta vida pós casa.

Daqui a pouco, não vou me espantar se os ex-participantes fizerem um movimento de ex-BBBs. Seriam liderados pela Grazi, claro. Iris Stefanelli poderia ser a vice-presidente. O que eles fariam? Abaixo-assinados para serem reconhecidos como artistas pelo sindicato dos Atores do Rio, eventos públicos com o objetivo de sairem nas revistas, sopão para os fotógrafos que dão plantão à noite na porta da casa da Carolina Dieckmann, assim sairiam bem na fita, ou melhor, só de sair já está bom. Ah, e claro, lançariam uma campanha publicitária para comover os editores de revistas de mulher pelada a convidarem a Thati Bione para posar nua, já que ela se lamenta piamente por não ter sido chamada para tirar a roupa.

Cada ex-BBB pagaria uma taxa de manutenção da entidade, que também prestaria serviços sociais aos BBBs menos populares. Serviços? Que tipo de serviços eles precisam, se é que precisam de alguma coisa? Claro que precisam! A ONG (Organização Não Global) ofereceria terapia para aprender a lidar com a falta de fama (o psiquiatra Marcelo cuidaria deste departamento), academia para manter o corpo e assim aumentar as chances de tirar a roupa para a Playboy, serviços jurídicos (aquela Pocahontas do BBB7 ficaria com esta missão), faria assessoria de imprensa(teve a Cris, jornalista da primeira edição, que poderia tomar conta deste departamento. Este serviço só seria utlizado na época de edição nova, quando todos se perguntam por onde eles andam), além, claro de reuniões de turma(já são oito!), atualização dos álbuns de fotos(acho que teve um fotógrafo). Aquela webdesigner Stella (uma feioza da primeira edição) cuidaria do site, a Cida (que ganhou uma edição, não sei qual) faria a comida do povo, o Bambam, a segurança (acho que só para isso ele prestaria).

Ah e os BBBs mais abastados poderiam doar suas roupas para bazares em prol dos ex-BBBs sem fama, além de sempre falar da associação durante suas entrevistas e procurar recolocações profissionais no mercado de trabalho do Projac e afins. E, tal e qual tem aquela associação no terminal Tietê para ajudar os migrantes que acabam de chegar do Nordeste, esta linda entidade beneficente estaria de braços abertos e ofereceria todo o seu apoio para recepcionar aqueles que acabam de sair do Paredão (afinal, a experiência deve ser mesmo muito traumática).

Só falta uma coisa: o nome. Pensei no Movimento dos Sem Casa, já que foram eliminados da casa da Globo, mas poderiam ser confundidos com os participantes da Casa dos Artistas. Aceito sugestões.

P.S.: Este post nasceu depois de ler sobre o aniversário da Natalia Cassarola.

P.S.2: Acho que outro objetivo desta ONG deve ser reconhecer ex-BBB como profissão no Ministério do Trabalho. Já reparou que toda matéria diz assim "o ex-BBB fulano de tal" como se isso fosse profissão. Nunca li nada do gênero "o comerciante beltrano, que participou da X edição do BBB..."

Viva a natureza?




Buenos Aires, Argentina

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Surto

Cena 1. Int. Redação. Dia.

CHEFE 1 e CHEFE 2 estão fazendo reunião de pauta no começo da manhã para decidir os assuntos do dia. IVY não participa da reunião porque não é chefe, mas escuta.

CHEFE 1: Então, hoje temos um surto de diarréia no Guarujá, mais de mil pessoas foram para o hospital com diarréia.

CHEFE 2: Como é de praxe, também estamos cobrindo o presidente, que está de férias no Guarujá.

Num canto da redação, IVY começa a pensar.

IVY (pensando, nuvens estão cercado seu delírio acima da cabeça): Mas o Lula estes dias tava andando na praia de sunga com aquele isopor na cabeça...ele é mó farofeiro...será que estas pautas aí não podem ser como o Pantene, dois em um? Meu Deus, já pensou a manchete? O presidente Lula, que passa férias no Guarujá, deu mais uma prova de sua popularidade e empatia com os populares: na manhã desta sexta-feira, Lula queixou-se para dona Marisa estar sofrendo de diarréia? Além de Lula, outras mil pessoas deram entrada no hospital esta manhã? Aff, que bizarro, tomara que isto não vire notícia e...

