Quando eu morava em Paris, fui visitar uma amiga minha em um dos pontos mais extremos da cidade. Era um lugar longe, muito longe, que não me lembro qual era. E nem era bonito, tinha muitos prédios, todos comerciais. Fiquei surpresa por ter encontrado um bairro à la Berrini em plena Paris, famosa por construções antigas, ruas de paralelepípedo. E fiquei feliz por ter descoberto mais aquele canto na cidade Luz.
Hoje me lembrei daquele passeio graças ao convite do Regis, amigo querido da faculdade, que me chamou para ver A Reserva, peça excelente da Marta Goes, com elenco encabeçado por irene Ravache. O teatro fica na Avenida do Café. Não sei o bairro, só que fica perto do metrô Conceição. Em resumo: era longe.
Convidei o Olavo, que recusou o convite exatamente por conta da distância. Chegando lá, Regis zombou da minha cara e quando disse que meu + 1 tinha me dispensado por causa da longura, ele falou que esta a desculpa mais comum que ouvia. Longe em São Paulo é totalmente relativo. Eu levei 30 minutos para chegar no teatro. Estacionei na rua sem nenhum menino, flanelinha ou qualquer guaridão das ruas me abordando pedindo dinheiro. E lá descobri um pedaço da cidade que não conhecia, mas que tinha um quê daquele canto inesperado de Paris.
Na volta, fiquei pensando no que Irene Ravache falou: "Por favor, divulguem o teatro". Como o Cosipa não fica no miolo dos Jardins, era meio que rejeitado, apesar de ter uma acústica incrível. Da última vez que fui ao Borboun, que é do lado de casa, eu levei 45 minutos para chegar (com os faróis e as ruas sem saída) e para encontrar uma vaga no estacionamento numa odisséia estressante. Quando que na rua Augusta eu acharia uma vaga assim de boa? E para atravessar a cidade num dia de domingo foi tão relaxante que nem me dei conta que me tomou meia hora da minha existência para assistir uma peça que valeu muito a pena.
Em tempos de Google, não tem desculpa não se achar. Com um clique eu peguei o mapa e descobri onde era a avenida do Café. No carro fiquei me perguntando porque a avenida era do Café, sendo que os barões do café moraram mesmo na Paulista. Pensei nas pesoas que moram naquele bairro, que parece ser tão interior, se a vida na zona sul é muito diferente da zona oeste. Como diz Regininha, "seria muito chato se eu soubesse tudo porque não teria espaço para a sua grande imaginação".
Achei bacana a iniciativa da Cosipa, de fazer um teatro naquela região, que levou entretenimento para aquele público.
Fiquei me perguntando porque as pessoas são como o Olavo, que tem medo da distância. Ou melhor, por que as pessoas tem tanto medo do desconhecido? Por que o terror em descobrir sua própria cidade? Em descobrir um novo caminho, saber os cantos da própria casa. O que eu mais gosto na vida é poder conhecer os lugares, saber onde fica a avenida do Café, que é só ir pela Pedro Bueno que eu caio nela. Acaba sendo mais um jeito de sentir São Paulo, de viver na metrópole. Viver de verdade.
domingo, 30 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário