terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O X da questão

Os Direitos Humanos, até então pensados como “caridade” ou “generosidade” fazem parte agora de um debate político em duas corridas eleitorais distintas daqui para frente.

No Brasil, num cantinho da cidade de São Paulo, uma região que até 30 anos atrás era nobre e hoje é chamada de “Crackolândia” tem sido mais do que um bairro com ação policial. De repente, a questão do tratamento dado aos dependentes químicos do crack passou a fazer parte do discurso do pré-candidato à Prefeitura da cidade pelo PT (Partido dos Trabalhadores), Fernando Haddad. Mesmo sem ter anunciado seu candidato, o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) também se manifestou a respeito do que pretende fazer na área. Até então abandonada, a “Crackolândia” agora entrou de vez no que será um programa de governo e as propostas para o local têm tudo para serem discutidas amplamente por ele e os demais proponentes ao cargo.

Em 2012, o debate político não se tratará apenas sobre questões econômicas, ambientais, educacionais: todo aquele que quiser entrar em campanha tem que estar preparado para falar sobre o direito de cada cidadão a ter uma condição básica e digna de vida. No caso da “Crackolândia”, o assunto não se restringe apenas sobre o tratamento ou não dos dependentes e sim o direito que todos têm de serem amparados pelo Estado Democrático de Direito como previsto na Constituição.


Mais pro lado de cima do trópico, os direitos humanos também ganham destaque nos debates. Lá, porém, a questão é a tortura. Usado como mote de campanha em 2008 pelo então candidato à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, o fechamento da prisão de Guantánamo, famosa pelas graves violações de direitos humanos e que em 2012 completa uma década de tortura institucionalizada, será sim usado pelos republicanos como mais uma das promessas que o democrata não honrou. Guantánamo não é, naturalmente, a maior preocupação dos americanos (que têm enfrentado a recessão e estou pensando em seus empregos) e não serão as diferentes propostas sobre o assunto que vão definir o curso das eleições. Mas que os candidatos terão que falar sobre isso- e Obama explicar por quê não fechou a prisão- a isso terão.

Enquanto em São Paulo a questão da violência e da tortura foi consequência do abandono pelo Estado, em Guantánamo as mazelas foram impostas pelo Estado, que, como aqui, se diz Democrático- e de Direito! O fato é que estes dois tristes enclaves e suas consequências nas vidas dos seres humanos que por eles passam finalmente agora faz parte de um sério contexto. Ver que as questões legítimas até então tidas como assistencialistas estão sendo pensadas, estudadas e aprofundadas, mesmo que de forma secundária ou terciária, é encorajador. Ver o debate ganhando consistência com argumentos sólidos já é uma grande vitória não apenas para os militantes dos direitos humanos de São Paulo ou dos Estados Unidos da América e sim de toda uma era pós-moderna que passa a pensar em um mundo melhor para todos.

Um comentário:

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
Gostei da cadência narrativa do teu texto .../