CHEFE 1 interrompe os delírios de Ivy, que estava completamente distraída.

CHEFE 1: Ivy, você conseguiu checar se a água vazou lá na zona leste?

IVY ("acordando" do delírio assustada): Ah sim e eu também vi que...

Câmera mostra CHEFE 1 chamando outra repórter enquanto IVY pega o telefone pela nona vez somente na manhã para checar mais uma informação com a fonte. Fade out.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Motu proprio

“Justiça com as próprias mãos? É muita justiça pra pouca mão!”
M.Rivolti, 61, brasileiro, é o mesmo autor desta aqui.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O trabalho enobrece o homem?



Buenos Aires, Argentina

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Carta para toda vida

A luz da lua cheia queimava a pele de Cristina: finalmente ela estava em chamas e nem a pouca chuva que caiu naquela noite de verão fez acalmar seus pensamentos e anseios. Olhando para o marido que deitava em sua cama, ela não conseguia fazer muita coisa a não ser se confundir ainda mais com tudo aquilo que vivia. Com o coração latente, pegou suas mãos e prendeu o cabelo em um coque, deixando sua nuca à mostra. Vestindo um pequeno pijama, ela simplesmente sentou-se à frente de sua máquina de escrever e com os dedos fortes começou:

"Sebastian,

Meu coração está cheio e as minhas mãos vazias. Olho para o céu e lembro de você. Só consigo entender minha vida, minha nova vida desde que você chegou nela, olhando pro céu e lembrando daquela noite quente e feliz de verão.
Não sei como dizer tudo isso o que tenho para dizer. Vou tentar dizendo apenas que o amor, este estranho amor que eu sinto por você, é diferente de tudo o que eu já senti. Você me fez entender no meu coração e sentir com o meu perdão o que significa algo que leio desde os 13 anos: 'Se tu diz que vem às quatro da tarde desde às três eu começo a ser feliz'. Porque era assim que eu me sentia quando começava às duas da tarde. Porque você chegava às três e o seu sorriso estaria lá para me iluminar.
Quando me lembro de tudo, de tudo o que vivemos em tão pouco tempo, entendo porque você é imprescindível: com você eu posso ser quem eu sou. Aliás, não é que eu posso ser, eu simplesmente sou. E você sabe disso. Você sabe que eu preciso desesperadamente de carinho e de atenção e de comida. Você sabe quando eu preciso de banho quente e torta frita. Você sabe me colocar no seu coração e me fazer especial. Você sabe que a distância me faz mal apenas com um olhar. Você sabe ser o lugar onde quero ir e a pessoa com que quero estar. Você sabe ser a pessoa que eu quero falar à meia noite porque simplesmente é. Não tem adjetivos, é simplesmente sentido. E eu só sei que você é a razão do meu afeto.
Sabe Sebastian, eu muito amei na vida. E muito amo. Amo meu marido de um jeito que só eu posso amá-lo, amo os meus filhos de um jeito que só eu sei amar. Amo os meus amigos. E amo também o meu cachorro. Assim como amo a minha família e como amo a vida e tudo que nela tem para ser vivida. Mas, de todos os meus amores, você é o que eu melhor sei amar. Dos amores que eu tive ou os que tenho, você é o melhor. Eu te trouxe para cá de outras vidas. Mas, in my life, I love you more.
Eu só quero te dizer que você é especial. Que neste mundo todo você pode ter uma certeza: que alguém lhe ama independente do que você ame. E isso é para sempre."


Cristina sentiu que o peso que estava no seu coração entrou todo em seus dedos: eles doiam de tanto datilografar. Mas ainda faltava uma coisa e, antes de deitar e beijar o marido, com a caneta Cristina adicionou:

"Para Sebastian, o melhor dos meus amores. Cristina, verano de 1972."

E só conseguiu ler esta carta aquele que muito amou.